terça-feira, 26 de novembro de 2024

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA CLXV: PRIORIZAR A ALMA (ESPÍRITO) II

(IMAGEM: "Pinterest")

Uma interrupção nos trabalhos de pesquisa, nas leituras sobre estoicismo, pela manhã, me conduziram aos estudos em outras frentes, outras perspectivas, outros referenciais, sem contudo fugir, jamais, das temáticas a que sempre me ocupo. E. nessa manhã, o tema pensado seguirá noite adentro, a partir de Platão, no Fédon, que anoto abaixo. 

No FédonSócrates expõe a Símias porque se deve estar atento e priorizar, nesta vida, a virtude (ἀξεηῆο) e a prudência (θξνλήζεσο): diz ele que a recompensa é bela (θαιὸλ γὰξ ηὸ ἆζινλ), e é grande a esperança (ἡ ἐιπὶο κεγάιε)! (Fédon, 114c).

Pois...

“Os homens que de alguma forma, cuidam de sua alma (κέιεη ηῆο ἑαπηῶλ ςπρῆο) e não vivem com o pensamento fito no corpo (ζώκαηη πιάηηνληεο δῶζη), quando dizem adeus a todo este tipo de prazeres (εἰδόζηλ) é para seguir um trilho bem diverso daqueles que não sabem aonde vão dar: pois, convictos como estão de que nada devem fazer, que seja contrário à filosofia (θηινζνθίᾳ πξάηηεηλ) e à libertação purificadora (ηῇ ἐθείλεο ιύζεη) que neles opera, é na sua direção que se voltam, seguindo espontaneamente na via por onde ela os conduz (ὑθεγεῖηαη) – (Fédon, 82d).”

Bastante conhecido que Sócrates caminhou pelas ruas de Atenas tentando persuadir outros cidadãos e até mesmo estrangeiros de que o fundamental é sempre o esforço em se melhorarem as almas. 

Pois, para ele, a alma é a parte mais preciosa (ηηκηώηεξνλ) – (Críton, 48a); tinha como principal objetivo defender a importância da alma e que esta, vale mais do que o corpo. Fica evidente que a busca da virtude, para Sócrates, está amplamente relacionada com a felicidade

Alcançar virtude é ser feliz.

(Nas citações, da bibliografia sempre consultada; os Grifos e Destaques, são meus)
______.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

CÍCERO. On ends (The Finibus). Tradução de H. Rackham. Harvard: https://www.loebclassics.com, 1914.

DESCARTES, R. Oeuvres. Org. C. Adam e P. Tannery. Paris: Vrin, 1996. 11v. [indicadas no texto como Ad & Tan]

 _______. Descartes: oeuvres et lettres. Org. André Bidoux. Paris:
Gallimard, 1953. (Pléiade).

______. Discursos do Método; Meditações metafísicasObjeções e RespostasAs Paixões da Alma; Cartas. (Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg), Bento Prado J. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).

______. O mundo (ou Tratado da luz) e O Homem. Apêndices, tradução e notas: César Augusto Battisti, Marisa Carneiro de Oliveira Franco Donatelli. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.

DICTIONNAIRE Philosophique - édition Garnier Frères (1878). Disponível em: https://fr.wikisource.org/wiki/Wikisource:Index_des_auteurs.

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

_______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 
2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

GUEROULT, M. Descartes selon l’ordre des raisons. Paris: Aubier-Montaigne, 1955. 2v.

GILSON, Étienne.  O ser e a essência. São Paulo: Editora Paulus, 2016.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

KANT, Immanuel. Vorlesung über die philosophische Encyclopädie. In: Kant gesalmmelte Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).

KEELING, Eva; PITTELOUD, Lucca. Psychology and Ontology in Plato. Springer, 2019.

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1)

RICOUER, Paul. Ser, essência e substância em Platão e Aristóteles. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

PLATÓN. Carta VII, In: Diálogos VII (Dudosos, Apócrifos, Cartas). Madrid: Gredos, 1992.

SCHLEIERMACHER, F. D. E. Introdução aos Diálogos de Platão. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2018.

TEIXEIRA, L. Ensaio sobre a Moral de Descartes. 1955. 222p. Tese (Cátedra) – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras. São Paulo, 1955.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

REFLEXÃO MATINAL CXCVIII: VIRTUDES E REFLEXÕES KANTIANAS (II)

Mais dois bons livros entre os excelentes que tenho lido e estudado durante a pesquisa nas últimas semanas; os livros de Melissa Merritt são uma contribuição distinta para os estudos da obra de Immanuel Kant; no primeiro, argumenta que precisamos de um relato mais claro e textualmente mais abrangente do que é reflexão, para não apenas entender o relato de Kant sobre a virtude, mas também apreciar como o próprio Kant efetivamente refutaria antigas objeções às suas reflexões. 

"Considered in its complete perfection, virtue is therefore represented not as if a human being possesses virtue but rather as if virtue possesses him; for in the former case it would look as if he still had a choice (for which he would need yet another virtue in order to select virtue before any of the other wares on offer). Metaphysics of Morals (6:406)

“Não pode haver dúvida de que Kant pensava que deveríamos ser reflexivos: devemos nos preocupar em tomar nossas próprias decisões sobre como as coisas são e o que vale a pena fazer. As objeções filosóficas ao ideal reflexivo kantiano centraram-se em preocupações sobre o controle excessivo que a pessoa reflexiva deve exercer sobre sua própria vida mental, e os kantianos que sentem a força dessas objeções recentemente chamaram a atenção para a concepção de virtude moral de Kant como é desenvolvido em seu trabalho posterior, principalmente a Metafísica da Moral. O livro de Melissa Merritt é uma contribuição distinta para essa recente virada para a virtude na erudição de Kant. Merritt argumenta que precisamos de uma explicação mais clara e textualmente mais abrangente do que é a reflexão, a fim de não apenas entender a explicação da virtude de Kant, mas também para apreciar como ela efetivamente refuta objeções de longa data ao ideal reflexivo kantiano.” 

“There can be no doubt that Kant thought we should be reflective: we ought to care to make up our own minds about how things are and what is worth doing. Philosophical objections to the Kantian reflective ideal have centred on concerns about the excessive control that the reflective person is supposed to exert over their own mental life, and Kantians who feel the force of these objections have recently drawn attention to Kant's conception of moral virtue as it is developed in his later work, chiefly the Metaphysics of Morals. Melissa Merritt's book is a distinctive contribution to this recent turn to virtue in Kant scholarship. Merritt argues that we need a clearer, and textually more comprehensive, account of what reflection is, in order not only to understand Kant's account of virtue, but also to appreciate how it effectively rebuts long-standing objections to the Kantian reflective ideal.” 

... 

E, o segundo que recentemente li, também este da mesma autora, The sublime, que além de me ajudar nas reflexões sobre “virtudes” faz também aproximações com Sêneca, um dos autores entre os estóicos que tenho estudado frequentemente: 

“Este livro considera o relato de Kant sobre o sublime no contexto de seus predecessores, tanto nas tradições racionalistas anglófonas quanto nas alemãs. Como Kant diz com evidente endosso que "chamamos sublime aquilo que é absolutamente grande" (KUK: Crítica da faculdade do juízo, 5:248) e nada na natureza pode de fato ser absolutamente grande (só pode figurar como tal, em certas apresentações), Kant conclui que, estritamente falando, o que é sublime só pode ser o chamado humano (Bestimmung) para aperfeiçoar nossa capacidade racional de acordo com o padrão de virtude que é pensado através da lei moral. O Elemento leva em conta a diferença entre respeito e admiração como as duas principais variedades de sentimento sublime, e conclui considerando o papel do estoicismo no relato de Kant sobre o sublime, particularmente através do canal de Sêneca.” 

... 

“This Element considers Kant's account of the sublime in the context of his predecessors both in the Anglophone and German rationalist traditions. Since Kant says with evident endorsement that 'we call sublime that which is absolutely great' (Critique of the Power of Judgment, 5:248) and nothing in nature can in fact be absolutely great (it can only figure as such, in certain presentations), Kant concludes that strictly speaking what is sublime can only be the human calling (Bestimmung) to perfect our rational capacity according to the standard of virtue that is thought through the moral law. The Element takes account of the difference between respect and admiration as the two main varieties of sublime feeling, and concludes by considering the role of Stoicism in Kant's account of the sublime, particularly through the channel of Seneca.” 

...

Sobre a autora: "Melissa Merritt is Senior Lecturer in Philosophy at the University of New South Wales. She has published widely on Kant’s theoretical and practical philosophy in journals including Philosophical Quarterly, European Journal of Philosophy, Southern Journal of Philosophy, British Journal for the History of Philosophy and Kantian Review." 

 

______. 

BAUMGATEN, Alexander Gottlieb; KANT Immanuel. Baumgarten's elements of first practical philosophy: a critical translation with Kant's reflections on moral philosophy. Bloomsbury Academic; Reprint edição, 2021.

FUNKE, Gerhard (ed.) et al.; SALA, Giovanni B; MALTER, Rudolf. Kant und die Frage nach Gott: Gottesbeweise und Gottesbeweiskritik in den Schriften Kants. Berlim: Walter de Gruyrer, 2010.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Gesammelte Schriften. Vol. I-XXIX. Berlim: Reimer (De Gruyter) 1910-1983.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

______. Kants Populäre Schriften. Edição de Paul Menzer (1911). Berlim: Walter de Grutter; Reprint, 2018.

Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992.

______. A religião nos limites da razão pura. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2024.

______.Vorlesung über die philosophische EncyclopädieInKant gesalmmelte Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).

______. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Tradução e estudo de Vinicius de Figueiredo. São Paulo: Editora Clandestina, 2018.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. (Trad. Vinícius Figueiredo). Campinas, SP: Ed. Papirus, 1993.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa: Edições 70, 2012.

______. Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft. W. de Gruyter, 1968.

MERRITT, Melissa. Kant on reflection and virtue. Cambridge Universty Press, 2018.

______. The sublime. Cambridge Universty Press, 2018.

domingo, 24 de novembro de 2024

REFLEXÃO MATINAL CXCVII: REVISITANDO O TEMA "PRINCÍPIOS" BÁSICOS


"Devemos viver como médicos, tratando a nós mesmos com a razão, contra os males de não usá-la". (Musónio Rufo)

Na
 Stoa, relendo Epicteto, destacando o Encheirídion, cap. I, 1: 

Pois, diante de tanta bobagem sendo chamada de "filosofia", coloco-me a questão do que esteja sob meu controle, refletindo sempre sobre essa "Dicotomia do controle" no (Encheiridion, I:1). 

[I.1] Τῶν ὄντων τὰ μέν ἐστιν ἐφ' ἡμῖν, τὰ δὲ οὐκ ἐφ' ἡμῖν. ἐφ' ἡμῖν μὲν ὑπόληψις, ὁρμή, ὄρεξις, ἔκκλισις καὶ ἑνὶ λόγῳ ὅσα ἡμέτερα ἔργα· οὐκ ἐφ' ἡμῖν δὲ τὸ σῶμα, ἡ κτῆσις, δόξαι, ἀρχαὶ καὶ ἑνὶ λόγῳ ὅσα οὐχ ἡμέτερα ἔργα.

"[I:1] Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa." 

Acrescento mais um pequeno texto aqui, seguindo em bom tom "estóico", com mais essa reflexão matinal. Como tem ocorrido após afastar-me de certas temáticas que não levaram a lugar nenhum desde que com elas havia me ocupado. Não tenho dúvidas, foi um desvio oportuno. Ter reconfigurado as reflexões em outro patamar tem sido “existencialmente” fundamental e altamente benéfico..

vida, como em certa medida, tenho praticado, um pouco contemplativa, deve conduzir-se sob alguns pilares previamente pensados e, em silêncio reflexivo. São momentos em que a luta por aperfeiçoamento ganha contornos de avaliação, de exame constante da condição humana, que só pode ser buscada na temporalidade do pensamento próprio. O inefável, apontado por Sêneca e outros estoicos, vida examinada como na recomendação de Sócrates; seus fundamentos, podem ser alcançados e apreendidos em partes, nos limites de cada um e de forma sempre fragmentada; no entanto, estes pequenos encontros dão-nos oportunidade à busca do si mesmo, do reencontro com seu lugar, seu “local of control”, tarefa de cada um no universo. Portanto, segue-se, uma reflexão sobre a "aplicação dos princípios", como "primeiro e mais necessário tópico em Filosofia"

“[52.1] Ὁ πρῶτος καὶ ἀναγκαιότατος τόπος ἐστὶν ἐν φιλοσοφίᾳ ὁ τῆς χρήσεως τῶν δογμάτων, οἷον τὸ μὴ ψεύδεσθαι· ὁ δεύτερος ὁ τῶν ἀποδείξεων, οἷον πόθεν ὅτι οὐ δεῖ ψεύδεσθαι· τρίτος ὁ αὐτῶν τούτων βεβαιωτικὸς καὶ διαρθρωτικός, οἷον πόθεν ὅτι τοῦτο ἀπόδειξις; τί γάρ ἐστιν ἀπόδειξις, τί ἀκολουθία, τί μάχη, τί ἀληθές, τί ψεῦδος; [52.2] οὐκοῦν ὁ μὲν τρίτος τόπος ἀναγκαῖος διὰ τὸν δεύτερον, ὁ δὲ δεύτερος διὰ τὸν πρῶτον· ὁ δὲ ἀναγκαιότατος καὶ ὅπου ἀναπαύεσθαι δεῖ, ὁ πρῶτος. ἡμεῖς δὲ ἔμπαλιν ποιοῦμεν· ἐν γὰρ τῷ τρίτῳ τόπῳ διατρίβομεν καὶ περὶ ἐκεῖνόν ἐστιν ἡμῖν ἡ πᾶσα σπουδή· τοῦ δὲ πρώτου παντελῶς ἀμελοῦμεν. τοιγαροῦν ψευδόμεθα μέν, πῶς δὲ ἀποδείκνυται ὅτι οὐ δεῖ ψεύδεσθαι, πρόχειρον ἔχομεν.”

Tradução:

“[52.1] O primeiro e mais necessário tópico da filosofia é o da aplicação dos princípios, por exemplo: “Não sustentar falsidades”. O segundo é o das demonstrações, por exemplo: “Por que é preciso não sustentar falsidades?” O terceiro é o que é próprio para confirmar e articular os anteriores, por exemplo: “Por que isso é uma demonstração? O que é uma demonstração? O que é uma consequência? O que é uma contradição? O que é o verdadeiro? O que é o falso?” [52.2] Portanto, o terceiro tópico é necessário em razão do segundo; e o segundo, em razão do primeiro – mas o primeiro é o mais necessário e onde é preciso se demorar. Porém, fazemos o contrário: pois no terceiro despendemos nosso tempo, e todo o nosso esforço é em relação a ele, mas do primeiro descuidamos por completo. Eis aí porque, por um lado, sustentamos falsidades e, por outro, temos à mão como se demonstra que não é apropriado sustentar falsidades.”

São os caminhos na luta pela aquisição das virtudes, para os quais o caminho escolhido aqui, pelo autor dessa página, é o da Filosofia.

Portanto, o esforço em adotar princípios estóicos sem abandonar os princípios que adotamos há alguns anos a partir dos estudos do L. E. e demais obras básicas da D. E. estão focados em "exercícios" que possam ajudar a controlar as paixões e podemos mudar; não devemos nos preocupar com o que não se pode mudar. (aplique-se "resignação e obediência" - ESE) 

Mas, isso não nos deve tornar insensíveis às situações que não estão sob nosso controle; é fundamental procurar e desenvolver discernimento e autocontrole, esforçar-se no que que realmente pode-se fazer.

O foco centrado no que está em nosso controle evita a inação e qualquer indisposição causada por nós mesmos e nos ajuda a nos dedicarmos a tomar as rédeas de nossas vidas. Domar o "corcel" das más inclinações, das más paixões (LE 907-912). 

______. 

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012). 

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017. 

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. 

DINUCCI, Aldo. Manual de estoicismo. Campina, SP: Editora Auster, 2023. 

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956. 

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008. 

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue). 

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008. 

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/ 

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010. 

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963. 

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999. 

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001. 

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. 

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de Almeida. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009. 

______. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018. 

______. O único argumento possível para uma demonstração da existência de Deus. Lisboa: INCM, 2004. 

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013a. (Q. 74a “A razão”); Q. 907-912: "paixões"; 893-906: “virtudes e vícios”e 920-933: "felicidade") 

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011. 

LONG, A. A. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007. 

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947. 

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  : Karnac Books, 2010. 

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020. 

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019. 

RUSSEL, Bertrand. A conquista da felicidade. Rio de Jamneiro, RJ: Nova Fornteira, 2015. 

SCHLEIERMACHER, F. D. E. Introdução aos Diálogos de Platão. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2018. 

SCHELLE, Karl Gottlob. A arte de passear. São Paulo: Martins Fontes, 2001.  

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

______. Lições de estoicismo: O que os filósofos antigos têm a ensinar sobre a vida. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2023. 

______. Lessons in Stoicism: What ancient philosophers teach us about how to live.  Londres: Penguin Books Ltd, 2020. 

______. Hellenistic Philosophy. Oxford University Press, 2018. 

______. Aristotle: Understanding the world's greatest philosopher. Pelican, 2023. 

______. Estoicismo. Petrópolis, RJ: Vozes Nobilis, 2024. 

SOLNIT, Rebecca. Wanderlust: a history of walking. Penguim books, 2001. 

SCHNEEWIND, Jeromé. Obligation and virtue: an overwien of Kant's moral philosophy. The Cambridge Companio to Kant. United Kingdom. Cambridge University Press, 1992. 

______. Aristotle, Kant and the stoics: rethinnking happiness and duty. Cambridge University Press; Edição: Reprint, 1998.

______. A invenção da autonomia: uma história da filosofia moral moderna. São Leopoldo: Unisinos, 2001.  

THOUREAU, Henry David. Andar a pé: um ritual interior de sabedoria e liberdade. Loures: Editora Alma dos livros, 2021. 

domingo, 17 de novembro de 2024

SOBRE "LEGADO DE BAUMGARTEN NA ÉTICA DE KANT"

Prosseguindo com as reflexões sobre a Filosofia moral de Immanuel Kant; inclusive o autor discute temas como a relação entre "ética e religião"; a "perfeição" e "deveres para consigo mesmo". Um excelente maeria que acabo de conhecer e iniciei a leitura. 

"Este livro oferece o primeiro relato substancial da influência significativa de Alexander Gottlieb Baumgarten na ética de Kant. Argumentando que o impacto de Baumgarten é mais extenso e profundo do que se pensava anteriormente, o livro fornece uma nova interpretação da formação do quadro ético de Kant.

Os estudiosos fizeram uso da Ethica philosophica (1740) de Baumgarten para elucidar a complexa terminologia de Kant e fornecer um pano de fundo para a compreensão da relação matizada de Kant com seus predecessores. Até o momento, porém, nenhum livro em inglês explora a influência específica da Ética de Baumgarten sobre Kant. Este livro comenta passagens da Ética e as contrasta com o tratamento que Kant dá aos mesmos conceitos, tópicos e questões em sua ética. Notavelmente, Baumgarten articula a ética em torno do conceito de dever e do princípio da perfeição, levando à sua versão do imperativo categórico: “aperfeiçoe-se”. Embora Kant rejeite este quadro ético, é evidente que ele adota diretamente as ideias de Baumgarten e ao mesmo tempo as critica. Cada capítulo examina um tópico importante: a relação entre religião e ética, deveres para consigo mesmo, deveres para com os outros, deveres em casos particulares e a relação entre ética e filosofia política.

O Legado de Baumgarten na Ética de Kant é um recurso essencial para estudiosos e estudantes avançados que trabalham em Kant, na filosofia do século XVIII e na história da ética."

______.

“This book offers the first substantial account of Alexander Gottlieb Baumgarten's significant influence on Kant's ethics. Arguing that Baumgarten's impact is more extensive and profound than previously thought, the book provides a novel interpretation of the formation of Kant's ethical framework.

Scholars have made use of Baumgarten's Ethica philosophica (1740) to elucidate Kant's complex terminology and to provide a background against which to understand Kant's nuanced relationship to his predecessors. To date, however, no English book explores the specific influence of Baumgarten's Ethica on Kant. This book comments on passages from the Ethica and contrasts them with Kant's treatment of the same concepts, topics, and questions in his ethics. Notably, Baumgarten articulates ethics around the concept of duty and the principle of perfection, leading to his version of the categorical imperative: 'perfect yourself'. While Kant rejects this ethical framework, it is evident that he directly adopts Baumgarten's ideas and critiques them at the same time. Each chapter examines a major topic: the relationship between religion and ethics, duties to oneself, duties to others, duties in particular cases, and the relationship between ethics and political philosophy.

Baumgarten's Legacy in Kant's Ethics is an essential resource for scholars and advanced students working on Kant, 18th-century philosophy, and the history of ethics.”!

...]

OSAWA, Toshiro. Baumgarten's Legacy in Kant's Ethics. Routkege, 2024.

______.

BAUMGATEN, Alexander Gottlieb; KANT Immanuel. Baumgarten's elements of first practical philosophy: a critical translation with Kant's reflections on moral philosophy. Bloomsbury Academic; Reprint edição, 2021.

FUNKE, Gerhard (ed.) et al.; SALA, Giovanni B; MALTER, Rudolf. Kant und die Frage nach Gott: Gottesbeweise und Gottesbeweiskritik in den Schriften Kants. Berlim: Walter de Gruyrer, 2010.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Gesammelte Schriften. Vol. I-XXIX. Berlim: Reimer (De Gruyter) 1910-1983.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

______. Kants Populäre Schriften. Edição de Paul Menzer (1911). Berlim: Walter de Grutter; Reprint, 2018.

Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992.

______. A religião nos limites da razão pura. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2024.

______.Vorlesung über die philosophische EncyclopädieInKant gesalmmelte Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).

______. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Tradução e estudo de Vinicius de Figueiredo. São Paulo: Editora Clandestina, 2018.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. (Trad. Vinícius Figueiredo). Campinas, SP: Ed. Papirus, 1993.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa: Edições 70, 2012.

______. Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft. W. de Gruyter, 1968.

______. A metafísica dos costumes. Trad. Clélia Aparecida Martins. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.


 

terça-feira, 12 de novembro de 2024

REFLEXÃO VESPERTINA CLVIII: ESTOICISMO

Foi essa a Reflexão Vespertina de hoje, terminada há pouco, ler ainda é possível!

"O objetivo da filosofia consiste em dar forma e estrutura à nossa alma, em nos ensinar um rumo na vida, em orientar nossos atos, em nos apontar o que devemos fazer ou pôr de lado[...] Sem ela ninguém pode viver em segurança." 

"Este livro oferece uma introdução clara e abrangente a essa grande escola filosófica, cobrindo sua história, filosofia como sistema e os três principais ramos da teoria estoica: lógica, física e ética. John Sellars inclui informações sobre a vida e as obras dos filósofos estoicos antigos, além de análises de suas principais doutrinas. A obra também apresenta um glossário e uma cronologia, tornando-a a escolha ideal para estudantes, acadêmicos eleitores interessados no significado do estoicismo para a civilização ocidental."

...

Mais um dia de reflexões, retomando os trabalhos cotidianos (leituras pelo menos) e pensando a partir desse livro de John Sellars: Estoicismo que é mais uma opção de guia para inícios na tarefa de incorporar a prática do estoicismo na vida cotidiana.

Destacando antes e mais uma vez que a filosofia não promete obter qualquer coisa exterior para o homem, pois se o fizesse ela estaria admitindo algo que se encontra fora de seu material apropriado (hules). Pois assim como a madeira é o material (hule) do carpinteiro, e o bronze o do estatuário, também a própria vida de cada indivíduo (ho bios autou hekastou) é o material da arte de viver (tes peri bion technes). (EPICTETUS, Discursos 1.15.2, apud SELLARS, 2003, p. 56)

"Tornar-se um estudante de filosofia na antiguidade não significava meramente aprender uma série de argumentos complexos ou o engajamento no debate intelectual. Antes, envolvia o engajamento em um processo de transformar o caráter (ethos) e a alma (psique), uma transformação que por sua vez transformaria o modo de vida (bios) do indivíduo." (SELLARS, 2003, p. 23)

(Grifos e Destaques meus)

______.

DINUCCI, Aldo. Manual de estoicismo: uma visão estóica do mundo. São Paulo: Auster, 2023. 

______; TARQUÍNIO, Antonio. Introdução ao Manual de Epicteto. 3. ed, São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2012.

______; JULIEN, Alfredo. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

______; JULIEN, A. (Org.) Epicteto: fragmentos e testemunhos. Tradução dos fragmentos gregos e notas Aldo Dinucci e Alfredo Julien. Textos de Aldo Dinucci, Alfredo Julien e Fábio Duarte Joly. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2008.

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. ("As virtudes e os vícios": Q. 893-906; Q. 907-912 "As paixões"; Q. 920-933 "Felicidade e infelicidade relativas").

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

______. Lessons in Stoicism: what ancient philosophers teach us about how to live. Penguim, 2019.

______. Estoicismo. Petrópolis, RJ: Vozes Nobilis; 1ª edição (1 novembro 2024.

______. Lições de estoicismo: O que os filósofos antigos têm a ensinar sobre a vida. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2023.

______. Lessons in Stoicism: What ancient philosophers teach us about how to live.  Londres: Penguin Books Ltd, 2020.

______. Hellenistic Philosophy. Oxford University Press, 2018.

______. Aristotle: Understanding the world's greatest philosopher. Pelican, 2023.



 

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

XI COLÓQUIO KANT “CLÉLIA MARTINS”: SENTIDO DA VIDA, SABEDORIA DO MUNDO, DESTINAÇÃO DO HOMEM

XI Colóquio Kant “Clélia Martins”: Sentido da Vida, Sabedoria do Mundo, Destinação do Homem, evento científico internacional a ter lugar na Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília, no período de 20 a 22 de novembro.

 




                                                                                                    




domingo, 10 de novembro de 2024

AINDA SOBRE OS ESCRITOS PRÉ-CRÍTICOS KANTIANOS (V)

 

Tentando escrever, prosseguindo os estudos, com novos inícios e reinícios, superações. 

Lendo e estudando hoje Das Ende aller Dinge (1793)Acrescento novamente uma obra que ainda sigo aprendendo a ler em alemão, obra editada por Paul Menzer em 1911: Kants Populäre Schriften, com textos de Immanue Kant publicados entre 1755 e 1798.

Na tradução desse mesmo texto feita por Artur Morão, lemos que:

"O opúsculo de Kant, O fim de todas as coisas, é apenas, de certo modo, uma espécie de corolário à sua obra capital A religião nos limites da simples razão (1793). Nesta, a redução da religião à moral leva o filósofo a expor de modo simbólico os princípios da religião cristã, a propor a distinção entre fé histórica (fé eclesial, que é desvalorizada porque de índole feiticista) e a fé da razão (fé moral), a encarar as verdades reveladas como simples auxiliares da religião enquanto sentimento moral. [...] Esta tendência para reconduzir a religião à moralidade, a teologia à antropologia, desnudando-a de todo o elemento místico, de toda a prática litúrgica e cultual, faz-se igualmente sentir no presente ensaio, que foi escrito na mesma altura e deriva claramente do mesmo fluxo de ideias e de inspiração. Difere simplesmente o objecto: não se fala da religião em geral, aborda-se tão-só a doutrina que, tradicionalmente, se refere aos Novíssimos (morte, juízo, inferno e paraíso). Respeitoso para com o cristianismo (que, no entanto, empobrece e desfigura), coerente consigo mesmo, Kant expurga o tema do Juízo de todos os resquícios míticos e reduz a sua substância à exigência e ao veredicto da razão moral.

Esta tendência para reconduzir a religião à moralidade, a teologia à antropologia, desnudando-a de todo o elemento místico, de toda a prática litúrgica e cultual, faz-se igualmente sentir no presente ensaio, que foi escrito na mesma altura e deriva claramente do mesmo fluxo de ideias e de inspiração. Difere simplesmente o objecto: não se fala da religião em geral, aborda-se tão-só a doutrina que, tradicionalmente, se refere aos Novíssimos (morte, juízo, inferno e paraíso). Respeitoso para com o cristianismo (que, no entanto, empobrece e desfigura), coerente consigo mesmo, Kant expurga o tema do Juízo de todos os resquícios míticos e reduz a sua substância à exigência e ao veredicto da razão moral.” (Artur Morão, na Apresentação da sua tradução)

Acrescentando ainda e sigo estudando o assunto, um volume da “série”: “(Kant Studies Supplementary Booklets, 122).

“A série publica excelentes estudos monográficos e antologias sobre todos os aspectos da filosofia de Kant, bem como sobre a relação sistemática de sua filosofia com outras abordagens filosóficas do passado e do presente. São publicados estudos que têm caráter inovador e atendem a requisitos explícitos de pesquisa. As publicações representam, portanto, o estado mais recente da pesquisa."

(Grifos e Destaques meus)

______.

FUNKE, Gerhard (ed.) et al.; SALA, Giovanni B; MALTER, Rudolf. Kant und die Frage nach Gott: Gottesbeweise und Gottesbeweiskritik in den Schriften Kants. Berlim: Walter de Gruyrer, 2010.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Gesammelte Schriften. Vol. I-XXIX. Berlim: Reimer (De Gruyter) 1910-1983.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

______. Kants Populäre Schriften. Edição de Paul Menzer (1911). Berlim: Walter de Grutter; Reprint, 2018.

Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992.

______. A religião nos limites da razão pura. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2024.

______.Vorlesung über die philosophische EncyclopädieInKant gesalmmelte Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).

______. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Tradução e estudo de Vinicius de Figueiredo. São Paulo: Editora Clandestina, 2018.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. (Trad. Vinícius Figueiredo). Campinas, SP: Ed. Papirus, 1993.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa: Edições 70, 2012.

______. Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft. W. de Gruyter, 1968.

______. A metafísica dos costumes. Trad. Clélia Aparecida Martins. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

AINDA SOBRE OS ESCRITOS PRÉ-CRÍTICOS KANTIANOS (IV)



Ainda no trabalho sobre os escritos pré-críticos de Immanuel Kant; trabalho é o que não falta...

Cotejando com os originais: O "fim de todas as coisas"; Investigação sobre a evidência dos princípios da teologia e da moral [1] Anúncio do Programa de Lições para o Semestre de Inverno de 1765-1766 ”.

Na verdade,  dando continuidade aos estudos...

  1. Textos seletos. “Recordar Kant é pensar, em tudo o que disse, o que o coração de sua filosofia quis dizer. É o exemplo do próprio Kant. No que outros pensadores disseram, só se interessava pelo que quiseram dizer. Immanuel Kant foi um dos mais importantes e influentes filósofos da modernidade. Para recordá-lo, a presente publicação reúne o prefácio da Crítica da razão pura e outros textos menos conhecidos.”
  2. Textos pré-críticos: “A coletânea apresentada neste livro reúne boa parte dos textos publicados por Kant entre 1762 e 1770, quando, já bastante conhecido no meio filosófico alemão, ocupou o cargo de Magister na Universidade de Königsberg. Essa reunião não é arbitrária. Ela dispõe de um critério que subordina sua referência cronológica principal - a década de 1760 - a uma unidade de natureza intelectual, e marca uma etapa decisiva da trajetória de Kant, iluminando sua filosofia madura, a qual inicia com a Crítica da razão pura, de 1781.”
  3. Destacando aqui: "Investigação sobre a evidência dos princípios da teologia e da moral": Obra que "[...] foi escrita por Kant em 1763, com a finalidade de responder à pergunta, posta a concurso pela Academia das Ciências da Prússia, sobre a natureza das verdades metafísicas e a sua relação com as verdades matemáticas. Nesta obra, Kant evidencia encontrar-se já na posse de um dos princípios básicos da sua futura filosofia crítica, a saber: a insuficiência dos princípios lógicos para fornecer conhecimentos concretos sobre a natureza dos fenómenos físicos e metafísicos. Nestes últimos, os conceitos dados das coisas constituem o ponto de partida da análise, de modo que as suas determinações intrínsecas se encontram no final, e não no início, do trabalho filosófico.”
Para estudos sobre o Período pré-crítico ainda acrescentando novamente a obra de Alexander Gottlieb Baumgarten que lança "[...] uma nova luz sobre os argumentos das obras maduras de Kant e oferecer insights sobre seu pensamento moral pré-crítico [...]":


“Este livro apresenta a primeira tradução para o inglês de Initia Philosophiae Practicae Primae, de Alexander Baumgarten, o livro-texto que Kant usou em suas palestras sobre filosofia moral.

Originalmente publicado em latim em 1760, o Initia contém uma versão sistemática, mas original, da filosofia prática universal articulada pela primeira vez por Christian Wolff. Em sua cópia pessoal, Kant escreveu centenas de páginas de notas e esboços que documentam sua relação com essa tradição anterior. Traduzindo essas extensas elucidações para o inglês, juntamente com as notas de Kant sobre o texto, esta tradução oferece um recurso completo para a leitura de Kant da Initia. Para facilitar um estudo mais aprofundado, traduções inéditas de passagens elucidativas de G. F. Meier e Wolff também estão incluídas, juntamente com um glossário alemão-inglês-latim. A introdução dos tradutores fornece uma biografia de Baumgarten, uma discussão sobre a importância da Initia, sua relação com a filosofia prática universal de Wolff e Meier e seu papel nas palestras de Kant.

Ao lançar uma nova luz sobre os argumentos das obras maduras de Kant e oferecer insights sobre seu pensamento moral pré-críticoElementos da primeira filosofia prática revela por que o trabalho de Baumgarten é essencial para a compreensão do pano de fundo da filosofia de Kant.”

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“This book presents the first English translation of Alexander Baumgarten's Initia Philosophiae Practicae Primae, the textbook Kant used in his lectures on moral philosophy.

Originally published in Latin in 1760, the Initia contains a systematic, but original version of the universal practical philosophy first articulated by Christian Wolff. In his personal copy, Kant penned hundreds of pages of notes and sketches that document his relation to this earlier tradition. Translating these extensive elucidations into English, together with Kant's notes on the text, this translation offers a complete resource to Kant's reading of the Initia. To facilitate further study, first-time translations of elucidatory passages from G. F. Meier and Wolff are also included, alongside a German-English-Latin glossary. The translators' introduction provides a biography of Baumgarten, a discussion of the importance of the Initia, its relation to Wolff's and Meier's universal practical philosophy and its role in Kant's lectures.

By shedding new light on the arguments of Kant's mature works and offering insights into his pre-Critical moral thought, Elements of First Practical Philosophy reveals why Baumgarten's work is essential for understanding the background to Kant's philosophy.”

Sobre o autor(es)

Alexander Gottlieb Baumgarten was born in Berlin on 17 June 1714 to Jacob Baumgarten, a Protestant evangelical preacher, and Rosina Elizabeth, née Wiedemannin. After being raised in the pietistic communities of Berlin and later Halle, Baumgarten was among the first to teach the controversial philosophy of Christian Wolff (1769-1764). By order of the king, he moved to Frankfurt on the Order in 1739, where he remained until his death in 1762. While at Frankfurt, Baumgarten wrote his most influential philosophical works: Metaphysics (1739), Philosophical Ethics (1740), and Aesthetics (2 Vols, 1750 & 1757). It is as formulated in these works that the Leibniz-Wolff tradition was chiefly communicated to later German philosophers, including Immanuel Kant. Today Baumgarten is also regarded as a central founder of modern aesthetics.

Courtney D. Fugate is Associate Professor of Philosophy at Florida State University, USA.

Lawrence Pasternack is Professor of Philosophy and Director of Religious Studies at Oklahoma State University, USA.

John Hymers is Associate Professor of Philosophy at La Salle University, USA, where he teaches modern philosophy.

Pablo Muchnik is Associate Professor of Philosophy at Emerson College, USA.

______.

Acrescento ainda a obra editada por Paul Menzer em 1911: Kants Populäre Schriften, com textos de Kant publicados entre 1755 e 1798.

_______.

ANTOGNAZZA, Maria Rosa. The Oxford Handbook of Leibniz. Oxford University Press, 2018.

BAUMGATEN, Alexander Gottlieb; KANT Immanuel. Baumgarten's elements of first practical philosophy: a critical translation with Kant's reflections on moral philosophy. Bloomsbury Academic; Reprint edição, 2021.

BUTLER, J; CLARKE, S; HUTCHESON, F; MANDEVILLE, B; SHAFTESBURY, L; WOLLASTON, W. Filosofia moral britânica: Textos do Século XVIII. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em sua relação com a teodiceia. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Gesammelte Schriften. Vol. I-XXIX. Berlim: Reimer (De Gruyter) 1910-1983.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

______. Kants Populäre schriften. Edição de Paul Menzer (1911). Berlim: Walter de Grutter; Reprint, 2018.

LEIBNIZ. G. W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições Colibri, 1993.

______. Ensaios de teodicéia. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.

______; WOLFF, C; EULER, L.P; BUFFON, G.-L; LAMBERT, J. H; KANT, I. Espaço e pensamento: textos escolhidos. Organização de Márcio Suzuki (Org.). Tradução de Márcio Suzuki e Outros. São Paulo: Editora Clandestina, 2019. 286.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2012. 

PHILONENKO, Alexis. L'Oeuvre de Kant: la philosophie critique. Tome I. J. Vrin, 1996. (col. Bibliothèque d'histoire de la philosophie)

RATEAU, Paul. Leibniz on the Problem of Evil, Oxford University Press, 2019.



[1] Aqui, utilizando a tradução do prof. Luciano Codato. In: Escritos pré-críticos: Immanuel Kant. São Paulo: Ed. Unesp, 2005.

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...