quarta-feira, 21 de outubro de 2020

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XLII: AINDA A "CURA DAS PAIXÕES" (III)

 


Após fase muito difícil de retorno, como sempre, à leitura dos clássicos, de maneira o mais prudente possível - característica exigida a um  prokopton (προκόπτον) avançando por outros textos, sem nunca ultrapassar no que mais me interessa com essas buscas, o séc. XIX. O que veio depois, configurado como “contemporâneo” é parte do que dispenso e me afasto.

“Schwieriege wege führen oft zu schönen plätzen"

“Caminhos difíceis podem levar a belos lugares”

E, como já há algum tempo, venho reconfigurando abordagens teóricas, a forma pessoal de enfrentar um texto de grandes sábios, amplio o enfoque existencial num constante treino e esforços na direção da reformulação dos hábitos (ethos), na “cura das paixões”. Assim prossigo.

Inclusos tais treinos e esforços, pressupostos os exercícios, retiro da releitura de um dos livros Pierre Hadot, hoje, sobre o que ele chamou de “exercícios espirituais”, e anoto a divisão dos “exercícios” estoicos em dois grupos:

  • aqueles que desenvolvem a consciência de si direcionados a uma visão exata do mundo, da natureza e, 
  • aqueles que são orientados para a paz e tranquilidade interior (Inner Citadel).

Dadas tais recomendações, é necessário, como para Epicteto:

  •  a disciplina e a adoção desses “exercícios” na busca de euroia,
  • a mudança dos hábitos a ponto de reformular a teoria em prática,
  • reconhecer que é processo lento e exige persistência (perseverança).

 Por isso:

“Primeiro digira seus princípios, e então você terá certeza de não vomitá-los. [...] Mas depois que você tenha digerido estes princípios, mostre-nos alguma mudança em seu princípio governante [razão] que é devido a eles.” (D. III.XXII.3)

A proposta, portanto, é de alcançarmos o controle sobre nossos julgamentos, nossas escolhas (προαίρεσις) e assentimentos. Esforço válido e imprescindível! Diz Epicteto:

"Você vê, então, que é necessário para você vir a ser um frequentador das escolas, se você realmente deseja fazer um exame das decisões de sua própria vontade. E que este não é um trabalho para uma simples hora ou dia você sabe tão bem quanto eu.”

______.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. 
Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

______. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 907-912).

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixão. In: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

 

 

 

 

 

 

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