sábado, 17 de julho de 2021

A RELIGIÃO NOS LIMITES DA SIMPLES RAZÃO: PROSSEGUINDO COM OS TRABALHOS DESDE 2018 (II)

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"[...] longe da posição de Kant está a visão secularista que trata a religião com desprezo, considerando-a como nada mais que uma relíquia do passado ou um deplorável refúgio para os ignorantes e supersticiosos" (A. W., 2009)

Iniciando os trabalhos com mais uma releitura,  na "tônica dominante" das leituras de 2021. Hoje, acrescentando uma edição publicada por Ottfried Höffe. Nesta obra, já no prólogo à primeira edição sobre a "religião", Immanuel Kant delimita sua investigação: 

 "dos quatro tratados seguintes, para tornar manifesta a relação da religião com a natureza humana, a qual possui em parte disposições boas e em parte disposições más, eu represento a relação do bom e do mau princípio tal como de duas causas operantes por si subsistentes e que influem no homem". Seu objetivo apresentar a relação da religião com a natureza humana. 

Importante estar atento ao uso do termo religião que pode seguir por duas linhas no texto:

a) numa, há uma tendência a toma-la num conjunto de dogmas e crenças; convencional. 

b) noutra, o texto considera o conceito como de religião de um ponto de vista subjetivo, relacionada ao “reconhecimento de todos os nossos deveres - Pflichten - como mandamentos divinos.

A religião nos limites da simples razão, considerada nesses termos, leva em conta, um certo consentimento do indivíduo à medida que considera os seus deveres como se fossem mandamentos divinos; ou seja, o objetivo é estudar a questão dos deveres à medida que cada indivíduo estaria sujeito a disposições boas e más. Kant investiga em que sentido as disposições más, tendo corrompido o indivíduo, podem ser dominadas e restituídas as disposições boas.

Kant parte, portanto, de uma relação entre religião e natureza humana relacionada a partir dos princípios bom e mau, tomados como causas que atuam na natureza humana. Daí, o texto sobre a religião ser tomado como uma investigação sobre a corrupção moral do homem. Logo nos dois primeiros livros; no terceiro e no quarto, tenta pensar em que sentido o indivíduo corrompido pode restabelecer-se moralmente. 

No fundo de toda a discussão estão os conceitos de mal radical (Radicale Böse) e de comunidade ética (ethischen gemeinen Wesens). Ora, com o conceito de mal radical, Kant discute a ruína moral humana; empregando o conceito de comunidade ética, enquanto um mecanismo de aperfeiçoamento moral, ele defende a possibilidade da esperança à medida que propõe um caminho para que daí o homem possa orientar-se por princípios morais.

Immanuel Kant moldou a filosofia da era moderna como nenhum outro pensador. Devido à sua notável importância, existem agora vários volumes de seus escritos na série Explicando Classicos, Kant é, no sentido mais verdadeiro da palavra, um pensador universal que dirige seu interesse em quase todas as áreas da vida humana. Segundo ele, esse interesse pode ser agrupado em três questões: O que posso saber? Como devo agir? E: o que posso esperar? Kant busca a resposta à terceira questão em sua obra A religião nos limites da simples razão (1793). Aqui, em sua filosofia religiosa, ele continua sua filosofia moral, de acordo com a convicção básica do Iluminismo. Para Kant, Deus não é mais um objeto de conhecimento, como era o caso da filosofia medieval, mesmo com Descartes, mas de esperança: o homem moralmente atuante espera por uma ordem significativa do mundo como um todo, por um Deus cuja existência conjunta com a imortalidade da alma é o pré-requisito necessário para o objetivo final da ação prática, para o bem supremo. Essa conexão original do que inicialmente parece contraditório, de uma moralidade de autonomia com a crença em um Deus sobrenatural, não é o único assunto da Escritura. Nele, Kant também desenvolve uma teoria diferenciada do mal moral e discute a relação entre a mera crença da igreja (a igreja visível) e a crença religiosa moral (a igreja invisível). Este texto tematicamente rico é interpretado no volume editado por Otfried Höffe na forma de um comentário cooperativo por autores de renome internacional e, portanto, tornado acessível. Com contribuições de: Jochen Bojanowski (Pittsburgh), Johannes Brachtendorf (Tübingen), Andrew Chignell (Cornell), Katrin Flickschuh (Londres), Maximilian Forschner (Erlangen), Otfried Höffe (Tübingen), Christoph Horn (Bonn), Eberhard Jüngel (Tübingel) )), Douglas McGaughey (Willamette), Reza Mosayebi (Bonn / Tübingen), Burkhard Nonnenmacher (Munique), Friedo Ricken (Munique), Allen Wood (Stanford).

...

“Immanuel Kant hat wie kein anderer Denker die Philosophie der Neuzeit geprägt. Aufgrund seiner überragenden Bedeutung liegen inzwischen auch schon mehrere Bände zu seinen Schriften in der Reihe Klassiker Auslegen vor. Kant ist im wahrsten Sinne ein universeller Denker, der sein Interesse auf nahezu alle Bereiche des menschlichen Lebens richtet. Nach ihm lässt sich dieses Interesse in drei Fragen bündeln: Was kann ich wissen? Wie soll ich handeln? Und: Was darf ich hoffen? Der Antwort auf die dritte Frage geht Kant in seiner Schrift Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft (1793) nach. Hier, in seiner Religionsphilosophie, setzt er, gemäß der Grundüberzeugung der Aufklärung, seine Moralphilosophie fort. Gott ist für Kant nicht mehr wie etwa in der mittelalterlichen Philosophie, auch noch bei Descartes ein Gegenstand des Wissens, sondern des Hoffens: Der moralisch handelnde Mensch hofft auf eine sinnvolle Ordnung des Weltganzen, auf einen Gott, dessen Existenz zusammen mit der Unsterblichkeit der Seele die notwendige Voraussetzung für das letzte Ziel des praktischen Handelns, für das höchste Gut, ist. Diese originelle Verbindung von zunächst als gegensätzlich Erscheinendem, von einer Moral der Autonomie mit dem Glauben an einen übernatürlichen Gott, bildet jedoch nicht das einzige Thema der Schrift. In ihr entwickelt Kant darüber hinaus eine differenzierte Theorie des moralisch Bösen und erörtert das Verhältnis zwischen einem bloßen Kirchenglauben (die sichtbare Kirche) und dem moralischen Religionsglauben (die unsichtbare Kirche). Dieser thematisch reichhaltige Text wird im von Otfried Höffe herausgegebenen Band in Form eines kooperativen Kommentars von international renommierten Autoren interpretiert und somit aktuell erschlossen. Mit Beiträgen von: Jochen Bojanowski (Pittsburgh), Johannes Brachtendorf (Tübingen), Andrew Chignell (Cornell), Katrin Flickschuh (London), Maximilian Forschner (Erlangen), Otfried Höffe (Tübingen), Christoph Horn (Bonn), Eberhard Jüngel (Tübingen), Douglas McGaughey (Willamette), Reza Mosayebi (Bonn/Tübingen), Burkhard Nonnenmacher (München), Friedo Ricken (München), Allen Wood (Stanford).”

Ademais,

Acrescento alguns trechos das obras de Immanuel Kant que demonstram que ele NÃO era um “anti-cristão”

"Com o próximo trabalho Religião dentro dos limites ... Eu tentei completar a terceira parte do meu plano. O que posso esperar?

Neste trabalho eu fui guiado pela escrupulosidade e pela verdadeira apreciação pela religião cristã, juntamente com o princípio de uma liberdade de espírito adequada, sem esconder nada, mas para explicar abertamente como eu acredito que entendo a união do último com o último. mais pura razão prática "(Carta a C. Fr. Staudling (AA 4 V 1793)", em Briefwechsel, No. 574, AA XI, página 429)

"Aqui, então, é uma religião completa [critianismo] que pode ser proposta a todos os homens por sua própria razão de maneira cativante e convincente, e que, além disso, se tornou intuitiva (anschaulich) em um exemplo na medida em que a possibilidade e mesmo necessidade de ser arquétipo a seguir (na medida em que os homens são capazes disso), sem a verdade dessas doutrinas ou a autoridade e dignidade do professor que necessita de qualquer outra certificação [Beglaubigung] (para o qual seria erudição precisa ou milagres, que não são para o mundo inteiro "(Religião nos limites da simples razão, AA VI, p.162).

A Bíblia contém em si uma confirmação de sua divindade (moral) praticamente suficiente na influência que sempre exerceu sobre os corações dos homens (...) O caráter divino de seu conteúdo moral (...) autoriza a seguinte proposição: a Bíblia como se fosse uma revelação divina, merece ser conservada, usada moralmente e apoiar a religião como seu meio de direção "( Religião nos limites da simples razão, AA VII, pp. 64).

«Este Evangelho é o primeiro que, em virtude da pureza do princípio moral, mas ao mesmo tempo pela acomodação dele com as limitações dos seres finitos, sujeitou toda a boa conduta do homem à disciplina de um dever estabelecido. diante de seus olhos ele não o deixa se perder com as perfeições morais sonhadas, e colocou na presunção, bem como no amor próprio, que ambos conhecem seus limites com prazer, as imitações da humildade (isto é, o conhecimento de si mesmo). "(KpV; AA V, p.86).

...

Acrescentando hoje 11.04.2024, Lançamento da obra com a tradução do professor Bruno Cunha.

Sinopse: "Em A religião nos limites da simples razão Kant se propõe investigar o núcleo racional da religião e sua relação com a religião histórica, desenvolvendo um discurso consistente sobre a “essência moral” do cristianismo, que culmina em um manifesto contra todo tipo de “entusiasmo” religioso. Ao fim, esse empreendimento revela-se, ao mesmo tempo, na perspectiva da filosofia crítico-transcendental, como uma investigação sobre as “condições de possibilidade” do progresso moral da humanidade e da realização do objeto último da razão, para o qual tanto a religião racional quanto a religião histórica desempenham um papel fundamental."

______.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

______. Die Religion Innerhalb Der Grenzen Der Bloße Vernunft. Walter de Gruyter, 2010. (Editado por Ottfried Höffe)

______. Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft. W. de Gruyter, 1968.

______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992. 

______. A religião nos limites da razão pura. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Editra Vozes, 2024

______.Vorlesung über die philosophische Encyclopädie. In: Kant gesalmmelte Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).

______. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Tradução e estudo de Vinicius de Figueiredo. São Paulo: Editora Clandestina, 2018.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. (Trad. Vinícius Figueiredo). Campinas, SP: Ed. Papirus, 1993.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa: Edições 70, 2012.

______. A religião nos limites da razão pura. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2024.

Um pouco mais:

"Filosofia da Religião de Kant": publicado pela primeira vez na terça-feira, 22 de junho de 2004; revisão substantiva, segunda-feira, 19 de abril de 2021.

Disponível em: Stanford Encyclopedia of Philosophya Acesso em: 17 de julho 2021. https://plato.stanford.edu/entries/kant-religion/

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