“ Aquele que possui prudência é
também contido, o que possui autocontenção também é inabalável, o inabalável é
imperturbável, o imperturbável está livre da tristeza, o que está livre da
tristeza é feliz. Portanto, o prudente é feliz, e a prudência é suficiente para
constituir a vida feliz.” (SÉNECA*, 2014, Carta LXXXV : 2)
Como tenho anotado aqui, na verdade, para reflexão e aplicação a mim, e que acabo compartilhando.
Recordo que os estoicos
adotam, a reflexão matinal, como uma preparação para o dia que surge e
que aplica-se ao dia que se inicia e aos dias seguintes; por toda vida.
O prokopton, ao levantar-se
pela manhã, deverá ter sempre essa meta.
Também recomendam
uma “meditação retrospectiva noturna” (bem
próximo do que Agostinho de Hipona também
recomendou).
O aspirante à sabedoria, deverá exercitar-se para ter
sempre boas coisas em mente quando o dia começa; deve ocupar-se com os “tà
eph’hēmîn”, com os encargos que sejam
verdadeiramente seu dever pessoal . Começa, toda manhã, ao despertar,
perguntando-se: o que, na verdade, deve ser o foco para alcançar a Ἀταραξία – ataraxia: "imperturbabilidade de espírito"?
E, durante todo dia,
todos os dias, a meta deverá ser uma disciplina interior.
Portanto, retornando ao
tema, reli pela manhã sobre o assunto, reencontrando-me com a passagem das "Paixões
da alma", de René Descartes:
“Mas,
como a maioria de nossos desejos se estende a coisas que não dependem de nós
nem todas de outrem, devemos exatamente distinguir nelas o que depende apenas
de nós, a fim de estender nosso desejo tão-somente a isso; e quanto ao mais,
embora devamos considerar sua ocorrência inteiramente fatal e imutável, a fim
de que nosso desejo não se ocupe de modo algum com isso, não devemos deixar de
considerar as razões que levam mais ou menos a esperá-la, a fim de que essas
razões sirvam para regular nossas ações” (Paixões da alma, 1983. § 146).
Junto a essa de
Descartes, duas outras citações, que reforçam, p\ra mim, a necessidade de reorientarmos
nossa tarefa se pretendemos ser um Prokopton.
Fundamental para a persistência no aprendizado. Vejamos:
“[...]
Novamente,
não faz diferença a grandeza da paixão; não importa qual seu tamanho possa ser,
não reconhece nenhuma obediência, e não dá boas-vindas ao conselho. Assim como
nenhum animal, selvagem ou domesticado, obedece à razão, já que natureza os fez
surdos ao conselho; assim as paixões não seguem nem escutam, por mais que sejam
moderadas. Tigres e leões nunca adiam a sua selvageria; eles às vezes a
moderam, e então, quando você está menos preparado, sua ferocidade adormecida é
despertada para a loucura. Vícios nunca são domesticados.
Novamente,
se a razão prevalecer, as paixões nem sequer começarão; mas se elas se
encaminharem contra a vontade da razão, elas se manterão contra a vontade da
razão. Pois é mais fácil detê-las no começo do que controlá-las quando ganham
força. Este meio caminho (atenuação dos vícios, admitida pelos peripatéticos)
é, portanto, enganoso e inútil; deve ser considerado como a declaração de que
devemos ser moderadamente insanos ou moderadamente doentes.”
A se pensar!
______.
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