segunda-feira, 9 de setembro de 2019

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XVI: REEDUCAR-SE INTERNAMENTE



Uma paisagem possível.
(IMAGEM: "Pinterest")

"Ou a dor é um mal para o corpo: então que este o diga. Ou é um mal para a alma: mas à alma é permitido conservar a própria serenidade e não admitir que seja um mal — porque raciocínio, tendência, desejo e aversão residem em nós mesmos, e nenhum mal nos atinge."
(MARCO AURÉLIO. Meditações. VIII : 28)

Texto do Imperador filósofo com profunda influência de Epicteto.

Prossigo aqui, fugindo de discursos, com a leitura das poucas obras escolhidas para orientar-me os passos na caminhada. A obra dos estoicos, tenho dito, firmou-se há algum tempo nesse conjunto com um único objetivo: alcançar a imperturbável paz de espírito (ataraxia). Por serenidade se esforça por aqui!

Esforço e prática constantes na condução dos estudos para, cada vez mais internalizar a convicção de que a real felicidade depende de uma escolha nossa, jamais de coisas externas. Dos acontecimentos externos, quase nada está sob nosso controle, portanto, nas adversidades, devido à não disciplina em termos de prosoché, afastamo-nos da Lei natural e adotamos julgamentos bastante equivocados sobre os eventos à nossa volta.

Como profilaxia, portanto, intensificamos os treinos e esforços, há muito iniciados por serem necessários na retomada da direção, do retorno à Lei. Só assim volveremos às bases mais sólidas para reformulação do nosso comportamento e, como consequência, qualificarmos nossos hábitos. Sempre atentos e vigilantes, um Prokopton sabe o que quer fazer a cada instante e, compreende o que está sob seu controle e o que não está. Viverá, assim, sua vida: tranquilamente. 

Ademais quem se pretenda dedicar a esse roteiro, fácil será perceber desde que se decida, que o homem é infeliz à medida que se empenha tresloucadamente na conquista de bens exteriores, que não pode alcançar e por fugir cegamente de “males” que são naturalmente inevitáveis.

Segundo os estoicos, de quem estamos seguindo as leituras, é necessário uma mudança no modo de olhar o mundo e as ações, uma conversão: metanoia. O caminho é reeducar-se cada ser humano na busca do Bem que está ao seu alcance para que, daí descubra que o que lhe sucede não é necessariamente um mal a paralisá-lo. Haverá o que lhe foge ao controle e por isso, o esforço no que está sob seu controle, o interior, é o que deve fazer todos os dias; incessantemente.

­­­______.
DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1)

PRITCHARD, M. “Philosophy for Children”. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2002. Acessado em 19 de agosto de 2016; Fonte: http://plato.stanford.edu/entries/children/ .

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.


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