DEVANEIOS DE
UM CAMINHANTE SOLITÁRIO...
E, a recordar ...
“De agora em diante,
tudo que é exterior a mim me é estranho [...] não tenho mais próximo [...]
Estou na terra como num planeta estranho, onde teria caído [...] somente em mim
encontro a consolação [...] não devo nem quero ocupar-me senão comigo mesmo. [...]
Consagro meus últimos dias a estudar-me a mim mesmo [...] Entreguemo-nos
inteiramente à doçura de conversar com minha alma, já que é a única coisa que
os homens não me podem tirar. Se, à força de
refletir sobre minhas disposições interiores, consigo pô-las em melhor ordem e
corrigir o mal que nelas pode ter ficado, minhas meditações não serão
inteiramente inúteis e embora não sirva mais para nada na terra, não terei
perdido completamente meus últimos dias. Os lazeres de minhas caminhadas diárias
foram freqüentemente preenchidos por contemplações encantadoras das quais tenho
o desgosto de ter perdido a lembrança. Fixarei pela escrita as que ainda
poderei ter; cada releitura me devolverá sua alegria."
....
“Uma situação tão
singular merece seguramente ser examinada e descrita, e é a esse exame que
consagro meus últimos lazeres [...] Contentar-me-ei em manter o registro das
operações sem procurar reduzi-las a um sistema. [...] eu não escrevo meus
devaneios senão para mim. [...] sua leitura me lembrará a doçura que
experimento ao escrevê-los [os devaneios] e, fazendo renascer assim, para mim,
o tempo passado, duplicará, por assim dizer, minha existência. [...] viverei
decrépito, comigo mesmo, numa outra época, como viveria com um amigo menos
velho.”
______.
(ROUSSEAU, J.-J. Os Devaneios do Caminhante Solitário. Porto Alegre: L&PM, 1995, p. 26 - 27).”
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