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A frase, que usei como título: "Máximo de tédio no máximo de civilização", de um conto escrito por Eça de Queirós: “Civilização”; publicado em 1892, no Jornal de Notícias do Rio de Janeiro. O texto deu o mote para que, mais tarde, Eça de Queirós escrevesse seu romance “As cidades e as serras” (1901), obra em que retoma a ideia inicial que deu origem ao texto publicado naquele jornal.
Tanto no conto quanto no romance Eça de Queirós contrapõe o estilo de vida da “modernidade”, da "civilização" ao modo de vida no campo (nas serras). Mostra o homem “moderno” com as suas facilidades propiciadas pelo avanço das tecnologias e, por outro lado, a dificuldade que esse mesmo homem encontra em lidar com a solidão e com o vazio existencial: “o tédio moderno”.
“Na Terra tudo vive - e só o homem sente a dor e a desilusão da vida. E tanto mais as sente, quanto mais alarga e acumula a obra dessa inteligência que o torna homem, e que o separa da restante Natureza, impensante e inerte. É no máximo de civilização que ele experimenta o máximo de tédio. A sapiência, portanto, está em recuar até esse honesto mínimo de civilização, que consiste em ter um teto de colmo, uma leira de terra e o grão para nela semear.
Em resumo, para reaver a felicidade, é necessário regressar ao Paraíso - e ficar lá, quieto, na sua folha de vinha, inteiramente desguarnecido de civilização, contemplando o anho aos saltos entre o tomilho, e sem procurar, nem com o desejo, a árvore funesta da Ciência! Dixit!" (Eça de Queirós. In: 'Civilização')
Importante, no entanto, seguir em busca da Serenidade, do mínimo bom-senso. Ainda que esse tal “tédio” apareça a nos desafiar, prossigamos sem criar necessidades artificiais ou dar ensejo a uma "segunda natureza" dependente de fatores externos.
PS: E, hoje, 09 de dezembro de 2022 (Relendo), voltei a este pequeno texto que escrevi em 2018, para acrescentar algumas das últimas leituras da obra de Ortega y Gassset (lidas entre 2015 e 2020) que tocam em grande medida, o que estive pensando à época e atualmente.
E, também acrescentei outras obras, de Heidegger que trata o tédio, da questão da técnica, numa outra abordagem. Mas, das leituras procurei extrair reflexões sobre este tema.
Todos, textos aos quais voltarei, com certeza, mais de uma vez ainda...
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