quinta-feira, 18 de junho de 2020

REFLEXÃO MATINAL XL: SE A RAZÃO PREVALECER

Livro, a chave do conhecimento.
(IMAGEM: "Pinterest")

“ Aquele que possui prudência é também contido, o que possui autocontenção também é inabalável, o inabalável é imperturbável, o imperturbável está livre da tristeza, o que está livre da tristeza é feliz. Portanto, o prudente é feliz, e a prudência é suficiente para constituir a vida feliz.” (SÉNECA*, 2014, Carta LXXXV : 2)

Como tenho anotado aqui, na verdade, para reflexão e aplicação a mim, e que acabo compartilhando.

Recordo que os estoicos adotam, a reflexão matinal, como uma preparação para o dia que surge e que aplica-se ao dia que se inicia e aos dias seguintes; por toda vida. 

O prokopton, ao levantar-se pela manhã, deverá ter sempre essa meta.

Também recomendam uma “meditação retrospectiva noturna” (bem próximo do que Agostinho de Hipona também recomendou).

O aspirante à sabedoria, deverá exercitar-se para ter sempre boas coisas em mente quando o dia começa; deve ocupar-se com os “tà eph’hēmîn”,  com os encargos  que sejam verdadeiramente seu dever pessoal . Começa, toda manhã, ao despertar, perguntando-se: o que, na verdade, deve ser o foco para alcançar a  Ἀταραξία – ataraxia: "imperturbabilidade de espírito"?

E, durante todo dia, todos os dias, a meta deverá ser uma disciplina interior.

Portanto, retornando ao tema, reli pela manhã sobre o assunto, reencontrando-me com a passagem das "Paixões da alma", de René Descartes:

“Mas, como a maioria de nossos desejos se estende a coisas que não dependem de nós nem todas de outrem, devemos exatamente distinguir nelas o que depende apenas de nós, a fim de estender nosso desejo tão-somente a isso; e quanto ao mais, embora devamos considerar sua ocorrência inteiramente fatal e imutável, a fim de que nosso desejo não se ocupe de modo algum com isso, não devemos deixar de considerar as razões que levam mais ou menos a esperá-la, a fim de que essas razões sirvam para regular nossas ações” (Paixões da alma, 1983. § 146).

Junto a essa de Descartes, duas outras citações, que reforçam, p\ra mim, a necessidade de reorientarmos nossa tarefa se pretendemos ser um Prokopton. Fundamental para a persistência no aprendizado. Vejamos:

“[...]

Novamente, não faz diferença a grandeza da paixão; não importa qual seu tamanho possa ser, não reconhece nenhuma obediência, e não dá boas-vindas ao conselho. Assim como nenhum animal, selvagem ou domesticado, obedece à razão, já que natureza os fez surdos ao conselho; assim as paixões não seguem nem escutam, por mais que sejam moderadas. Tigres e leões nunca adiam a sua selvageria; eles às vezes a moderam, e então, quando você está menos preparado, sua ferocidade adormecida é despertada para a loucura. Vícios nunca são domesticados.

Novamente, se a razão prevalecer, as paixões nem sequer começarão; mas se elas se encaminharem contra a vontade da razão, elas se manterão contra a vontade da razão. Pois é mais fácil detê-las no começo do que controlá-las quando ganham força. Este meio caminho (atenuação dos vícios, admitida pelos peripatéticos) é, portanto, enganoso e inútil; deve ser considerado como a declaração de que devemos ser moderadamente insanos ou moderadamente doentes.”

A se pensar!

______.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

*SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014. (Carta LXXXV : 2, 8-9)

 



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