sábado, 6 de abril de 2019

IMPERTURBÁVEL PAZ E TRANQUILIDADE


(Fonte Imagm: Pinterest Br)

Reflexão matinal XXXIV

Se houver frustração e infelicidade, esteja certo de que isso advém, como defende o estoico Epicteto, de má interpretação da realidade e dos juízos falsos que formamos sore o que acontece a nossa volta. 
Para ele, a filosofia tem importante papel na busca da felicidade e sempre nos ensina a distinguir o que é falso do que é aparente e possa ser confundido com a verdade. Os acontecimentos só podem ser bons pelo que nele há de correto e ordenado. Falta a nós, que nos afastamos facilmente da virtude, o retorno ao caminho. 
Afastarmo-nos da Lei, dando crédito a falsos juízos é que nos faz infelizes

Epicteto propõe, nesse sentido, como um primeiro passo, o afastamento dos falsos juízos. A proposta de Epicteto está bem próxima da que tinha sido apresentada por Sócrates. Uma vida orientada por filosofia, como para Sócrates, também para Epicteto nos faria compreender essa Lei e nos tiraria da ignorância, além disso, no colocaria na esteira de dois princípios estoicos fundamentais. A saber:

·         a tranquilidade (apatheia) e,
·         a imperturbável paz de espírito (ataraxia).

Destaco, como tenho feito aqui, em outros escritos, do blog, algumas dicas de Epicteto:

“[1.1] Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa. [...]. [1.4] Então, almejando coisas de tamanha importância, lembra que é preciso que não te empenhes de modo comedido, mas que abandones completamente algumas coisas e, por ora, deixes outras para depois. Mas se quiseres aquelas coisas e também ter cargos e ser rico, talvez não obtenhas estas duas últimas, por também buscar as primeiras, e absolutamente não atingirás aquelas coisas por meio das quais unicamente resultam a liberdade e a felicidade.” (EPICTETO, 2012)

A isso Epicteto acrescenta outros conselhos sobre como devemo passar a interpretar os acontecimentos à nossa volta, pois que:

“[5a] As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas. Por exemplo: a morte nada tem de terrível, ou também a Sócrates teria se afigurado assim, mas é a opinião a respeito da morte – de que ela é terrível – que é terrível! Então, quando se nos apresentarem entraves, ou nos inquietarmos, ou nos afligirmos, jamais consideremos outra coisa a causa, senão nós mesmos – isto é: as nossas próprias opiniões.” (EPICTETO, 2012)

Reconhecer-se como responsável pela saída da ignorância já é, para Epicteto como também para Sócrates, um claro sinal de que este já deu seu primeiro passo na direção da boa formação da alma.  Aqui, no caso, dei destaque aos sentidos de apatheia e ataraxia.


______.
DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016

______. Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga. Trad. Flavio Fontenelle Loque e Loraine Oliveira. Prefácio de Davidson, Arnold. São Paulo: É Realizações, 2014.

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.


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