Após fase muito difícil de retorno, como
sempre, à leitura dos clássicos, de maneira o mais prudente possível -
característica exigida a um prokopton (προκόπτον) avançando por outros textos, sem nunca ultrapassar no que mais me interessa com essas buscas, o séc. XIX. O que veio depois,
configurado como “contemporâneo” é parte do que dispenso e me afasto.
“Schwieriege
wege führen oft zu schönen plätzen"
“Caminhos
difíceis podem levar a belos lugares”
E, como já há algum tempo, venho reconfigurando
abordagens teóricas, a forma pessoal de enfrentar um texto de grandes sábios,
amplio o enfoque existencial num constante treino e esforços na
direção da reformulação dos hábitos (ethos), na “cura
das paixões”. Assim prossigo.
Inclusos tais treinos e esforços,
pressupostos os exercícios, retiro da releitura de um dos livros Pierre Hadot, hoje, sobre o que ele
chamou de “exercícios espirituais”,
e anoto a divisão dos “exercícios”
estoicos em dois grupos:
- aqueles que desenvolvem a consciência de si direcionados a uma visão exata do mundo, da natureza e,
- aqueles que são orientados para a paz e tranquilidade interior (Inner Citadel).
Dadas tais recomendações,
é necessário, como para Epicteto:
- a mudança dos hábitos a ponto de reformular a teoria em prática,
- reconhecer que é processo lento e exige persistência (perseverança).
“Primeiro
digira seus princípios, e então você terá certeza de não vomitá-los. [...] Mas
depois que você tenha digerido estes princípios, mostre-nos alguma mudança em
seu princípio governante [razão] que é devido a eles.” (D. III.XXII.3)
A proposta, portanto, é
de alcançarmos o controle sobre nossos julgamentos, nossas
escolhas (προαίρεσις) e assentimentos. Esforço válido e
imprescindível! Diz Epicteto:
"Você
vê, então, que é necessário para você vir a ser um frequentador das escolas, se
você realmente deseja fazer um exame das decisões de sua própria vontade. E que
este não é um trabalho para uma simples hora ou dia você sabe tão bem quanto
eu.”
______.
DINUCCI, A.; JULIEN,
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