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A reflexão aqui proposta é uma continuação de uma outra, iniciada em salas de aula, durante alguns anos, com o texto, também de Platão, o "Ménon" (70a - 74b), sobre o que é virtude (areté) e se esta pode ser "ensinada" ou é "inata". Sócrates e Ménon discutem sobre esta questão.
A tentativa de aproximação entre dois textos de Platão, o "Ménon" e este, apresentado abaixo; "O anel de Giges", retirado da "República", (livros II e III) visa uma reflexão, mais especificamente, sobre a prática da "Virtude".
Diferente de se pensar se é inata ou adquirida, a questão agora, no "Anel de Giges", é pensar se, sob certas condições, os homens agem em oposição ao que se espera de cada um.
Trata-se de Platão, na sua obra "A República" (Livro II e III, principalmente em 359b - 360a): "O
mito do Anel de Giges" - em que se discute se "os homens só são justos porque temem o castigo.
A conduta ética depende apenas do medo da punição?"
Ao texto, reflitamos:
"(359b-360a) Glauco:
Vamos provar que a justiça só é praticada contra a própria vontade dos
indivíduos e devido à incapacidade de se fazer a injustiça, imaginando o que se
segue. Vamos supor que se dê ao homem de bem e ao injusto igual poder de fazer
o que quiserem, seguindo-os para ver até onde os leva a paixão. Veremos com
surpresa o homem de bem tomar o mesmo caminho que o injusto, este impulsionado
a querer sempre mais, impulso que se encontra em toda natureza, mas ao qual a
força da lei impõe limites. O melhor meio de testá-los da maneira como
digo seria dar-lhes o mesmo poder que, segundo dizem, teve Giges, o
antepassado do rei da Lídia. Giges era um pastor a serviço do então
soberano da Lídia.
Devido a uma terrível tempestade e a um terremoto, abriu-se uma fenda no chão no local onde pastoreava o seu rebanho. Movido pela curiosidade, desceu pela fenda e viu, admirado, um cavalo de bronze, oco, com aberturas. E ao olhar através de uma das aberturas viu um homem de estatura gigantesca que parecia estar morto. O homem estava nu e tinha apenas um anel de ouro na mão. Giges o pegou e foi embora. Mais tarde, tendo os pastores se reunido, como de hábito, para fazer um relatório sobre os rebanhos ao rei, Giges compareceu à reunião usando o anel. Sentado entre os pastores, girou por acaso o anel, virando a pedra para o lado de dentro de sua mão, e imediatamente tornou-se invisível para os outros, que falavam dele como se não estivesse ali, o que o deixou muito espantado. Girou de novo o anel, rodando a pedra para fora, e tornou-se novamente visível. Perplexo, repetiu o feito para certificar-se de que o anel tinha esse poder e concluiu que ao virar a pedra para dentro tornava-se invisível e ao girá-la para fora voltava a ser visível. Tendo certeza disso, juntou-se aos pastores que iriam até o rei como representantes do grupo. Chegando ao palácio, seduziu a rainha e com a ajuda dela atacou e matou o soberano, apoderando-se do trono. Vamos supor agora que existam dois anéis como este e que seja dado um ao justo e outro ao injusto. Ao que parece não encontraremos ninguém suficientemente dotado de força de vontade para permanecer justo e resistir à tentação de tomar o que pertence a outro, já que poderia impunemente tomar o que quisesse no mercado, invadir as casas e ter relações sexuais com quem quisesse, matar e quebrar as armas dos outros. Em suma, agir como se fosse um deus. Nada o distinguiria do injusto, ambos tenderiam a fazer o mesmo e veríamos nisso a prova de que ninguém é justo porque deseja, mas por imposição. A justiça não é, portanto, uma qualidade individual, pois sempre que acreditarmos que podemos praticar atos injustos não deixaremos de fazê-lo.
De fato, todos os homens creem que a injustiça lhes traz individualmente mais vantagens do que a justiça, e têm razão, se levarmos em conta os adeptos dessa doutrina. Se um homem que tivesse tal poder não consentisse nunca em cometer um ato injusto e tomar o que quisesse de outro, acabaria por ser considerado, por aqueles que conhecessem o seu segredo, como o mais infeliz e tolo dos homens. Não deixariam de elogiar publicamente a sua virtude, mas para disfarçarem, por receio de sofrerem eles próprios alguma injustiça. Era isso o que tinha a dizer.”
Devido a uma terrível tempestade e a um terremoto, abriu-se uma fenda no chão no local onde pastoreava o seu rebanho. Movido pela curiosidade, desceu pela fenda e viu, admirado, um cavalo de bronze, oco, com aberturas. E ao olhar através de uma das aberturas viu um homem de estatura gigantesca que parecia estar morto. O homem estava nu e tinha apenas um anel de ouro na mão. Giges o pegou e foi embora. Mais tarde, tendo os pastores se reunido, como de hábito, para fazer um relatório sobre os rebanhos ao rei, Giges compareceu à reunião usando o anel. Sentado entre os pastores, girou por acaso o anel, virando a pedra para o lado de dentro de sua mão, e imediatamente tornou-se invisível para os outros, que falavam dele como se não estivesse ali, o que o deixou muito espantado. Girou de novo o anel, rodando a pedra para fora, e tornou-se novamente visível. Perplexo, repetiu o feito para certificar-se de que o anel tinha esse poder e concluiu que ao virar a pedra para dentro tornava-se invisível e ao girá-la para fora voltava a ser visível. Tendo certeza disso, juntou-se aos pastores que iriam até o rei como representantes do grupo. Chegando ao palácio, seduziu a rainha e com a ajuda dela atacou e matou o soberano, apoderando-se do trono. Vamos supor agora que existam dois anéis como este e que seja dado um ao justo e outro ao injusto. Ao que parece não encontraremos ninguém suficientemente dotado de força de vontade para permanecer justo e resistir à tentação de tomar o que pertence a outro, já que poderia impunemente tomar o que quisesse no mercado, invadir as casas e ter relações sexuais com quem quisesse, matar e quebrar as armas dos outros. Em suma, agir como se fosse um deus. Nada o distinguiria do injusto, ambos tenderiam a fazer o mesmo e veríamos nisso a prova de que ninguém é justo porque deseja, mas por imposição. A justiça não é, portanto, uma qualidade individual, pois sempre que acreditarmos que podemos praticar atos injustos não deixaremos de fazê-lo.
De fato, todos os homens creem que a injustiça lhes traz individualmente mais vantagens do que a justiça, e têm razão, se levarmos em conta os adeptos dessa doutrina. Se um homem que tivesse tal poder não consentisse nunca em cometer um ato injusto e tomar o que quisesse de outro, acabaria por ser considerado, por aqueles que conhecessem o seu segredo, como o mais infeliz e tolo dos homens. Não deixariam de elogiar publicamente a sua virtude, mas para disfarçarem, por receio de sofrerem eles próprios alguma injustiça. Era isso o que tinha a dizer.”
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Eis, portanto, bons textos sugeridos para reflexão sobre nossas atitudes.
- A principal questão: o que nós faríamos se tivessemos um tal anel?
- A nossa resposta nos colocaria em cheque sobre como agiríamos ou devessemos agir?
- Ora, Giges se apossa de algo que não lhe pertence, em seguida, percebendo o repentino poder, se corrompe. Seu lado "ruim" vem à tona. Nas mesmas condições, faríamos diferente?
- Com a "história" de Giges, refletiríamos sobre o que criticamos nos outros. Se já percebessemos tal "inclinação"; tentaríamos corrigir em nós?
______.
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética. Rio Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2007. p. 30-32).
PLATÃO. Ménon. 8. ed. São Paulo: Loyola, 2001.
______. República. 12. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2001.
______. República. 3. ed. Belém, PA: EDUFPA. Trad. Carlos Alberto Nunes, 2000.
______. República. 3. ed. Belém, PA: EDUFPA. Trad. Carlos Alberto Nunes, 2000.
Vídeo "Anel de Giges": https://www.youtube.com/watch?v=QqB-s0nvdUs
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