Nessa manhã, prosseguindo os estudos de Kant (KrV, KpV e Lições de metafísica, seguindo os trabalhos de Karin de Boer e Katharina Kraus e estoicismo, anoto algumas reflexões para retomada e prosseguimento.
Para começar,
segundo Sellars, a partir de Epictetus, por exemplo, descreve a
filosofia da seguinte maneira:
A filosofia não promete
obter qualquer coisa exterior para o homem, pois se o fizesse ela estaria
admitindo algo que se encontra fora de seu material apropriado (hules).
Pois assim como a madeira é o material (hule) do carpinteiro, e o bronze
o do estatuário, também a própria vida de cada indivíduo (ho bios autou
hekastou) é o material da arte de viver (tes peri bion technes). (EPICTETUS, Discursos 1.15.2, apud SELLARS,
2003, p. 56)
Então, em meio a tanta
confusão, nos colocamos a pensar no hábito a que tantos se deixam seduzir (eu
mesmo me deixei levar noutro tempo): do pessimismo, por um
lado e do extremo esforço em "mudar o mundo" por
outro lado.
A isso acrescento esse novo livro:
LANÇAMENTO: DINUCCI, Aldo. Manual de estoicismo: uma visão estóica do mundo". São Paulo: Auster, 2023.
“O estoicismo é uma
filosofia antiga cujo pensamento ensina a virtude como meio para alcançar a
felicidade. Redescoberto atualmente, tem sido considerado uma forma de terapia
para os dilemas contemporâneos.
Neste livro, Aldo Dinucci
discorre sobre essa corrente filosófica, abordando a sua concepção original, os
seus fundamentos e os seus principais expoentes. O autor guiará os leitores na
elaboração de um manual de estoicismo próprio, individual, para que eles possam
se tornar amantes da sabedoria que buscam tanto respostas para a condição
humana quanto agir com coerência em relação ao próprio pensamento.
Portanto, você poderá
aplicar esses ensinamentos em seu dia-a-dia, pensando não só em si mesmo, mas
em realizar algo de útil e belo para a sociedade. É uma chance de aprender com
os filósofos estóicos e transformar a sua vida.”
...
"Torna meu pensamento capaz de se adaptar seja ao que for que venha a acontecer” (EPICTETO, Diatribes, II, 2, 21)
“Eis como nós representamos a tarefa do filósofo. Falta ainda procurar realizá-la. (EPICTETO, Diatribes, II, 14).”
Recém lançado, livro que li recentemente. Excelente obra de Introdução ao Estoicismo!
Na minha leitura, destaco o cap.
III: “A prática do estoicismo”. O capítulo IV é excelente também.
O capítulo III apresenta o “pensamento estóico” através dos tópicos do “juízo, desejo e a ação”. E, como sugerido por Epicteo:
- Que se corrija os desejos e se produza um “discurso interno capaz de substituir o que nos fora dado pelo senso comum, reorientando e transformando nossa visão sobre a realidade”.
- Que se aprenda a “considerar, em cada caso, qual é a ação adequada, suavizando nossos impulsos instintivos e fazendo uso deles de modo útil a nós mesmos”.
- Enfim, isso alcançado, os que já dominaram os dois primeiros tópicos, terão no terceiro tópico o que ensina os “estudantes avançados do estoicismo, [...] assegurar o que obtivemos com a aplicação dos dois primeiros tópicos”
Também destaco no mesmo
cap. III, o “ato de dar graças” que, segundo Epicteto envolve quatro
premissas fundamentais:
- A primeira (Cf. Encheirídion XXXI : 2,3): “o ser humano que põe seu bem em coisas fora de seu encargo acusará Deus quando as coisas lhe forem retiradas, e não será, grato a Deus”.
- A segunda, uma consequência da aplicação do “teorema ontológico” acima: “será grato a Deus o ser humano que seu bem em coisas sob seu encargo, coisas que não podem de forma alguma ser suprimidas es obre as quais temos plena responsabilidade.
- E, “será grato a Deus o ser humano que reconhece que Deus concedeu a todos os humanos a capacidade de escolha desimpedida”
- Conforme à quarta premissa, “será grato a Deus o ser humano capaz de reconhecer a Providência Divina nas coisas que lhe foram dadas para o suprimento de sua própria vida”.
Importante esse destaque
a estas quatro premissas é que para Epicteto “[...] embora as coisas
externas consideradas individualmente não tenham valor por si, elas revelam em
conjunto a providência e a bondade de Deus”.
Enfim, quanto ao valor
desse livro ressalte-se que: “O estoicismo é uma filosofia antiga cujo
pensamento ensina a virtude como meio para alcançar a felicidade. Redescoberto
atualmente, tem sido considerado uma forma de terapia para os dilemas
contemporâneos.
Neste livro,
Aldo Dinucci discorre sobre essa corrente filosófica, abordando a sua
concepção original, os seus fundamentos e os seus principais expoentes. O autor
guiará os leitores na elaboração de um manual de estoicismo próprio,
individual, para que eles possam se tornar amantes da sabedoria que buscam
tanto respostas para a condição humana quanto agir com coerência em relação ao
próprio pensamento.
Portanto, você poderá
aplicar esses ensinamentos em seu dia-a-dia, pensando não só em si mesmo, mas
em realizar algo de útil e belo para a sociedade. É uma chance de aprender com
os filósofos estóicos e transformar a sua vida.”
O “coração” do homem, segundo o
Epicteto, pode ser posto nas coisas que não dependem de nós, e é disso que
resulta a visão de que o mundo é um horror, um “inferno” (segundo
alguns que andam a fazer sucesso pelo mundo, de quem rejeitamos a má
influência). Ora, sendo um estoico Epicteto orienta sobre a maneira de nos
posicionarmos em relação ao mundo, à natureza. Se está chovendo, faz calor, faz
frio mas eu desejava outra coisa, não a que está acontecendo, não devo
me perturbar; fazendo disso oportunidade de exercitarmo-nos na busca
pela “imperturbável paz de espírito” (ataraxia - Ἀταραξία).
Quanto a isso, tenho estudado e anotado aqui, quando desvio um pouquinho da pesquisa acadêmica principal, sem, no entanto, abandonar as reflexões existenciais pessoais. E, certa vez li, não me lembro onde, algo sobre a Filosofia estoica ser uma doutrina da coerência consigo mesma. A Razão perfeita individual que eles buscam ou defendem, é a mesma para pensar a comunidade dos humanos.
Seria a Razão, a que rege o “mundo dos homens”, da mesma maneira, a que rege o homem considerado individualmente.
E, em outros livros, autores e correntes filosóficas e na psicologia, acabei encontrando várias belíssimas referências adotadas ao longo da Vida. Encerro, sempre revendo uma maneira de ver as coisas, no sentido de entender o homem como alguém que está teimosamente procurando “local of control”, sua “inner citadel”, onde está o cerne da razão mesma, e onde se dará, se houver empenho e condições favoráveis, o encontro consigo mesmo, a autocompreensão.
Necessário foi se tornando, na caminhada, compreender e aceitar que todo o homem tem um conhecimento natural de realidade essencial, sente a aspiração pelo Bem, felicidade e a paz de espírito; que muitos ensinam a "negar" peremptoriamente (e tem reunido muitos adeptos em torno de seus "discursos" inflamados e vazios); e dos quais, se porventura, erroneamente me aproximei, já vi, há muito, que me afastei por medida de profilaxia.
Então, numa das pausas que faço, antes dos rápidos descansos, reli esse trecho de Epicteto sobre o conceito de epiméleia (cuidado de si) e o conceito de oikeíosis (apropriação de si). Uma imersão interior, proposta por Epicteto, nas (Diatribes, I, 22, 9-15):
“Que é, então, a educação filosófica? É aprender a aplicar nossas prenoções naturais aos casos particulares de uma maneira conforme com a natureza; é em seguida, discernir, em meio aos seres, aquilo que depende de nós e aquilo que não depende. Depende de nós: a pessoa e todos os seus atos; não depende de nós: o corpo, as partes do corpo, aquilo que nós possuímos, os parentes, os irmãos, as crianças, a pátria, em uma palavra aqueles com quem nós vivemos. Em que então devemos colocar nosso bem? A que tipo de realidade aplicaremos este nome? Àquelas que dependem de nós. - “Quê! Então não é um bem a saúde, a integridade do corpo, a vida? Não? Nem mesmo as crianças, os parentes ou a pátria? Quem poderia crer?” – Transportemos então para esses últimos objetos a denominação de bens. Então é possível ser feliz se injuriado e privado dos bens? – “Isso não é possível”. – E, ter com aqueles que vivem perto de vós as relações que devem existir? E como isso seria possível? Porque eu sou levado pela natureza a considerar meu interesse. Se for meu interesse ter um campo; é também meu interesse pegar aquele do vizinho; se for meu interesse ter uma veste, é também meu interesse roubá-lo de uma casa de banhos. Daí, as guerras, as dissensões, as tiranias, os complôs.”
Nisso reflito sobre se não é fundamental, ainda na perspectiva da educação filosófica estoica, colocarmos nosso “coração” nas coisas que dependem mesmo de nós (Teorema ontológico); desenvolvermos, e insistirmos que, apesar de não ser fácil, é possível uma adaptação, com o tempo, às circunstâncias. Mudamos o que nós podemos.
______.
GT Epicteto e Marginália Filosófica (Anpof):
______.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).
BICALHO, Vanessa Brun. Ciência e sabedoria de vida na filosofia transcendental de Kant à luz do estoicismo. Tese de Doutorado (Campus de Toledo). Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, 2021.
CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.
______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.
DINUCCI, Aldo. Manual de estoicismo: uma visão estóica do mundo". São Paulo: Auster, 2023.
______;
TARQUÍNIO, Antonio. Introdução ao Manual de Epicteto. 3. ed,
São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2012.
______;
JULIEN, Alfredo. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra:
Imprensa de Coimbra, 2014.
______;
JULIEN, A. (Org.) Epicteto: fragmentos e testemunhos. Tradução
dos fragmentos gregos e notas Aldo Dinucci e Alfredo Julien. Textos de Aldo
Dinucci, Alfredo Julien e Fábio Duarte Joly. São Cristóvão. Universidade
Federal de Sergipe, 2008.
EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928. https://www.loebclassics.com/
GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.
______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.
GAZOLLA, Rachel. O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.
HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de Almeida. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.
______. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.
______. O único argumento possível para uma demonstração da existência de Deus. Lisboa: INCM, 2004.
KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013a. (Q. 74a “A razão”); Q. 907-912: "paixões"; 893-906: “virtudes e vícios”e 920-933: "felicidade")
KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.
LONG, A. A. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007.
LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.
ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres : Karnac Books, 2010.
______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.
______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.
RUSSEL, Bertrand. A conquista da felicidade. Rio de Jamneiro, RJ: Nova Fornteira, 2015.
SCHLEIERMACHER, F. D. E. Introdução aos Diálogos de Platão. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2018.
SCHELLE, Karl Gottlob. A arte de passear. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.
______. Lições de estoicismo: O que os filósofos antigos têm a ensinar sobre a vida. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2023.
______. Lessons in Stoicism: What ancient philosophers teach us about how to live. Londres: Penguin Books Ltd, 2020.
______. Hellenistic Philosophy. Oxford University Press, 2018.
______. Aristotle: Understanding the world's greatest philosopher. Pelican, 2023.
SOLNIT, Rebecca. Wanderlust: a history of walking. Penguim books, 2001.
SCHNEEWIND, Jeromé. Obligation and virtue: an overwien of Kant's moral philosophy. The Cambridge Companio to Kant. United Kingdom. Cambridge University Press, 1992.
______. Aristotle, Kant and the stoics: rethinnking happiness and duty. Cambridge University Press; Edição: Reprint, 1998.
______. A invenção da autonomia: uma história da filosofia moral moderna. São Leopoldo: Unisinos, 2001.
THOUREAU, Henry David. Andar a pé: um ritual interior de sabedoria e liberdade. Loures: Editora Alma dos livros, 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário