sexta-feira, 26 de março de 2021

REFLEXÃO MATINAL LXXVII: SILÊNCIO NUM MUNDO BARULHENTO

 

(IMAGEM: "Pinterest")

“Bem-aventurado silêncio. Feliz o homem que nada sabe e nada deseja.” (Angelus Silesius 1624-1677)

 

Em meio a tanto barulho e vozerio, "medito andando" (atualmente não muito, e com muito cuidado) e decidi isso há anos, na tentativa de aprofundar-me sistematicamente numa intensa busca por "eustatheia" (tranquilidade) e "euthymia" (crença em si).

É projeto em andamento “há séculos”, às vezes, por descuido, interrompido. Mas, retomado sigo o conselho sugerido pelos estoicos; mais especificamente Sêneca, Epictetus e Marco Aurélio. 

Como aqui, num lembrete de Epictetus, por exemplo:

"Pergunte-se o seguinte no início da manhã:

O que está faltando para que eu me liberte da paixão?

E para alcançar a tranquilidade?

O que sou eu? Um corpo, um dono de propriedades ou uma reputação?

Nenhuma dessas coisas. 

O que, então? Um ser racional. 

O que, então, é exigido de mim? 

Meditar sobre as minhas ações.

Como eu me afastei da serenidade? 

O que eu fiz de hostil, indiferente e não-social? 

O que eu falhei em fazer em todos esses momentos? - (Epictetus)".

Feito isso, devo aplicar-me em desenvolver o seguinte:

"Das coisas que são encargos nossos, todas quantas seria belo desejar, nenhuma está ao teu alcance ainda. Assim, faz uso somente do impulso e do refreamento, sem excesso, com reserva e sem constrangimento." (Epictetus)

Pois:

"Se você não deseja perder a cabeça, não alimente o hábito. Tente, como primeiro passo, manter-se calmo e conte os dias que você não se irritou. Eu costumava me irritar todos os dias, depois a cada dois dias, então a cada três ou quatro dias… Se você chegar a 30 dias, agradeça aos deuses! Porque primeiro um hábito é enfraquecido e depois obliterado. Quando você puder dizer: 'Eu não perdi minha calma hoje, ou no próximo dia, ou nos próximos três ou quatro meses, mas me mantive sereno enquanto sofria provocações', você saberá que está com a saúde melhor." (Epictetus)

Acrescente-se ainda que, à medida que me informam sobre o que de "pior" circula em torno a nós:

"Sempre que notícias perturbadoras chegarem até você, lembre-se de que notícias nunca se referem a algo dentro de sua esfera de ação. (Epictetus)".

Pelo que me consta, portanto, a considerar o que realmente importa ou pode e deve ser feito, tudo ainda está por realizar.

Prossigo!


______.

SUGESTÃO DE LEITURAS


DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

DINUCCI, A. Fragmentos menores de Caio Musônio Rufo; Gaius Musonius Rufus Fragmenta Minora. In: Trans/Form/Ação. vol.35 n.3 Marília, 2012.

______. Diatribes 12 e 13 de Musônio Rufo: sobre coisas relativas a Afrodite e casamento. In: Revista Crítica Histórica, v. 7, p. 348, 2013. 
Disponível em:
http://www.revista.ufal.br/criticahistorica/index.php?option=com_content&view=article&id=178:diatribes12e13demusoniorufo&catid=87:documentacao&Itemid=63 (26.03.2021).

______. Introdução ao Manual de Epicteto. 3 ed. São Cristóvão: EdiUFS, 2012.

DIÓGENES LAÉRCIO. Lives of Eminent Philosophers, vol. I, II. Trad. R. D. Hicks. Harvard: Loeb Classical Library, 1925.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

______. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1).


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