Foi essa a reflexão da manhã de hoje. Um texto que também serviu para rememorar um dia ... "inefável":
Sobre a brevidade da vida – Sêneca
“Não temos exatamente uma vida curta,
mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida se bem empregada, é
suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização
de importantes tarefas. Ao contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença,
se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não
realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai.
Perscruta a tua memória:
- Quando atingiste um objetivo?
- Quantas vezes o dia transcorreu conforme o planejado?
- Quando usaste seu tempo contigo mesmo?
- Quanto mantiveste uma boa aparência, o espírito tranquilo?
- Quantas obras fizeste para ti com um tempo tão longo?
- Quantos não esbanjaram a tua vida sem que notasses o que estavas perdendo?
- O quanto de tua existência não foi retirado pelos sofrimentos sem necessidade, tolos contentamentos, paixões ávidas, conversas inúteis, e quão pouco te restou do que era teu?
Se pudéssemos apresentar a cada um a conta dos anos futuros, da mesma forma que se faz com os que já passaram, como tremeriam aqueles que vissem restar-lhe poucos anos e como os economizariam! Pois, se é fácil administrar o que, embora pouco, é certo, deve-se conservar com muito cuidado o que não se pode saber quando acabará.
A expectativa é o maior impedimento para viver: leva-nos para o amanhã e faz com que se perca o presente. Daquilo que depende do destino, abres mão; do que depende de ti, deixas fugir. Para onde voltas, para o que te dedicas? Todas as coisas que virão jazem na incerteza: vive daqui para diante.
Muito breve e agitada é a vida
daqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro.
Quando chegam ao fim, os coitados entendem, muito tarde, que estiveram ocupados
fazendo nada.
De fato, tudo aquilo que vem por acaso é instável, e o mais alto se eleva, mais facilmente cai. Ora, a ninguém as coisas decaídas causam deleite, É, portanto, evidente que seja não apenas muito curta, mas também muito infeliz a vida daqueles que a preparam com grande trabalho e que só podem conservar com esforços maiores ainda. Adquirem pessoalmente aquilo que desejam, possuem com apreensão o que adquiriram. Enquanto isso, não se dão conta do tempo que não voltará, novas preocupações substituem as antigas, uma esperança realizada faz nascer outra esperança, a ambição provoca a ambição.
Nunca faltarão motivos, felizes ou infelizes, para a preocupação. A vida ocorrerá através das ocupações; nunca o ócio será obtido, sempre desejado.”
______.
SÊNECA, Lúcio Aneu. Sobre a brevidade da vida. Porto Alegre, RS: L&PM, 2007.
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