sábado, 5 de janeiro de 2019

REFLEXÃO MATINAL XX: MEDIDAS PROFILÁTICAS


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"Devemos viver como médicos, tratando a nós mesmos com a razão, contra os males de não usá-la" (Musónio Rufo)*

A "reflexão matinal" de hoje.

Tem sido comum meu esforço em registrar aqui, para crescimento pessoal, trechos de breves preleções que tendo apresentado, quando me convidam, ou em aulas mesmo. Como sempre destaco; nas minhas leituras cada vez mais frequentes sobre estoicismo, o mais notório princípio, para mim, na prática dessa filosofia é o conjunto de “exercícios”, que o professor Aldo Dinucci (UFS) traduz a partir de Theoremata como “princípios”. 

Meus destaques, de início, eram bastante pessoais e continuam despretensiosos. No entanto, a perspectiva da realização do “4° Colóquio Brasileiro sobre Epicteto” tem me encorajado a dar contornos mais sérios a esses estudos, mantidos o foco na melhoria pessoal; apesar da atividade na profissão e nas pesquisas que se intensificam.

Ora, visto que os objetivos dos pensadores estoicos estão sempre ajustados de forma a dar mais valor à ação do que às palavras; a maneira de agir de cada indivíduo que pretenda refletir a partir dessa escola é priorizar a ação; pois, na ação o indivíduo revela-se tal qual realmente é.

Para levar adiante essa busca, realizando tais “exercícios” práticos no dia a dia, é necessário, logo de início, considerarmos que há algo bastante almejado por quem se disponha a enfrentar tal desafio: a eustatheia (tranquilidade) e a euthymia (crença em si), como já anotei aqui nessa página, tempos atrás. E, nunca é demais retornar a isso enquanto não as alcançamos.

Neste sentido, dar ensejo a reflexões nessa direção exige comprometimento pessoal na revisão de antigas concepções. 

E, a mim, pelo que já me dediquei a estuda, Epictetus tem uma contribuição interessante a serem adotados como ponto de partida dessas revisões e posterior redirecionamento das buscas, pois, o que importa é que, livres, estejamos dispostos e:

"A liberdade não tem nada a ver com a liberdade em um sentido social ou político, a liberdade que interessa a Epictetus** é inteiramente psicológica e atitudinal, é a liberdade de ser restringido ou impedido por qualquer circunstância externa ou reação emocional". (LONG, 2007)

Devo orientar-me, portanto, a buscar o bem ou mal de dentro pra fora, à medida que, livremente, me disponha a isso, como meta.

Diz ele, e destes enunciados se depreende alguns elementos para construção de coerência interna:

a) "Onde então, eu procuro o bem e o mal? Não em eventos incontroláveis, mas em mim, nas escolhas que são minhas."

b) "[...] se você considerar como seu apenas o que lhe cabe e o que pertence aos outros como não sendo seu, então ninguém jamais terá o poder de lhe coagir ou lhe parar, você não encontrará alguém para acusar ou culpar, não fará coisa alguma contra sua vontade, não terá inimigos, ninguém irá lhe ferir porque nenhum mal poderá lhe afetar."

c) "Qual é a primeira coisa que deve fazer quem começa a filosofar? Rejeitar a presunção de saber. De fato: não é possível começar a aprender aquilo que se presume saber".

E, ainda, diante das dificuldades:

d) "Se você não deseja perder a cabeça, não alimente o hábito. Tente, como primeiro passo, manter-se calmo e conte os dias que você não se irritou. Eu costumava me irritar todos os dias, depois a cada dois dias, então a cada três ou quatro dias… Se você chegar a 30 dias, agradeça aos deuses! Porque primeiro um hábito é enfraquecido e depois obliterado. Quando você puder dizer: 'Eu não perdi minha calma hoje, ou no próximo dia, ou nos próximos três ou quatro meses, mas me mantive sereno enquanto sofria provocações', você saberá que está com a saúde melhor."

Evidentemente clara uma postura de autoeducação, e enfim, do que está posto aqui, a partir da leitura da obra dos estoicos e de Epictetus, fica recomendado que filosofar nessa direção é restabelecer a Saúde, portanto, prossigo com esta profilaxia. Medidas preventivas para que a saúde se mantenha.

“[5.b] Ἀπαιδεύτου ἔργον τὸἄλλοις ἐγκαλεῖν, ἐφ' οἷς αὐτὸς πράσσει κακῶς· ἠργμένου παιδεύεσθαι τὸἑαυτῷ·πεπαιδευμένου τὸμήτε ἄλλῳμήτε ἑαυτῷ.

[5b] É ação de quem não se educou acusar os outros pelas coisas que ele próprio faz erroneamente. De quem começou a se educar, acusar a si próprio. De quem já se educou, não acusar os outros nem a si próprio.” (Ἐπικτήτου - Ἐγχειρίδιον – Epictetus. Traduzido por. Aldo Dinucci)

Não alimentar hábitos ruins, pois, reeducar-se no restabelecimento da saúde já é profilaxia a evitar desvios futuros. O projeto, por visar a Sabedoria prática, é um empreendimento bastante viável e extremamente relevante do ponto de vista existencial. Estou no caminho; fazendo o melhor.

(Texto em construção/correções)
.......

* (Caio Musónio Rufo - Filósofo estóico do primeiro século da “era cristã”. Nascido em Volsínios, na Etrúria. Viveu entre 25 d.C. - 95 d.C.)
** (Epictetus - Filósofo estóico).
______.
BIBLIOGRAFIA SEMPRE CONSULTADA


DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.
King, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.
LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.
LONG, A. A. How to be free. Princeton, New Jersey:  Princeton University Press, 2018.
______. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007.
Lutz, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.
Pritchard, M. “Philosophy for Children”. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2002. Acessado em 19 de agosto de 2016; fonte: http://plato.stanford.edu/entries/children/ .
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

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