quinta-feira, 31 de outubro de 2019

REFLEXÃO MATINAL LIX: BUSCA POR ATARAXIA E APATHEIA


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(IMAGEM: "Pinterest")


Mantém livre o seu princípio diretor!
"Apaga a imaginação; acalma o impulso; extingue o desejo: domina a tua alma." (MARCO AURÉLIO. Meditações. IX,7)

Prosseguindo com as reflexões, estabelecidas já há algum tempo, como projeto na reforma da conduta pessoal para melhor compreensão do que seja desenvolver e aplicar a virtude, decidi investir em aprimorar as emoções nesse sentido, exatamente por pressupor que tais podem ser revertidas, ao contrário de concepções mirabolantes que dominam o "mercado", em força interior, para resistir aos assaques ou provocações externas. 
E, para uma consideração desse elemento na constituição da imperturbável tranquilidade da alma, vale considerar, antes, de anotar o que escolhi dos estoicos para o dia que começava, hoje, um trecho da uma obra de Descartes.

Diz Descartes, em sua obra sobre “As paixões da alma”, ponto de partida da reflexão da manhã:

"Ora, visto que essas emoções interiores nos tocam mais de perto e têm, por conseguinte, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com elas, e das quais diferem, é certo que, contanto que a alma tenha sempre do que se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que vêm de outras partes não dispõem de poder algum para prejudicá-la. Servem, antes, para lhe aumentar a alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por elas ofendido, conhecer com isso a sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha assim do que estar contente, precisa apenas seguir estritamente a virtude. Pois quem quer que haja vivido de tal maneira que sua consciência não possa censurá-lo de alguma vez ter deixado de fazer todas as coisas que julgou serem as melhores (que é o que chamo aqui seguir a virtude), recebe daí uma satisfação tão poderosa para torná-lo feliz que os mais violentos esforços da paixão nunca têm poder suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma".

Ora,

A imperturbável paz de espírito (ataraxía - ἀταραξία):

Um dos pontos centrais da filosofia estoica: a conquista da felicidade por meio da ataraxia, um ideal de imperturbável tranquilidade em que seria possível viver de forma serena e com absoluta paz de espírito. E, o estoicos, defendiam e ensinavam que o homem só pode alcançar plena felicidade mediante aquisição de virtudes e aperfeiçoamento dos conhecimentos.

A tranquilidade (apátheia - ἀπάθεια):

Na busca pela vida tranquila e feliz, a proposta da filosofia estoica era de que os fatores externos que comprometessem a perfeição moral e intelectual devem ser ignorados, superados, tratados com apátheia. Mesmo nas dificuldades, a reação indicada ao ser humanos, era sempre agir com muita calma e tranquilidade, sem que fatores externos perturbem nossa capacidade de julgar ou reagir.

Portanto, nesta caminhada, como também já citado aqui, de Séneca (2014):

"Sempre que queiras saber qual a atitude a evitar ou a assumir, regula-te pelo bem supremo, pelo objetivo de toda a tua vida. Todas as nossas ações devem conformar-se com o bem supremo: somente é capaz de determinar as ações individuais o homem que possui a noção do objetivo supremo da vida". 
____.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).


DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by ArrianFragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001. 

(SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian. Livro VIII - "Carta 71", 2014).

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