domingo, 3 de fevereiro de 2019

REFLEXÃO MATINAL XXIV: CONVERSA INTERIOR

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Passeia sozinho, conversa contigo mesmo”
(EPICTETUS, Diatribes, III, 14, 1)

Das obras “O Encheirídion” de Epicteto e as “Meditações” do imperador Marco Aurélio, tenho estudado a maneira de se conceber a filosofia como “exercício”, como fim a ser buscado para mudança interior de quem se aprofunde em reflexões filosóficas nessa chave de interpretação.

O Encherídion reúne pensamentos e máximas de Epicteto organizadas por Arriano, seu discípulo, com o objetivo de preparar o aprendiz de filósofo para uma vida filosófica orientada à prática. As Meditações (tá eís eautóv) de Marco Aurélio também são desse tipo; "exercícios espirituais" escritos, sobre certos temas que foram refletidos por Epicteto e que o Imperador usou para orientar-se na mudança interior à medida que a vida assim o exigisse.
Importante aqui, é tomar a ideia da prática de “exercícios espirituais” como esforço, disposição em se alcançar alguma coisa. Nesse caso, esforçar-se na aquisição de virtudes. Daí a ideia para esse texto nesta manhã, de caminhar pela vida, “passear sozinho” e enveredar por conversas íntimas; tarefa complexa e por vezes penosa, mas  a meta é buscada no sentido de aperfeiçoar corpo e a alma.

 "Para que suportemos mais facilmente e com mais zelo as penas que devemos enfrentar em vista da virtude e da perfeita honestidade, eis os raciocínios úteis que foram feitos. “A quantas penas alguns se submetem por causa dos seus maus desejos, como aqueles que amam sem freio, quantas penas outros suportam tendo em vista o ganho de dinheiro, quantos males alguns sofrem para conquistar reputação! E, no entanto, é voluntariamente que todas estas gentes suportam toda espécie de fadiga. Não é, pois, monstruoso que eles suportem tantos males por nada daquilo que é bom, e que nós não suportemos com solicitude e prontidão toda a fadiga pela perfeita honestidade, para evitar o vício que prejudica nossa vida, para adquirir a virtude que nos proporciona todos os bens?” (TÈLÈS et MUSONIUS, 1978).

Por trás dessa reflexão, considerando a noção de “exercícios espirituais” está a importância da filosofia como ascese (askesis) e conversão (metastrophé) em Epicteto e Marco Aurélio, que retomarei em texto com objetivos mais acadêmicos; aqui faço somente os esboços para reflexões posteriores.. 

______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

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LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

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SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

TÈLÈS et MUSONIUS. Prédications. Trad. A. J. Festugière, Paris, Vrin, 1978.

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