(IMAGEM: Pinterest)
"A alma é como uma tigela com
água e nossas percepções são como os raios de luz sobre a água. Quando a água
está turbulenta, parece que a própria luz também se move, mas ela não se moveu.
Quando uma pessoa perde a cabeça, não são as virtudes ou as habilidades que
estão turbulentas, mas o espírito no qual elas existem, e quando o espírito se
acalma, tudo se acalma." (Epictetus. Diatribes, III, 3, 20-22).
Uma vez mais, como tenho considerado
aqui, mais uma reflexão, extraída dos escritos estoicos. A filosofia pensada
numa chave de profunda relevância prática tem me possibilitado variadas ocasiões
no cotidiano, inúmeras situações como as descritas acima, na observação de uma
simples tigela com água a refletir e turvar a luz que nela reflete
Entre tantas, sobram as chances de
reflexão que se apresentam, sempre nos oferecendo oportunidades para a prática dos
“princípios filosóficos”, em busca de
moderação, serenidade diante dos acontecimentos, e mesmo diante da
"morte", da autoeducação diante dos intempéries da
vida, como o próprio Sócrates e os estóicos ensinavam.
Esse método, aprendi, recentemente,
de Musônio Rufo, que o apresentava como "meditação retrospectiva
noturna" que, aliás, assemelha-se bastante com uma proposta de Agostinho
de Hipona quando propunha uma reflexão sobre o que fizemos de bom ou ruim ao
longo de cada dia e o estabelecimento de "metas" a serem vencidas
para a melhora da conduta a partir de cada novo dia que tem início.
E, acima de tudo, nunca esquecer, num
plano mais geral, que a incessante busca, a realização destes “exercícios” práticos tem como
ponto básico alcançarmos o tão desejado estado em nós, da eustatheia (tranquilidade)
e da euthymia (crença
em si).
Metas muito mais elevadas que fixarmos
nossas buscas a partir de referenciais externos, de modelos ruins... Pois:
“[19b] Ao veres alguém
preferido em honras, ou muito poderoso, ou mais estimado, presta atenção para
que jamais creias – arrebatado pela representação – que ele seja feliz. Pois se
a essência do bem está nas coisas que são encargos nossos, não haverá espaço
nem para a inveja, nem para o ciúme. Tu mesmo não irás querer ser nem general,
nem prítane ou cônsul, mas homem livre. E o único caminho para isso é desprezar
o que não é encargo nosso.”
“[19.b] ὅρα μή ποτε ἰδών
τινα προτιμώμενον ἢ μέγα δυνάμενον ἢ ἄλλως εὐδοκιμοῦντα μακαρίσῃς, ὑπὸ τῆς
φαντασίας συναρπασθείς. ἐὰν γὰρ ἐν τοῖς ἐφ' ἡμῖν ἡ οὐσία τοῦ ἀγαθοῦ ᾖ, οὔτε φθόνος
οὔτε ζηλοτυπία χώραν ἔχει· σύ τε αὐτὸς οὐ στρατηγός, οὐ πρύτανις ἢ ὕπατος εἶναι
θελήσεις, ἀλλ' ἐλεύθερος. μία δὲ ὁδὸς πρὸς τοῦτο, καταφρόνησις τῶν οὐκ ἐφ' ἡμῖν.”
Acima de tudo, nunca é
demais reforçar e reafirmar os propósito e prosseguirmos.
"[...] quando o espírito se acalma, tudo se acalma."
______.
DINUCCI, A.; JULIEN,
A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra,
2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre
I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book
I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O
Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São
Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)
______. Testemunhos
e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS,
2008.
EPICTETUS. The Discourses
of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad.
Oldfather. Harvard: Loeb, 1928. https://www.loebclassics.com/
HADOT, Pierre. The
inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard
University Press, 2001.
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