quarta-feira, 8 de julho de 2020

“INDUÇÃO” E “DEMARCAÇÃO”: OS DOIS PROBLEMAS FUNDAMENTAIS DA “TEORIA DO CONHECIENTO” EM POPPER

Tem sido uma constante, nesse tópico “filosofia da ciência”, na leitura dos clássicos da área, que eu encaminhe minhas reflexões sobre a forma como Popper trata a importância e relevância da metafísica ante o “critério de demarcação científica” (Popper, 1972).

De grande importância, para mim, ainda que Popper não tenha desenvolvido claramente essa questão em suas obras, quis ler aqui: qual pode ser a importância da metafísica para a investigação do conhecimento científico, ainda hoje. Certo é que Karl R. Popper não nega os pressupostos de teor metafísico na produção da ciência.

Assim, admitindo que haja tal relevância, importante que se investigue a função que a metafísica teria no desenvolvimento e produção da ciência. Popper defendeu tal relevância da metafísica em torno das “teorias da ciência”, presente, segundo ele, desde a antiguidade.

Leitor de Kant, retomo a questão sem me afastar das referências básicas e, para me manter refletindo sobre “os dois os problemas fundamentais da teoria do conhecimento: o problema da indução (problema de Hume) e o problema da demarcação (problema de Kant)”:

“Escritos entre 1930 e 1933 por Karl Popper, os ensaios que compõem esta obra, até agora inédita em português, precedem e dão origem ao clássico A lógica da pesquisa cientifica. No livro, o filósofo identifica os dois problemas fundamentais, que estão igualmente na base dos problemas clássicos e modernos da teoria do conhecimento – o da “indução” e o da “demarcação” – e busca reduzi-los a um único problema. Debruçado sobre o “problema da indução”, que se refere à validade ou à justificação das proposições universais das ciências empíricas, Popper pergunta: “Enunciados factuais, que se baseiam na experiência, podem ser válidos universalmente? É possível saber mais do que se sabe?”. E, voltando-se ao “problema da demarcação”, concernente ao critério de demarcação científica, questiona: “Como se pode, em caso de dúvida, decidir se temos diante de nós uma proposição científica ou ‘apenas’ uma afirmação metafísica? Quando uma ciência não é uma ciência?”. Essa última não é questão meramente de definição (“O que é ciência?”), mas envolve o centro do que se deve entender como o saudável método científico, aquele procedimento responsável pelo impressionante progresso da ciência empírica. Este livro representa, enfim e acima de tudo, uma nova tentativa de solução dessas questões cruciais e entrelaçadas da metodologia e teoria da ciência, paralelamente à eliminação dos pressupostos não percebidos e não examinados que levaram à aparente insolubilidade dos problemas da indução e demarcação.”

(os grifos e destaques são meus)

______.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 3, ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.

POPPER, K. (1993). Lógica da pesquisa científica. São Paulo: Edusp.

______. Conjecturas e refutações. Trad. Bath S. Brasília: UB, 1972.

______. Os dois problemas fundamentais da teoria do conhecimento. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

______. O conhecimento e o problema mente-corpo. Lisboa: Edições 70, 2009.

______; ECCLES, J. C. O cérebro e o pensamento. Campinas, SP: Papirus; Brasília, DF: Ed. Universidade de Brasília, 1992.

______. O conhecimento objetivo. Belo Horizonte, MG: Itatiaia, 1999.

______. O eu e seu cérebro. Campinas, SP: Papirus; Brasília, DF: Ed. Universidade de Brasília, 1995.


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