sábado, 3 de setembro de 2022

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XLVII: HOMENS E SOCIEDADE DA APARÊNCIA

(IMAGEM: "Pinterest")

Não é psiquiatra, não é psicólogo nem mesmo filosofa um pouquinho. Fala bastante! Mas entregam-lhe cegamente a vida. Não tenho dúvidas: isso é temeroso!

Esperar o quê, de um mundo paupérrimo que valoriza a gloríola e os que sonham com aplausos de incautos?

Que louva aparência e pouco se importa com o Ser.

Isso sempre me remete ao Encheiridion:

. ' . 

Jamais te declares filósofo. Nem, entre os homens comuns, fales frequentemente sobre princípios filosóficos, mas age de acordo com os princípios filosóficos. Por exemplo: em um banquete, não discorras sobre como se deve comer, mas come como se deve. Lembra que Sócrates, em toda parte, punha de lado as demonstrações, de tal modo que os outros o procuravam quando desejavam ser apresentados aos filósofos por ele. E ele os levava! [XLVI.2] E dessa maneira, sendo desdenhado, ele ia."

E, acrescentando um comentário do professor Aldo Dinucci, publicado hoje no Viva Vox, nosso grupo de pesquisa sobre Estoicismo na Universidade Federal de Sergipe:

“O exercício de o próprio filósofo reconhecer constantemente não possuir uma sabedoria absoluta, que vemos Sócrates seguidamente praticar, tem também caráter terapêutico, já que assim é possível estar alerta para que tal pretensão não nos invada e nos escravize, pretensão que tem como efeitos nossa surdez em relação às críticas que nos são endereçadas e nossa intolerância em relação aos que pensam diferentemente – tais efeitos demonstram empiricamente quão estúpida é essa pretensão de ser sábio. O exercício de afirmar o caráter indireto e frágil de toda sabedoria humana é dramática e belamente ilustrado por Sêneca: Não sou sábio e (para que a tua malevolência seja aplacada) não o serei. Exige de mim, portanto, não que eu seja igual aos melhores, mas unicamente melhor que os maus. Isto para mim é suficiente: remover diariamente algum de meus vícios e corrigir meus erros. (Sêneca, Da vida Feliz - 17. 3” O lugar da filosofia torna-se, portanto, não o monólogo do dono da verdade ou do escolhido, mas o diálogo.”

( Só os Grifos e Destaques são meus)

______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

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SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS

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