sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA LXVI: "MÁXIMO DE TÉDIO NO MÁXIMO DE CIVILIZAÇÃO" (II)

(IMAGEM: "Pinterest")


“Viver de acordo com a natureza corresponde a viver de acordo com o melhor de nossa natureza humana, que é o divino dentro de nós que nos inspira a viver vidas excelentes (virtuosas)”. (RUFUS)

...

A frase, que usei como título: "Máximo de tédio no máximo de civilização", de um conto escrito por Eça de Queirós: “Civilização”; publicado em 1892, no Jornal de Notícias do Rio de Janeiro. O texto deu o mote para que, mais tarde, Eça de Queirós escrevesse seu romance “As cidades e as serras” (1901), obra em que retoma a ideia inicial que deu origem ao texto publicado naquele jornal.

Tanto no conto quanto no romance Eça de Queirós contrapõe o estilo de vida da “modernidade”, da "civilização" ao modo de vida no campo (nas serras). Mostra o homem “moderno” com as suas facilidades propiciadas pelo avanço das tecnologias e, por outro lado, a dificuldade que esse mesmo homem encontra em lidar com a solidão e com o vazio existencial: “o tédio moderno”.

“Na Terra tudo vive - e só o homem sente a dor e a desilusão da vida. E tanto mais as sente, quanto mais alarga e acumula a obra dessa inteligência que o torna homem, e que o separa da restante Natureza, impensante e inerte. É no máximo de civilização que ele experimenta o máximo de tédio. A sapiência, portanto, está em recuar até esse honesto mínimo de civilização, que consiste em ter um teto de colmo, uma leira de terra e o grão para nela semear.

Em resumo, para reaver a felicidade, é necessário regressar ao Paraíso - e ficar lá, quieto, na sua folha de vinha, inteiramente desguarnecido de civilização, contemplando o anho aos saltos entre o tomilho, e sem procurar, nem com o desejo, a árvore funesta da Ciência! Dixit!" (Eça de Queirós. In: 'Civilização')

Importante, no entanto, seguir em busca da Serenidade, do mínimo bom-senso. Ainda que esse tal “tédio” apareça a nos desafiar, prossigamos sem criar necessidades artificiais ou dar ensejo a uma "segunda natureza" dependente de fatores externos.

PS: E, hoje, 09 de dezembro de 2022 (Relendo), voltei a este pequeno texto que escrevi em 2018, para acrescentar algumas das últimas leituras da obra de Ortega y Gassset (lidas entre 2015 e 2020) que tocam em grande medida, o que estive pensando à época e atualmente. 

E, também acrescentei outras obras, de Heidegger que trata o tédio, da questão da técnica, numa outra abordagem. Mas, das leituras procurei extrair reflexões sobre este tema.

 Todos, textos aos quais voltarei, com certeza, mais de uma vez ainda...

______.

ÁRIO DÍDIMO. Epitome of stoic ethics. Tradução de Arthur J. Pomeroy. Atlanta: Society of Biblical Literature, 1999.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

BORGES, Maria. Borges. Razão e emoção em Kant. Pelotas, RS: Editora e Gráfica Universitária, 2012.

CÍCERO. On ends (The Finibus). Tradução de H. Rackham. Harvard: https://www.loebclassics.com, 1914.

ESTOBEU. Florilegium. v. II. Ed. Augustus Meineke. Lipsiae: Taubner, 1855.

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras. Vol. 18. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

HEIDEGGER, M. Sein und Zeit. Tübingen: M. Niemeyer, 1986.

______. Ser e Tempo. Trad. Fausto Castilho. Campinas - SP: Ed. Unicamp, 2012

______. Que é metafisica? Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1989. (Os Pensadores).

______. Kant y el Problema de la Metafísica. 3. ed. México: Fondo de Cultura Econômica, 1996.

______. A questão da técnica. Scientiæ & Studia. São Paulo, v. 5, n. 3, p. 375-98, 2007.

______. Seminários de Zolikon. São Paulo: EDUC; Petrópolis: Vozes, 2001.

______. Conceitos fundamentais de metafísica: mundo, finitude e solidão. Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária, 2003.

INWOOD, Brad. The Cambridge companion to the stoics.   Cambridge University Press, 2010.

JONAS, Hans. O princípio vida: fundamentos para uma biologia filosófica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

______. "Técnica, medicina e ética: sobre a prática do princípio responsabilidade". São Paulo: Paulus, 2013. (Ethos).

KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Eine vorlesung Kants über ethik. [PHILOSOPHIA PRACTICA UNIVERSALIS; ETHICA.] MENZER, Paul. Im: Auftrage der Kantgesellschaft. Pan Verlag. R. Heise, 1924.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Trad. Guillon Ribeiro, Brasília, DF: Feb, 2013. (“As virtudes e os vícios” - Q. 893-912; 907-912: "paixões"; e 920-933: "felicidade"). “Da lei do progresso” (Cap. VII. Q. 776-802)

KIERKEGAARD, Søren A. As obras do amor: algumas considerações cristãs em forma de discursos. Apresentação e tradução, Álvaro Luiz Montenegro Valls; revisão da tradução, Else Hagelund. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

______. Œuvres Complètes. Tome XX. Index Terminologique. Principaux concepts de Kierkegaard par Gregor Malantschuk. Traduit du danois, adapté e complété par Else-marie Jacquet-Tisseau. Paris, Éditions de L’orante, 1986.

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