A obra de Aristóteles: Ética a Nicômaco serviu como o “manual” de filosofia moral por
mais de um milênio. Aristóteles sua “ética
da virtude”, ainda hoje estudada.
Passados mais de 2.000
anos, Alasdair MacIntyre publicou em
1981 Depois da Virtude (After
Virtue), procurando estabelecer a filosofia moral da “virtude” não
apenas como uma mais uma entre outras filosofias morais, como é o caso da deontologia ou do utilitarismo, por exemplo. Procurou por uma única formulação que
fornecesse um distanciamento do que ele chamou de característica do
"emotivismo contemporâneo", para ele, um dos trágicos resultados da
modernidade.
Precisou fazer, como
vemos na obra, duas coisas:
- explicar o porquê, exatamente, os outros sistemas de filosofia moral fracassam em suas propostas e formulações
- e, então, defender uma formulação de ética da virtude que não se restrinja a um conjunto particular de valores ou concepções de mundo. Em outras palavras, Alasdair MacIntyre precisa demonstrar que existe uma certa tradição ao longo da história da filosofia moral que conecta diversas formulações distintas de “listas de virtudes”.
...
"Minha explicação das virtudes passa
por três estágios: um primeiro, que diz respeito a virtudes como
qualidades necessárias para se alcançarem os bens internos às práticas; um
segundo, que as considera como qualidades contribuindo para o bem de uma
vida inteira; e um terceiro, que os relaciona à busca de um bem para os
seres humanos, e cuja concepção só pode ser elaborada e possuída dentro de uma
tradição social contínua."
Ademais, recordo-me de uma citação da obra de Russel Kirk:
....
"Alasdair MacIntyre, filósofo, nasceu em
Glasgow, na Escócia, em 1929, foi criado na Inglaterra e vive nos Estados
Unidos desde a década de 1970. Sua atuação se estende pelas áreas da ética, da
política, da sociologia e das ciências sociais, bem como pelo campo da
literatura clássica grega e latina. Começou sua carreira tentando encontrar uma
ética marxista que justificasse racionalmente a condenação do stalinismo, mas
suas buscas o levaram a abandonar o marxismo por completo, bem como todo
individualismo liberal moderno, e a abraçar a ética aristotélica. Seu
livro After Virtue (1981), já um clássico, é o produto dessa
trajetória, no qual ele afirma que a sociedade contemporânea vive uma “cultura do emotivismo”, onde a retórica
moral não tem preensão real na vida prática e é apenas usada para mascarar
escolhas totalmente arbitrárias. Seus estudos foram responsáveis pela renovação
do interesse acadêmico na ética aristotélica, ainda que MacIntyre venha se declarando tomista desde 1984."
(Grifos e destaques meus)
______.
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