Tem
sido uma constante, nesse tópico “filosofia da ciência”, na leitura dos
clássicos da área, que eu encaminhe minhas reflexões sobre a forma como Popper
trata a importância e relevância da metafísica ante o “critério de demarcação científica” (Popper, 1972).
De
grande importância, para mim, ainda que Popper não tenha desenvolvido claramente essa questão
em suas obras, quis ler aqui: qual pode ser a importância da metafísica para a investigação do
conhecimento científico, ainda hoje. Certo é que Karl R. Popper não nega os pressupostos
de teor metafísico na produção da ciência.
Assim,
admitindo que haja tal relevância, importante que se investigue a função que a metafísica teria no desenvolvimento e
produção da ciência. Popper defendeu tal relevância da metafísica em torno das “teorias da ciência”, presente, segundo ele, desde a antiguidade.
Leitor
de Kant, retomo a questão sem me afastar das referências básicas e, para me
manter refletindo sobre “os dois os
problemas fundamentais da teoria do conhecimento: o problema da indução (problema de Hume) e o problema
da demarcação (problema de Kant)”:
“Escritos entre 1930 e 1933 por Karl
Popper, os ensaios que compõem esta obra, até agora inédita em português,
precedem e dão origem ao clássico A
lógica da pesquisa cientifica. No livro, o filósofo identifica os dois problemas fundamentais, que estão
igualmente na base dos problemas clássicos e modernos da teoria do conhecimento
– o da “indução” e o da “demarcação” – e busca reduzi-los a um
único problema. Debruçado sobre o “problema
da indução”, que se refere à validade ou à justificação das proposições
universais das ciências empíricas, Popper pergunta: “Enunciados factuais, que se baseiam na experiência, podem ser
válidos universalmente? É possível saber mais do que se sabe?”. E, voltando-se
ao “problema da demarcação”, concernente ao critério de demarcação científica,
questiona: “Como se pode, em caso de dúvida, decidir se temos diante de nós uma
proposição científica ou ‘apenas’ uma afirmação metafísica? Quando uma ciência
não é uma ciência?”. Essa última não é questão meramente de definição (“O que é
ciência?”), mas envolve o centro do que se deve entender como o saudável método
científico, aquele procedimento responsável pelo impressionante progresso da
ciência empírica. Este livro representa, enfim e acima de tudo, uma nova
tentativa de solução dessas questões cruciais e entrelaçadas da metodologia e
teoria da ciência, paralelamente à eliminação dos pressupostos não percebidos e
não examinados que levaram à aparente insolubilidade dos problemas da indução e demarcação.”
(os grifos e destaques são meus)
______.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 3, ed.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.
POPPER, K. (1993). Lógica da pesquisa científica. São
Paulo: Edusp.
______. Conjecturas e refutações. Trad.
Bath S. Brasília: UB, 1972.
______. Os dois problemas fundamentais da teoria do
conhecimento. São Paulo: Editora Unesp, 2013.
______. O conhecimento e o problema
mente-corpo. Lisboa: Edições 70, 2009.
______; ECCLES, J.
C. O cérebro e o pensamento. Campinas,
SP: Papirus; Brasília, DF: Ed. Universidade de Brasília, 1992.
______. O conhecimento objetivo. Belo
Horizonte, MG: Itatiaia, 1999.
______. O eu e seu cérebro. Campinas, SP:
Papirus; Brasília, DF: Ed. Universidade de Brasília, 1995.
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