(Imagem: Pinterest)
“...se queres progredir, conforma-te
em parecer insensato e tolo quanto às coisas exteriores. Não pretendas saber
coisa alguma.” (EPICTETO. Encheiridion. XIII).
Seguindo a leitura da obra dos estóicos, firmou-se há algum tempo por
aqui como busca: a serenidade. Esforço e prática constantes na intenção de cada
vez mais internalizar a convicção que a nossa real felicidade depende de uma
escolha nossa, jamais de coisas externas. Nos acontecimentos externos, algo há
que não está sob nosso controle, foge a esse. Portanto, nas adversidades, por
termos nos afastado da lei natural adotamos
julgamentos bastante equivocados sobre os eventos à nossa volta. Treino e
esforço na retomada da direção, de retorno à Lei, nos darão bases mais sólidas
para reformulação do nosso comportamento e, como consequência, qualificaremos
nossos hábitos (ethos).
No entanto,
“Nem toda
dificuldade e perigo é adequada para o treino, mas apenas aquela que é
conducente ao sucesso em atingir o objeto de nosso esforço. E qual é o objeto
de nosso esforço? Agir sem impedimento na escolha e na aversão. E o que isso
significa? Nem falhar em conseguir o que desejamos, nem cair naquilo que
queremos evitar” (EPICTETO.
Diatribes. III.XII.3-4).
O que, tanto Epicteto quanto os
estóicos, em geral, propõem, é que sejamos gratos por qualquer pequena coisa
que tenhamos e lembrarmos que há situações em que poderíamos estar piores do
que a que estamos hoje. Sempre estejamos ocupados em transformar cada dia que
tenhamos, numa oportunidade de trabalho pessoal na busca por virtudes. O único dano real que, poderá
nos acontecer é de que teremos de enfrentar as consequências das escolhas que
fizermos, para o Bem ou para o mal, ou seja, quando a nossa opção for por algo
distante das nossas possibilidades, que nos afaste da Lei e, acima de tudo,
perdemos tempo com coisas que fujam ao nosso controle. A estratégia, portanto, segue sendo a de procurar
compreensão sobre o que realmente são as coisas externas, fora da nossa alçada e
focarmos na construção nosso caráter, modificando nossos velhos hábitos.
Este, como propuseram os estóicos, e tenho refletido aqui e
anotado para escritos e práticas em andamento, é o único caminho verdadeiro; todo
o resto são apenas apetrechos e decorações; grandes ilusões que não podem,
definitivamente, enganar o mais importante juiz: nós mesmos. E, cada dia, entendido como oportunidade de progresso
cobra de nós pequenas atitudes.
Se realmente quisermos progredir...
Se realmente quisermos progredir...
“Ao amanhecer, diga a si mesmo: hoje me
depararei com um indiscreto, um ingrato, um insolente, um desleal, um invejoso,
um antissocial. Tudo isso lhes sucede por sua ignorância do bem e do mal. Mas
eu, que vi a natureza do bem, que é o certo, e a do mal, que é o errado, e a da
pessoa que comete a falta, que é afim à minha, partícipe não do mesmo sangue ou
semente, mas da mesma mente e da mesma partícula divina, não posso sofrer danos
de nenhum deles porque nenhum me infectará com seu erro. Nem posso indispor-me
com um semelhante ou odiá-lo, porque nascemos para uma tarefa comum, como os
pés, como as mãos, como as pálpebras, como os maxilares superior e inferior. De
modo que agir uns contra os outros vai contra a natureza: e oposição são a ira
e a rejeição. (MARCO AURÉLIO. Meditações, II, 1)”
É, portanto, tarefa pessoal e
intransferível.
______.
DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion
de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de
Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS,
2012. (Edição Bilíngue)
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928. https://www.loebclassics.com/
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.
MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1)
PRITCHARD, M. “Philosophy for Children”. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2002. Acessado em 19 de agosto de 2016;
Fonte: http://plato.stanford.edu/entries/children/ .
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.
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