segunda-feira, 20 de maio de 2019

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA X; ESTAR NO MUNDO


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(IMAGEM: Pinterest)


"A alma é como uma tigela com água e nossas percepções são como os raios de luz sobre a água. Quando a água está turbulenta, parece que a própria luz também se move, mas ela não se moveu. Quando uma pessoa perde a cabeça, não são as virtudes ou as habilidades que estão turbulentas, mas o espírito no qual elas existem, e quando o espírito se acalma, tudo se acalma." (Epictetus. Diatribes, III, 3, 20-22).

Uma vez mais, como tenho considerado aqui, mais uma reflexão, extraída dos escritos estoicos. A filosofia pensada numa chave de profunda relevância prática tem me possibilitado variadas ocasiões no cotidiano, inúmeras situações como as descritas acima, na observação de uma simples tigela com água a refletir e turvar a luz que nela reflete
Entre tantas, sobram as chances de reflexão que se apresentam, sempre nos oferecendo oportunidades para a prática dos “princípios filosóficos”, em busca de moderação, serenidade diante dos acontecimentos, e mesmo diante da "morte", da autoeducação diante dos intempéries da vida, como o próprio Sócrates e os estóicos ensinavam.
Esse método, aprendi, recentemente, de Musônio Rufo, que o apresentava como "meditação retrospectiva noturna" que, aliás, assemelha-se bastante com uma proposta de Agostinho de Hipona quando propunha uma reflexão sobre o que fizemos de bom ou ruim ao longo de cada dia e o estabelecimento de "metas" a serem vencidas para a melhora da conduta a partir de cada novo dia que tem início.
E, acima de tudo, nunca esquecer, num plano mais geral, que a incessante busca, a realização destes “exercícios” práticos tem como ponto básico alcançarmos o tão desejado estado em nós, da eustatheia (tranquilidade) e da euthymia (crença em si).
Metas muito mais elevadas que fixarmos nossas buscas a partir de referenciais externos, de modelos ruins... Pois:

[19b] Ao veres alguém preferido em honras, ou muito poderoso, ou mais estimado, presta atenção para que jamais creias – arrebatado pela representação – que ele seja feliz. Pois se a essência do bem está nas coisas que são encargos nossos, não haverá espaço nem para a inveja, nem para o ciúme. Tu mesmo não irás querer ser nem general, nem prítane ou cônsul, mas homem livre. E o único caminho para isso é desprezar o que não é encargo nosso.”

[19.b] ὅρα μή ποτε ἰδών τινα προτιμώμενον ἢ μέγα δυνάμενον ἢ ἄλλως εὐδοκιμοῦντα μακαρίσῃς, ὑπὸ τῆς φαντασίας συναρπασθείς. ἐὰν γὰρ ἐν τοῖς ἐφ' ἡμῖν ἡ οὐσία τοῦ ἀγαθοῦ ᾖ, οὔτε φθόνος οὔτε ζηλοτυπία χώραν ἔχει· σύ τε αὐτὸς οὐ στρατηγός, οὐ πρύτανις ἢ ὕπατος εἶναι θελήσεις, ἀλλ' ἐλεύθερος. μία δὲ ὁδὸς πρὸς τοῦτο, καταφρόνησις τῶν οὐκ ἐφ' ἡμῖν.”

Acima de tudo, nunca é demais reforçar e reafirmar os propósito e prosseguirmos.

"[...] quando o espírito se acalma, tudo se acalma."  

______.
DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

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