(Fonte Imagm: Pinterest Br)
Reflexão
matinal XXXIV
Se
houver frustração e infelicidade, esteja certo de que isso advém, como defende o
estoico Epicteto, de má interpretação da realidade e dos juízos falsos que formamos
sore o que acontece a nossa volta.
Para ele, a filosofia tem importante papel na
busca da felicidade e sempre nos ensina a distinguir o que é falso do que é
aparente e possa ser confundido com a verdade. Os acontecimentos só podem ser
bons pelo que nele há de correto e ordenado. Falta a nós, que nos afastamos facilmente
da virtude, o retorno ao caminho.
Afastarmo-nos da Lei, dando crédito a falsos juízos é que nos faz infelizes
Epicteto
propõe, nesse sentido, como um primeiro passo, o afastamento dos falsos juízos.
A proposta de Epicteto está bem próxima da que tinha sido apresentada por
Sócrates. Uma vida orientada por filosofia, como para Sócrates, também para
Epicteto nos faria compreender essa Lei e nos tiraria da ignorância, além
disso, no colocaria na esteira de dois princípios estoicos fundamentais. A
saber:
·
a tranquilidade (apatheia)
e,
·
a imperturbável paz
de espírito (ataraxia).
Destaco,
como tenho feito aqui, em outros escritos, do blog, algumas dicas de Epicteto:
“[1.1] Das coisas existentes, algumas são encargos nossos;
outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em
suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses,
a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa.
[...]. [1.4] Então, almejando coisas de tamanha importância, lembra que é
preciso que não te empenhes de modo comedido, mas que abandones completamente
algumas coisas e, por ora, deixes outras para depois. Mas se quiseres aquelas
coisas e também ter cargos e ser rico, talvez não obtenhas estas duas últimas,
por também buscar as primeiras, e absolutamente não atingirás aquelas coisas
por meio das quais unicamente resultam a liberdade e a felicidade.” (EPICTETO, 2012)
A isso
Epicteto acrescenta outros conselhos sobre como devemo passar a interpretar os
acontecimentos à nossa volta, pois que:
“[5a] As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões
sobre as coisas. Por exemplo: a morte nada tem de terrível, ou também a
Sócrates teria se afigurado assim, mas é a opinião a respeito da morte – de que
ela é terrível – que é terrível! Então, quando se nos apresentarem entraves, ou
nos inquietarmos, ou nos afligirmos, jamais consideremos outra coisa a causa,
senão nós mesmos – isto é: as nossas próprias opiniões.” (EPICTETO, 2012)
Reconhecer-se como
responsável pela saída da ignorância já é, para Epicteto como também para
Sócrates, um claro sinal de que este já deu seu primeiro passo na direção da
boa formação da alma. Aqui, no caso, dei
destaque aos sentidos de apatheia e ataraxia.
______.
DINUCCI,
A.; JULIEN, A. O Encheiridion
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Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
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______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas
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São Paulo: É Realizações, 2016
______. Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga. Trad.
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Paulo: É Realizações, 2014.
SÉNECA,
Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5.
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