(Imagem: Pinterest)
Torna-te semelhante ao promontório
contra o qual as ondas vêm quebrar-se: ergue-se impávido e, à sua volta,
apazigua-se o furor das águas. (Marco Aurélio, IV : 49)
Quanto à necessidade
disciplina do assentimento, orienta Epicteto:
“[1.1]
Das coisas existentes, algumas são encargos nossos1; outras não. São encargos
nossos o juízo2, o impulso3, o desejo4, a repulsa5 – em suma: tudo quanto seja
ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos
públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa. [1.2] Por natureza, as
coisas que são encargos nossos são livres6, desobstruídas7, sem entraves8. As
que não são encargos nossos são débeis, escravas, obstruídas, de outrem.
[1.1]
Τῶν ὄντων τὰ μέν ἐστιν ἐφ' ἡμῖν, τὰ δὲ οὐκ ἐφ'
ἡμῖν. ἐφ' ἡμῖν μὲν ὑπόληψις, ὁρμή, ὄρεξις, ἔκκλισις καὶ ἑνὶ λόγῳ ὅσα ἡμέτερα
ἔργα· οὐκ ἐφ' ἡμῖν δὲ τὸ σῶμα, ἡ κτῆσις, δόξαι, ἀρχαὶ καὶ ἑνὶ λόγῳ ὅσα οὐχ ἡμέτερα
ἔργα. [1.2] καὶ τὰ μὲν ἐφ' ἡμῖν ἐστι φύσει
ἐλεύθερα, ἀκώλυτα, παραπόδιστα, τὰ δὲ οὐκ
ἐφ' ἡμῖν ἀσθενῆ, δοῦλα, κωλυτά, ἀλλότρια.”
O homem diligente deve
lutar para evitar as oscilações das paixões.
“Que
desgraça! Aconteceu-me tal coisa!”. É preferível dizeres: “Que felicidade!
Aconteceu-me tal coisa e estou contente; o presente não me fere nem o futuro me
assusta”. Com efeito, semelhante coisa poderia suceder a toda a gente, mas bem
poucos a suportariam sem aflição. Por que motivo será tal acontecimento
considerado desgraça e tal outro fortuna? Chamarás desgraça ao que não tolhe a
um homem a sua própria natureza? E o que não estorva a sua natureza poderá ser
contrário à vontade dessa natureza? No entanto, conheces bem essa vontade: o
tal acidente que sofreste impede-te porventura de seres justo, magnânimo,
sensato, circunspecto, verídico, modesto, capaz, enfim, de possuíres essas
virtudes cuja reunião constitui o característico da natureza do homem? De
resto, sempre que um acontecimento provoque a tua tristeza, recorre a esta
verdade: não é uma desgraça, mas suportá-lo corajosamente é uma felicidade.” (Marco Aurélio, IV : 49)
E, Boécio e em seu “A
consolação da filosofia” (Liivro
IV), reflete sobre a infelicidade do homem. Defende que a injustiça que atinge
o homem é ilusória e se entende dessa forma
devido à sua limitada capacidade para um olhar mais ampliado sobre a existência.
A entrega aos prazeres efêmeros faz com que o homem opte pelo vício e fuja da virtude
que, ao contrário do que crê, lança-o num processo destrutivo que o aprisiona a
uma perspectiva limitada da existência. A única rota possível para ampliar a
concepção existencial capaz de desviá-lo de equívocos é o caminho de bisca das
Virtudes, única via na direção da verdadeira liberdade. As virtudes elevam o
homem acima do nível rasteiro do comum da humanidade, afasta-o da animalidade.
Reconhecer a própria natureza que o homem torna o homem, efetivamente humano, em
“essência”.
______.
AGOSTINHO de HIPONA (354
- 430). "Confissões".
Livro X...
BOÉCIO.
A consolação da filosofia. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
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______. Epictetus Discourses. Book I.
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______. O Encheirídion de Epicteto. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
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fonte: http://plato.stanford.edu/entries/children/ .
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(tradução de Virgínia de Castro e Almeida)
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbekian, 2014.
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