(IMAGEM: στοά Stoa de Átalo)
Nas poucas vezes em que
paro para conversar e aprender a ouvir, ocorrem-me experiências como as que anoto
aqui. Numa dessas recentes conversas, inspirei-me a retornar a estrada há pouco
percorrida, numa fase de bastante entusiasmo sobre o tema.
Hoje, como em tudo, o
exercício por moderação cresce, se intensifica e fazço esforços para que sejam
rotineiros.
Um jeito mais sereno de
encarar a vida, influenciado pela leitura e releitura de clássicos que antes
lia sem uma atenção mais sistemática; sem desviar o foco, claro. Uma rejeição a
um otimismo ou pessimismo ingênuos é necessária aqui. Por meio termo.
No entanto, o que se pretende é evitar os
“novos métodos ‘vale-tudo’” de reflexão tomada como avanço. Não são!
São mesmo proliferação
de simplificações e relativismos!
Sempre, mantidas as leituras fundamentais, os
grandes textos clássicos sobre Ética, Física e Lógica, e aqui, revisitando
um texto de Fernando pessoa bem interessante, uma referência à filosofia
estoica.
“NO JARDIM DE EPÍCTETO
O aprazível de ver estes
frutos, e a frescura que sai d'estas árvores frondosas, são — disse o Mestre, —
outras tantas solicitações da natureza para que nos entreguemos às melhores
delícias de um pensamento sereno. Não há melhor hora para a meditação da vida,
ainda que seja inútil, do que esta em que, sem que o sol esteja no ocaso, já a
tarde perde o calor do dia e parece que sobe vento do arrefecimento dos campos.
São muitas as questões em
que nos ocupamos, e grande é o tempo que perdemos em descobrir que nada podemos
nelas. Pô-las de parte, como quem passa sem querer ver, fora muito para homem e
pouco para deus; entregarmo-nos a elas, como a um senhor, fora vender o que não
temos.
Sossegai comigo à sombra
das árvores verdes, em que não pesa mais pensamento que o secarem-lhes as
folhas quando vem o outono, ou esticarem múltiplos dedos hirtos para o céu frio
do inverno passageiro. Sossegai comigo e meditai quanto o esforço é inútil, a
vontade estranha; e a própria meditação, que fazemos, nem mais útil que o esforço,
nem mais nossa que a vontade. Meditai também que uma vida que não quer nada não
pode pesar no decurso das coisas, mas uma vida que quer tudo também não pode
pesar no decurso das coisas, porque não pode obter tudo. E o obter menos que
tudo não é digno das almas que solicitam a verdade.
Mais vale, filhos, a
sombra de uma árvore do que o conhecimento da verdade, porque a sombra da
árvore é verdadeira enquanto dura, e o conhecimento da verdade é falso no
próprio conhecimento.
Mais vale, para um justo entendimento, o verdor das
folhas que um grande pensamento, pois o verdor das folhas, podeis mostrá-lo aos
outros, e nunca podereis mostrar aos outros um grande pensamento.
Nascemos sem
saber falar e morremos sem ter sabido dizer. Passa-se nossa vida entre o
silêncio de quem está calado e o silêncio de quem não foi entendido, e em torno
d'isto, como uma abelha em torno de onde não há flores, paira incógnito um
inútil destino."
(s.d.)
De constância, vida se faz!
______.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion
de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci;
Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão.
Universidade Federal de Sergipe, 2012).
DESCARTES, René. As paixões da alma.
São Paulo: Martins Fontes, 1998.
DINUCCI, A.; JULIEN, A. O
Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV.
Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book
I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS,
2008.
EPICTETUS. The Discourses of
Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.
HADOT, Pierre. The inner citadel: the
meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.
PESSOA, Fernando. Poema Inédito. - Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes -. Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
PESSOA, Fernando. Poema Inédito. - Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes -. Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5.
ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário