Leituras de domingo:
Schelling antecipou muita
coisa que alguns acreditam ter descoberto...
...
1. Sobre a forma da filosofia e sobre o eu.
"A
natureza foi sabiamente cuidadosa com os olhos humanos ao dispor para que eles
alcancem o dia pleno somente depois de passar pelo crepúsculo. Não espanta que
nas regiões mais baixas reste ainda um pequeno nevoeiro enquanto as montanhas
já brilham sob o sol. Mas o sol não pode faltar quando é chegada a aurora.
Fazer surgir esse dia mais belo da ciência está reservado a poucos ― talvez a
um único ―, mas que seja permitido ao indivíduo que pressente a chegada do novo
dia alegrar-se previamente com ele. Friedrich Schelling, 1795 Sobre a
possibilidade de uma forma da filosofia em geral (1794) e Sobre o eu
como princípio da filosofia ou sobre o incondicionado no saber humano
(1795), os dois textos traduzidos neste volume, são as credenciais com que se
apresenta ao mundo filosófico alemão o jovem Friedrich Wilhelm Joseph
Schelling. Então ainda estudante de teologia no Seminário em Tübingen. A
Alemanha vivia uma verdadeira febre filosófica: não fazia muito tempo que Friedrich
Heinrich Jacobi provocara celeuma com a publicação de suas Cartas ao senhor
Moses Mendelssohn sobre a doutrina de Espinosa (1785) e que Kant
dera a lume suas três obras principais (Crítica da razão pura, cuja
segunda edição é de 1787, Crítica da razão prática, em 1788, e Crítica
do juízo, em 1790). Figuras importantes como Salomon Maimon, Schulze
e Reinhold davam também sua contribuição para a discussão sobre a
viabilidade da filosofia kantiana. Em 1794, Fichte publica duas obras
destinadas a levar a perspectiva transcendental a uma radicalidade inimaginada
pelo próprio Kant: Sobre o conceito da doutrina-da-ciência ou da assim
chamada filosofia e Fundação de toda a doutrina-da-ciência. Os dois escritos de
Schelling mostram o quão sintonizado ele estava com todas essas
discussões: o principal problema da filosofia kantiana é a ausência de um
princípio que unifique todo o saber, o que abriu flanco às objeções céticas
sobre sua sustentabilidade e às tentativas de restabelecê-la sobre novos
fundamentos, propostas por Reinhold e Fichte. A discussão sobre
onde se encontra o princípio filosófico que está na base de todas as ciências é
complexa, visto que um dos resultados mais importantes da própria crítica
kantiana está em mostrar que este princípio já não pode ser uma proposição ou
tese fundamental da qual decorram todas as outras proposições, como acontecia
na metafísica dogmática. É preciso, portanto, discutir a fundo o que é a forma
da filosofia, capaz de expor o princípio do saber humano. Essa forma está
ligada ao deslocamento da filosofia teórica à filosofia prática ou à tentativa
de expor o Absoluto não mais como algo do qual se parte, mas como algo que deve
ser conquistado pela ação livre de cada sujeito. Essas duas questões ― como a
filosofia pode ser exposta e o significado da liberdade humana ― permanecerão
no horizonte do pensamento schellingiano, recebendo inflexões diferentes em seu
longevo percurso. Mas nesses dois textos de juventude elas já são tratadas com
frescor e vigor. Márcio Suzuki"
2. The Dark Ground of
Spirit.
“O livro, S. J. McGrath não apenas
torna as ideias de Schelling acessíveis ao público em geral, como também revela
o papel seminal do filósofo romântico como criador de um conceito que moldou e
definiu a psicologia do final do século XIX e início do século XX: o conceito de
inconsciente.
McGrath mostra como o inconsciente
funcionava originalmente na filosofia de Schelling como uma ponte entre a
natureza e o espírito. Antes de Freud revisar o conceito para adequá-lo à sua
psicopatologia, o inconsciente era entendido em grande parte segundo as linhas
de Schelling, principalmente como uma fonte de poder criativo. O esforço de
toda a vida de Schelling para entender formas intuitivas e não reflexivas de
inteligência na natureza, na humanidade e no divino foi revitalizado por junguianos,
bem como por psicólogos arquetípicos e transpessoais. Com o novo interesse pelo
inconsciente hoje, as ideias de Schelling nunca foram tão relevantes.
The Dark Ground of Spirit será, portanto,
leitura essencial para aqueles envolvidos em psicanálise, psicologia analítica
e filosofia, bem como qualquer pessoa interessada na história das ideias."
______.
FFYTCHE, Matt. The foundation
of the unconscious: Schelling, Freud and the birth of the modern
psyche. Cambridge University Press, 2011.
______. As origens do
inconsciente: o nascimento da psique moderna. Cultrix; 1. ed., 2014.
McGRATH, S. J. The dark ground of spirit: Schelling and
the unconscious. Routledge; Illustrated edição, 2012.
SCHELLING, F. W. J. Investigações
Filosóficas sobre a essência da liberdade humana: e os assuntos com
ela relacionados. Edições 70, 2018.
______. Sobre a forma da filosofia e sobre o eu. São Paulo: Iluminuras, 2021
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BORCH-JACOBSEN, Mikkel; SHAMDASANI,
Sonu. The Freud files: an inquiry into the history of
psychoanalysis. Cambridge University Press, 2012.
CLARKE, James A (ed);
GOTTLIEB, Gabriel(ed.). Practical philosophy from Kant to
Hegel: freedom, right, and revolution. Cambridge University Press, 2022.
CREWS, Frederick. (Ed.). Unauthorized
Freud: doubters confront a legend. New York: Penguin, 1999.
______. Freud: The
making of an Illusion. New York: Metropolitan Books/Henry Holt & Company,
2017.
______. Out of my System: psychoanalysis,
ideology, and critical method. Oxford University Pres, 1975.
______. O gênio da retórica. In:
Folha de São Paulo (Caderno Mais+). São Paulo, domingo, 22 de outubro de
2000. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2210200012.htm. Acesso
em: 25 de fevereiro de 2022.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia
e semiologia dos transtornos mentais. 3. ed. – Porto Alegre, RS:
Artmed, 2019.
______. Religião,
psicopatologia e saúde mental. Porto Alegre, RS: Artmed, 2008.
DALRYMPLE, Theodore. Admirable
evasions: how psychology undermines morality. New York: Encounter
books, 2015.
______. Evasivas admiráveis: como
a psicologia subverte a moralidade. São Paulo: Ed. É Realizações, 2017.
FERMÉ, Eduardo; HANSSON, Sven
Ove. Belief Change: introduction and overview. Springer,
2018.
FREUD, Sigmund. Interpretação do sonhos. In: Obras completas. vol 4. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
HANSSON, Sven Ove. Vetenskap
och ovetenskap, Stockholm: Tiden, 1983.
______. “Defining Pseudoscience”, In: Philosophia
Naturalis, 33: 169–176. 1996.
______. “Falsificationism Falsified”, In: Foundations
of Science, 11: 275–286, 2006.
______. “Values in Pure and Applied
Science”, In:Foundations of Science, 12: 257–268, 2007.
______. “Philosophy in the Defence
of Science”, In: Theoria, 77(1): 101–103, 2011.
______. “Defining pseudoscience and
science”, pp. 61–77 In: Pigliucci and Boudry (eds.), 2013.
______. Philosophy of
pseudoscience: reconsidering the demarcation problem. University
of Chicago Press; Illustrated edição, 2013.
______. Descriptor revision: belief
change through direct choice. Springer; Softcover reprint of the
original, 2018)
IZQUIERDO, Ivan. A arte de
esquecer: cérebro, memória e esquecimento. 2. ed. Rio de
Janeiro: Vieira & Lent, 2010.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia
do inconsciente. 22. ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras
completas, Vol. 7/1).
______. O eu e seu
inconsciente. 27. ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras
completas, Vol. 7/2).
______. Estudos psiquiátricos. 6.
ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 1)
______. Estudos experimentais. 6.
ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 2)
______. Psicogênese das doenças
mentais. 6.ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas,
Vol. 3)
______. Freud e a psicanálise. 6.
ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 4)
______. Presente e futuro. 6.
ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes,2011. (Obras completas, Vol. 10/1)
KANT, Immanuel. Gesammelte
Schriften. Vol. I-XXIX. Berlim: Reimer (DeGruyter) 1910-1983.
_________. Lições de Ética. Trad.
Bruno Cunha e Charles Feldhaus. São Paulo: Unesp, 2018.
_________. Lições sobre a
Doutrina Filosófica da Religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis: Vozes/
São Francisco, 2019.
_________. Lições de
Metafísica. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis: Vozes/São Francisco, 2021.
______. Crítica da razão
prática. Tradução Valerio Rohden. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2002a. (pp. 255-256).
______. Histoire Générale de la
Nature et Théorie du ciel. Trad. Pierre Kerszberg, Anne-Marie Roviello
e Jean Seidengart. Vrin 1984.
______. Träume eines
Geistesehers. Stuttgart: Reclam, 2002.
______. Fundamentação da
metafísica dos costumes. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola,
2009.
______. Crítica da razão pura. Tradução
Valerio Rohden e Udo Moosburguer. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril
Cultural, 1983.
______. Crítica da razão pura. 3,
ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.
______. Anthropology from a
pragmatic point of view. Carbondale, III: Southern Illinois University
Press. 1996. eBook., Base de dados: eBook Collection (EBSCOhost).
______. Antropologia de um
ponto de vista pragmático. Trad. Clélia Aparecida Martins. São Paulo:
Iluminuras, 2006.
KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 400-412: “O sono e os sonhos”).
Nenhum comentário:
Postar um comentário