"O
que então significa ser verdadeiramente educado? É aprender a aplicar nossos
conceitos naturais às coisas certas e em concordância com a Natureza, e além
disso, separar as coisas que estão em nosso poder daquelas que
não estão." (Epictetus)
Nada de "mudar o mundo", quero mesmo avançar sobre mim mesmo!
Das
minhas leituras e releituras sobre estoicismo, o mais notório
princípio para prática de sua filosofia é um conjunto de três “exercícios
práticos”. Os objetivos estóicos estão, sempre
ajustados de forma a dar mais valor à ação do que às palavras. A maneira de
agir de cada indivíduo que pretenda ser um estóico é
priorizada devido ao fato de que verdadeiramente a ação mostra como uma pessoa
realmente é. Daí a incessante busca, realizando exercícios práticos no
cotidiano para alcançar a eustatheia (tranquilidade)
e euthymia (crença em si). Aqui, só vou mostrar o primeiro
exercício que é proposto pelos estóicos como ponto de partida
para compreensão e prática de sua filosofia. São três exercícios fáceis e
possíveis de serem realizados em qualquer tempo.
Bastante
interessante, para mim, e um dos temas divulgados pelos estóicos: a reflexão
matinal. O estóico Marco Aurélio, por exemplo, em
suas Meditações como estóico, apresenta estes
exercícios práticos que consistem sempre, como foi dito, em práticas simples.
Ao acordar, agradeça por que você acordou e terá um novo dia com novas
oportunidades pela frente. Segundo essa prática, o exercício se daria dessa
forma:
No
momento em que despertamos de uma
noite sono, agradeçamos por ter acordado e por termos mais uma oportunidade num
novo dia. Em seguida, tranquilamente sentemo-nos e pensemos no dia a se iniciar
e como pretendemos vivê-lo, sem ter aqui a pretensão de estabelecer metas,
planos.
Na
verdade, o que importa aqui é pensar a maneira como nós enfrentaremos nossos
vícios e como exercitaremos nossas virtudes. Algum
conceito filosófico será exercitado e aplicado; alguma habilidade intelectual,
um idioma, um tema de uma determinada área será posto em prática? Como faremos
isso de forma efetiva? Como compor o nosso dia, que estamos iniciando, de forma
a incluirmos esses exercícios?
Durante
o dia, com certeza, inúmeras
dificuldades aparecerão e, serão necessárias profundas reflexões sobre a forma
como reagiremos a cada um.
Enfim, tomando o texto de Epictetus utilizado aqui para essa
reflexão inicial, é fundamental, já praticando o exercício estóico, reconhecermos
que não podemos controlar nada além dos nossos próprios pensamentos, nossas escolhas,
vícios ou virtudes; nem tudo distante
disso estará sob nosso controle. O que nos acontece à nossa volta serão
eventos por nós percebidos que, no entanto, podemos optar por mantermos a calma
e a tranquilidade diante deles, serenamente e sem nos distanciarmos da proposta
inicial que pretendemos levar a cabo.
Eis o primeiro exercício...
. ' .
"Eu não sou sábio e (que tua maledicência seja satisfeita) não o serei. Exige de mim, portanto, não que eu seja igual aos bons, mas unicamente melhor que os maus. Basta-me a cada dia cortar algum de meus vícios e refrear meus desvarios." (SÊNECA. "Da vida Feliz". XVII : 3)
"εγκράτεια"
O
texto abaixo, contendo uma "prece" e "quatro pedidos", tem
forte ligação com a “cultura grega”, portanto, leiamos como tal; retenhamos o
que seja bom:
Acrescento:
(No Fedro[1])
"Fedro
— [...] Mas vamos embora, porque o calor já não está tão forte.
Sócrates — Não convém que façamos uma prece a esses deuses,
antes de seguir o caminho?
Fedro — Por que não?
Sócrates — Querido Pã e outros deuses que estais neste
lugar, concedei-me a beleza interior e fazei que meu exterior se harmonize com
tudo o que carrego dentro de mim. Que eu possa considerar rico o sábio e possa
ter uma quantidade de ouro que só o temperante conseguiria tomar para si ou
levar consigo. Precisamos de outras coisas, Fedro? Creio que pedi o suficiente.
Fedro — Esta oração é também a minha, pois os amigos têm
tudo em comum.
Sócrates — Vamos, então!"
______.
Sobre
os quatro pedidos...:
1.
Primeiro pedido: “[...] beleza interior” [...]
2.
Segundo pedido: “[...] concordância que o homem deve realizar entre o
‘interior’ e o ‘exterior’ [...] o que é ‘espiritual' e o que está ligado ao
corpo”
3.
Terceiro pedido: “[...] não é o ouro (e a riqueza em geral) o verdadeiro Bem
[...] a Sabedoria tem muito mais valor que este.”
4.
Quarto pedido: “[...] o filósofo sabe que não pode pedir [...] todo o ouro da
sabedoria [...] mas pode [...] ter o mais possível [...] desde que não
ultrapasse o justo limite.”
Seria
esse o temperante...
______.
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