Iniciando os trabalhos com mais uma releitura, na "tônica
dominante" das leituras de 2021. Hoje, acrescentando uma edição publicada por Ottfried Höffe. Nesta obra, já no prólogo
à primeira edição sobre a "religião", Immanuel Kant delimita sua
investigação:
"dos quatro tratados seguintes, para tornar manifesta a relação da religião com a natureza humana, a qual possui em parte disposições boas e em parte disposições más, eu represento a relação do bom e do mau princípio tal como de duas causas operantes por si subsistentes e que influem no homem". Seu objetivo apresentar a relação da religião com a natureza humana.
Importante estar atento ao uso do termo religião que pode seguir por duas linhas no texto:
a) numa, há uma tendência a toma-la num conjunto de dogmas e crenças; convencional.
b) noutra, o texto considera o conceito como de religião de um
ponto de vista subjetivo, relacionada ao “reconhecimento de todos os nossos
deveres - Pflichten - como mandamentos divinos.
A religião nos limites da simples razão, considerada
nesses termos, leva em conta, um certo consentimento do indivíduo à medida que
considera os seus deveres como se fossem mandamentos divinos; ou seja, o
objetivo é estudar a questão dos deveres à medida que cada indivíduo estaria
sujeito a disposições boas e más. Kant investiga em que sentido as
disposições más, tendo corrompido o indivíduo, podem ser dominadas e
restituídas as disposições boas.
Kant parte, portanto, de uma relação entre religião e natureza humana
relacionada a partir dos princípios bom e mau, tomados como
causas que atuam na natureza humana. Daí, o texto sobre a religião ser
tomado como uma investigação sobre a corrupção moral do homem. Logo nos dois
primeiros livros; no terceiro e no quarto, tenta pensar em que sentido o indivíduo
corrompido pode restabelecer-se moralmente.
No fundo de toda a discussão estão os conceitos de mal radical (Radicale
Böse) e de comunidade ética (ethischen gemeinen Wesens). Ora,
com o conceito de mal radical, Kant discute a ruína moral humana;
empregando o conceito de comunidade ética, enquanto um mecanismo de
aperfeiçoamento moral, ele defende a possibilidade da esperança à
medida que propõe um caminho para que daí o homem possa orientar-se
por princípios morais.
“Immanuel Kant moldou a filosofia da era moderna como nenhum outro pensador. Devido à sua notável importância, existem agora vários volumes de seus escritos na série Explicando Classicos, Kant é, no sentido mais verdadeiro da palavra, um pensador universal que dirige seu interesse em quase todas as áreas da vida humana. Segundo ele, esse interesse pode ser agrupado em três questões: O que posso saber? Como devo agir? E: o que posso esperar? Kant busca a resposta à terceira questão em sua obra A religião nos limites da simples razão (1793). Aqui, em sua filosofia religiosa, ele continua sua filosofia moral, de acordo com a convicção básica do Iluminismo. Para Kant, Deus não é mais um objeto de conhecimento, como era o caso da filosofia medieval, mesmo com Descartes, mas de esperança: o homem moralmente atuante espera por uma ordem significativa do mundo como um todo, por um Deus cuja existência conjunta com a imortalidade da alma é o pré-requisito necessário para o objetivo final da ação prática, para o bem supremo. Essa conexão original do que inicialmente parece contraditório, de uma moralidade de autonomia com a crença em um Deus sobrenatural, não é o único assunto da Escritura. Nele, Kant também desenvolve uma teoria diferenciada do mal moral e discute a relação entre a mera crença da igreja (a igreja visível) e a crença religiosa moral (a igreja invisível). Este texto tematicamente rico é interpretado no volume editado por Otfried Höffe na forma de um comentário cooperativo por autores de renome internacional e, portanto, tornado acessível. Com contribuições de: Jochen Bojanowski (Pittsburgh), Johannes Brachtendorf (Tübingen), Andrew Chignell (Cornell), Katrin Flickschuh (Londres), Maximilian Forschner (Erlangen), Otfried Höffe (Tübingen), Christoph Horn (Bonn), Eberhard Jüngel (Tübingel) )), Douglas McGaughey (Willamette), Reza Mosayebi (Bonn / Tübingen), Burkhard Nonnenmacher (Munique), Friedo Ricken (Munique), Allen Wood (Stanford).
...
“Immanuel Kant hat wie
kein anderer Denker die Philosophie der Neuzeit geprägt. Aufgrund seiner
überragenden Bedeutung liegen inzwischen auch schon mehrere Bände zu seinen
Schriften in der Reihe Klassiker Auslegen vor. Kant ist im wahrsten Sinne ein
universeller Denker, der sein Interesse auf nahezu alle Bereiche des
menschlichen Lebens richtet. Nach ihm lässt sich dieses Interesse in drei
Fragen bündeln: Was kann ich wissen? Wie soll ich handeln? Und: Was darf ich
hoffen? Der Antwort auf die dritte Frage geht Kant in seiner Schrift Die
Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft (1793) nach. Hier, in seiner
Religionsphilosophie, setzt er, gemäß der Grundüberzeugung der Aufklärung,
seine Moralphilosophie fort. Gott ist für Kant nicht mehr wie etwa in der
mittelalterlichen Philosophie, auch noch bei Descartes ein Gegenstand des
Wissens, sondern des Hoffens: Der moralisch handelnde Mensch hofft auf eine
sinnvolle Ordnung des Weltganzen, auf einen Gott, dessen Existenz zusammen mit
der Unsterblichkeit der Seele die notwendige Voraussetzung für das letzte Ziel
des praktischen Handelns, für das höchste Gut, ist. Diese originelle Verbindung
von zunächst als gegensätzlich Erscheinendem, von einer Moral der Autonomie mit
dem Glauben an einen übernatürlichen Gott, bildet jedoch nicht das einzige
Thema der Schrift. In ihr entwickelt Kant darüber hinaus eine differenzierte
Theorie des moralisch Bösen und erörtert das Verhältnis zwischen einem bloßen
Kirchenglauben (die sichtbare Kirche) und dem moralischen Religionsglauben (die
unsichtbare Kirche). Dieser thematisch reichhaltige Text wird im von Otfried
Höffe herausgegebenen Band in Form eines kooperativen Kommentars von
international renommierten Autoren interpretiert und somit aktuell erschlossen.
Mit Beiträgen von: Jochen Bojanowski (Pittsburgh), Johannes Brachtendorf
(Tübingen), Andrew Chignell (Cornell), Katrin Flickschuh (London), Maximilian
Forschner (Erlangen), Otfried Höffe (Tübingen), Christoph Horn (Bonn), Eberhard
Jüngel (Tübingen), Douglas McGaughey (Willamette), Reza Mosayebi
(Bonn/Tübingen), Burkhard Nonnenmacher (München), Friedo Ricken (München),
Allen Wood (Stanford).”
Ademais,
Acrescento alguns trechos das obras de Immanuel Kant que demonstram que ele NÃO era um “anti-cristão”
"Com
o próximo trabalho Religião dentro dos limites ... Eu tentei completar a
terceira parte do meu plano. O que posso esperar?
Neste
trabalho eu fui guiado pela escrupulosidade e pela verdadeira apreciação pela
religião cristã, juntamente com o princípio de uma liberdade de espírito
adequada, sem esconder nada, mas para explicar abertamente como eu acredito que
entendo a união do último com o último. mais pura razão prática "(Carta a
C. Fr. Staudling (AA 4 V 1793)", em Briefwechsel, No. 574,
AA XI, página 429)
"Aqui,
então, é uma religião completa [critianismo] que pode ser proposta a todos os
homens por sua própria razão de maneira cativante e convincente, e que, além
disso, se tornou intuitiva (anschaulich) em um exemplo na medida em que a
possibilidade e mesmo necessidade de ser arquétipo a seguir (na medida em que
os homens são capazes disso), sem a verdade dessas doutrinas ou a autoridade e
dignidade do professor que necessita de qualquer outra certificação
[Beglaubigung] (para o qual seria erudição precisa ou milagres, que não são
para o mundo inteiro "(Religião nos limites da simples razão, AA VI,
p.162).
A
Bíblia contém em si uma confirmação de sua divindade (moral) praticamente
suficiente na influência que sempre exerceu sobre os corações dos homens (...)
O caráter divino de seu conteúdo moral (...) autoriza a seguinte proposição: a
Bíblia como se fosse uma revelação divina, merece ser conservada, usada
moralmente e apoiar a religião como seu meio de direção "( Religião nos
limites da simples razão, AA VII, pp. 64).
«Este
Evangelho é o primeiro que, em virtude da pureza do princípio moral, mas ao
mesmo tempo pela acomodação dele com as limitações dos seres finitos, sujeitou
toda a boa conduta do homem à disciplina de um dever estabelecido. diante de
seus olhos ele não o deixa se perder com as perfeições morais sonhadas, e
colocou na presunção, bem como no amor próprio, que ambos conhecem seus limites
com prazer, as imitações da humildade (isto é, o conhecimento de si mesmo).
"(KpV; AA V, p.86).
...
Acrescentando hoje
11.04.2024, Lançamento da obra com a
tradução do professor Bruno Cunha.
Sinopse: "Em A religião nos limites da simples
razão Kant se propõe investigar o núcleo racional da religião e sua relação com
a religião histórica, desenvolvendo um discurso consistente sobre a “essência
moral” do cristianismo, que culmina em um manifesto contra todo tipo de
“entusiasmo” religioso. Ao fim, esse empreendimento revela-se, ao mesmo tempo,
na perspectiva da filosofia crítico-transcendental, como uma investigação sobre
as “condições de possibilidade” do progresso moral da humanidade e da realização
do objeto último da razão, para o qual tanto a religião racional quanto a
religião histórica desempenham um papel fundamental."
______.
CUNHA,
Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora
LiberArs, 2017.
KANT,
Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles
Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.
______. Lições
sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.
______. Die
Religion Innerhalb Der Grenzen Der Bloße Vernunft. Walter de Gruyter,
2010. (Editado por Ottfried Höffe)
______.
Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft. W. de
Gruyter, 1968.
______. A
religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992.
______. A religião nos limites da razão pura. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Editra Vozes, 2024
______.Vorlesung
über die philosophische Encyclopädie. In: Kant gesalmmelte
Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).
______. Observações
sobre o sentimento do belo e do sublime; Ensaio sobre as doenças mentais.
Tradução e estudo de Vinicius de Figueiredo. São Paulo: Editora Clandestina,
2018.
______. Observações
sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. (Trad.
Vinícius Figueiredo). Campinas, SP: Ed. Papirus, 1993.
______. Observações
sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa:
Edições 70, 2012.
______. A religião nos limites da razão pura. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2024.
Um pouco mais:
"Filosofia da Religião de Kant": publicado pela primeira vez na terça-feira, 22 de junho de 2004; revisão substantiva, segunda-feira, 19 de abril de 2021.
Disponível em: Stanford Encyclopedia of Philosophya Acesso em: 17 de julho 2021. https://plato.stanford.edu/entries/kant-religion/
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