Foi essa a "meditação matinal" de hoje.
Ao prokopton:
“Então, almejando coisas de tamanha importância, lembra que é preciso que não te empenhes de modo comedido, mas que abandones completamente algumas coisas e, por ora, deixes outras para depois. Mas se quiseres aquelas coisas e também ter cargos e ser rico, talvez não obtenhas estas duas últimas, por também buscar as primeiras, e absolutamente não atingirás aquelas coisas por meio das quais unicamente resultam a liberdade e a felicidade (EPICTETO. Encheiridion. I,4).”
Par as meditações de hoje, tomei como base parte da obra “Meditações“, do imperador Marco
Aurélio; Livro IV.
Escritas em 167 d.C., Marco Aurélio (121-180), em 12
livros com máximas direcionadas a reflexões sobre o autoconhecimento; sobre crescimento pessoal, acrescentando excerto de Epicteto, Pierre Hadot, Donald Rbertson.
“‘Ocupa-te
de pouco’, diz ele, ‘para viveres satisfeito’ Não será melhor,
afinal, ocupar-se do necessário e de tudo que a razão do vivente sociável por
natureza decide e como o decide? Isso traz não só a satisfação do dever
cumprido mas também a de ocupar-se de pouco. Se eliminarmos a maior parte de
nossas palavras e ações, não farão falta, e nos sobrarão mais lazeres e
sossego. Deves, por isso, de cada vez, lembrar a ti mesmo: Não será isto uma
das coisas dispensáveis? Aliás, devemos eliminar não só os atos mas também os
pensamentos desnecessários, pois assim tampouco os seguirão os atos que
acarretam.”
E, ainda na esteira dos
chamados “exercícios espirituais”, propostos
por Hadot (2001), ligados
ao que encontramos, em certa medida, com cuidado, na obra dos estoicos e de
Epicteto: do “exercício da
consciência de si", como um “exercício da atenção” a si mesmo. Em “Diatribes. Livro IV. XII), o capítulo inteiro é sobre a atenção (prosoché- περί προσοχῆς).
Foi neste sentido, minha “reflexão matinal” de hoje, que só anotei agora aqui no Blog. retomo ideias de um outro texto, que escrevi aqui
no Blog. A anterior foi sobre a prosoché:
uma “prática que silencia o ruído
que existe dentro de nós”. Tantas "coisas
podem nos distrair" Não são poucas as vezes em que nos deixamos
arrastar pelo que já aconteceu num remoto passado ou por algo que não aconteceu
ainda e, às vezes ne acontecerá. Prendemo-nos às "velhas memórias e experiências”.
Mais uma vez, reforçando
para releitura e constantes "exercícios": se quisermos, portanto, mudar nossos “desejos”,
devemos criar uma nova atmosfera interior. Como prioridade devemos
encontrar um espaço de tranquilidade interior,
aprendermos mais sobre nós mesmos. Isso exige de nós e inclui tentar reconhecer
e compreender nossos limites.
E,
“[LII.1] O
primeiro e mais necessário tópico da
filosofia é o da aplicação dos princípios, por exemplo: “Não sustentar
falsidades”. O segundo é o das
demonstrações, por exemplo: “Por que é preciso não sustentar falsidades?” O terceiro é o que é próprio para
confirmar e articular os anteriores, por exemplo: “Por que isso é uma
demonstração? O que é uma demonstração? O que é uma consequência? O que é uma
contradição? O que é o verdadeiro? O que é o falso?” [LII.2] Portanto, o
terceiro tópico é necessário em razão do segundo; e o segundo, em razão do
primeiro – mas o primeiro é o mais necessário e onde é preciso se demorar.
Porém, fazemos o contrário: pois no terceiro despendemos nosso tempo, e todo o
nosso esforço é em relação a ele, mas do primeiro descuidamos por completo. Eis
aí porque, por um lado, sustentamos falsidades e, por outro, temos à mão como
se demonstra que não é apropriado sustentar falsidades”
Como já disse acima,
refleti aqui mesmo, no texto anterior, e retorno à ideia de Pierre Hadot, para mais
uma vez acrescentar reflexões sobre a
“relação” entre “estoicismo e TCC”, anotando as "técnicas” da TCC, a partir
das propostas de Ronald Robertson:
Enfim, no início deste
texto, o que eu pretendia, basicamente, era anotar algumas ideias a partir de
leitura de obras de Robertson (2020,
p. 145-161 – “Passos para modificar os desejos”), sobre essa relação estoicismo e TCC. Acrescentei aqui, alguns pontos em
que o autor discute a importância que ele vê na Terapia Cognitivo-comportamental e por que
os "psicoterapeutas modernos" deveriam ocupar-se mais
com filosofia,
especialmente filosofia antiga? E, por que os filósofos deveriam
interessar-se por psicoterapia?
Para Robertson, portanto, há vários elementos de contato entre as duas
áreas, ainda que bastante distintas
entre si e que sem dúvidas, nem sempre foi clara tal distinção. Considera que,
ao reconsiderar a sabedoria geralmente recebida sobre a história
desses assuntos intimamente relacionados, podemos aprender muito
sobre filosofia e psicoterapia, inclusive sobre concepções como
"auto-ajuda" e "desenvolvimento pessoal".
Portanto, o meu interesse
pela obra de Donald Robertson e demais
autores que citei brevemente, está totalmente ligado a essa relação entre
as duas propostas e suas técnicas, as quais tenho estudado nos escritos da TCC
em geral e nos Estoicos. A reflexão, então, pela manhã foi uma retomada da
questão “passos para mudar os desejos” (Robertson,
2020, p. 145-149).
Primeira anotação
recomenda:
“[...]
você deve avaliar cuidadosamente seus hábitos e desejos em termos gerais:
quando essas atividades realmente contribuem para sua felicidade no longo prazo
ou pra sua satisfação com a vida?”
E, recomenda os seguintes passos:
- Avalie as consequências de seus hábitos e desejos para selecionar quais mudar.
- Identifique sinais de alerta iniciais para que você possa cortar desejos problemáticos pela raiz.
- Obtenha distância cognitiva separando seus sentimentos da realidade externa.
- Faça outra coisa e vez de praticar o hábito.
- Planeje novas atividades que sejam coerentes com seus valores íntimos.
- Contemple as qualidades que você adira nas outras pessoas.
- Pratique a gratidão pelas coisas que você já tem na vida.
- O caminho do vício, ou seguir desejos excessivos e emoções irracionais.
- O caminho da virtude, ou exercer a autodisciplina e seguir a razão e os seus valores verdadeiros na vida.
Esforço
e prática constantes na condução dos
estudos para, cada vez mais internalizar a convicção que a nossa real
felicidade depende de uma escolha nossa, jamais de coisas externas.
Dos acontecimentos externos, quase nada está sob nosso controle, portanto, nas
adversidades, devido à não disciplina em termos de prosoché. Afastamo-nos
da lei natural e adotamos julgamentos bastante equivocados sobre os
eventos à nossa volta.
Treino
e esforço, doravante, é necessário,
na retomada da direção, de retorno à Lei. Só assim volveremos às bases
mais sólidas para reformulação do nosso comportamento e, como
consequência, qualificaremos nossos hábitos. Sempre atentos e vigilantes,
o prokopton sabe o que quer fazer a cada instante e, compreende o que
está sob seu controle e o que não está. Viverá, assim, sua vida:
tranquilamente. Neste caminho, tenhamos em mãos, palavras como as de Marco
Aurélio:
“Os
médicos têm sempre à mão os instrumentos e ferros para os casos imprevistos;
assim tenhas tu perto os preceitos com que possas conhecer as coisas divinas e
humanas e proceder em tudo, mesmo nos mínimos atos, como quem não esquece os
liames mútuos destas ou daquelas” (Marco
Aurélio, Meditações, III, 13).”
Dado, portanto, que
o prokopton, ideia dos estoicos
que já estudei aqui na página e é fundamental para a continuidade de quem está
sempre a aprender, veja na filosofia dos estoicos, neste caso, uma arte de viver bem, para
afastar-se dos "males",
da desordem, da influência das paixões, dos desejos desequilibrados, e dos
medos exagerados e injustificáveis.
A quem se pretenda
dedicar a esse roteiro, fácil será perceber desde que se decida, que o homem é
infeliz à medida que se empenha tresloucadamente na conquista de bens
exteriores, que não pode alcançar e por fugir cegamente de “males” que são naturalmente
inevitáveis. Ou seja, devemos aprender a ter autocontrole para que as coisas interiores nos façam mais bem que
as exteriores que desejamos.
“As
virtudes da coragem e da moderação melhoram nosso caráter e nossas vidas de
modo geral quando são praticadas com sabedoria, enquanto a maioria das coisas
que almejamos nos proporciona apenas prazer passageiro” (Robertson,
2020, p.148)
É esse sentido que
Robertson destaca a pergunta dos terapeutas dirigidas a seus clientes: “Como
estão indo as coisas em longo prazo”.
Aqui, segundo os estoicos
e que refletimos essa manhã, em conjunto com ténicas de TCC, é necessário uma
mudança no modo de olhar o mundo e nas ações, uma conversão: metanoia.
E, o caminho é reeducarmo-nos
na busca do Bem que está ao alcance
de cada um, para que, daí descubra que o que lhe sucede não é necessariamente
um mal a paralisá-lo. Haverá o que lhe foge ao controle, como lemos em (Epicteto.
Encherídion, I, 1). Isso é o que
exige de cada um: e por isso, o esforço,
prática e “exercício” no que está sob seu controle: o interior. Esse o trabalho
imediato. O que é exterior está para além do nosso controle.
Uma boa reflexão a ser
feita mais vezes...
______.
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Excelente postagem. Sempre interessante poder vislumbrar uma mente brilhante em funcionamento.
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