domingo, 31 de outubro de 2021

REFLEXÃO MATINAL XCVII: “EUDAIMONIA”... “ESPERANÇA”...

 

(IMAGEM: "Pinterest")


Dizia Musônio Rufo a alguém que se sentia cansado e derrotado: 

“Por que estás parado? Pelo que esperas? Que o próprio Deus, estando ao teu lado, dirija-te a palavra? Corta a parte morta da tua alma, e conhecerás Deus”.  

Manhã de chuvinha boa, após muito trabalho e estudos para a redação dos textos, uma recordação, enquanto relia a obra, agora mesmo... Também, revisitei outras para pensar um pouquinho no tema “felicidade”:

“Sossegai comigo à sombra das árvores verdes, em que não pesa mais pensamento que o secarem-lhes as folhas quando vem o outono, ou esticarem múltiplos dedos hirtos para o céu frio do inverno passageiro. Sossegai comigo e meditai quanto o esforço é inútil, a vontade estranha; e a própria meditação, que fazemos, nem mais útil que o esforço, nem mais nossa que a vontade. Meditai também que uma vida que não quer nada não pode pesar no decurso das coisas, mas uma vida que quer tudo também não pode pesar no decurso das coisas, porque não pode obter tudo. E o obter menos que tudo não é digno das almas que solicitam a verdade.” (PESSOA, Fernando. Poema Inédito. - Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes -. Lisboa: Livros Horizonte, 1993).

"Pois quem quer que haja vivido de tal maneira que sua consciência não possa censurá-lo de alguma vez ter deixado de fazer todas as coisas que julgou serem as melhores (que é o que chamo aqui seguir a virtude), recebe daí uma satisfação tão poderosa para torná-lo feliz que os mais violentos esforços da paixão nunca têm poder suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma". (DESCARTES, René. As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998).

Ocorreu-me, ainda, em época de resoluções... de reciclagens e rupturas... uma leve esperança... ao saudar a beleza desse texto.

_____.

"Felicidade

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

 

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

 

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos".

(VICENTE DE CARVALHO)

______.

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______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

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