Mais dois bons livros entre os excelentes que tenho lido e estudado durante a pesquisa nas últimas semanas; os livros de Melissa Merritt são uma contribuição distinta para os estudos da obra de Immanuel Kant; no primeiro, argumenta que precisamos de um relato mais claro e textualmente mais abrangente do que é reflexão, para não apenas entender o relato de Kant sobre a virtude, mas também apreciar como o próprio Kant efetivamente refutaria antigas objeções às suas reflexões.
"Considered in its complete perfection, virtue is therefore represented not as if a human being possesses virtue but rather as if virtue possesses him; for in the former case it would look as if he still had a choice (for which he would need yet another virtue in order to select virtue before any of the other wares on offer). Metaphysics of Morals (6:406)
“Não pode haver dúvida de que Kant pensava que deveríamos ser reflexivos: devemos nos preocupar em tomar nossas próprias decisões sobre como as coisas são e o que vale a pena fazer. As objeções filosóficas ao ideal reflexivo kantiano centraram-se em preocupações sobre o controle excessivo que a pessoa reflexiva deve exercer sobre sua própria vida mental, e os kantianos que sentem a força dessas objeções recentemente chamaram a atenção para a concepção de virtude moral de Kant como é desenvolvido em seu trabalho posterior, principalmente a Metafísica da Moral. O livro de Melissa Merritt é uma contribuição distinta para essa recente virada para a virtude na erudição de Kant. Merritt argumenta que precisamos de uma explicação mais clara e textualmente mais abrangente do que é a reflexão, a fim de não apenas entender a explicação da virtude de Kant, mas também para apreciar como ela efetivamente refuta objeções de longa data ao ideal reflexivo kantiano.”
“There can be no doubt that Kant thought we should be reflective: we ought to care to make up our own minds about how things are and what is worth doing. Philosophical objections to the Kantian reflective ideal have centred on concerns about the excessive control that the reflective person is supposed to exert over their own mental life, and Kantians who feel the force of these objections have recently drawn attention to Kant's conception of moral virtue as it is developed in his later work, chiefly the Metaphysics of Morals. Melissa Merritt's book is a distinctive contribution to this recent turn to virtue in Kant scholarship. Merritt argues that we need a clearer, and textually more comprehensive, account of what reflection is, in order not only to understand Kant's account of virtue, but also to appreciate how it effectively rebuts long-standing objections to the Kantian reflective ideal.”
...
E, o segundo que recentemente li, também este da mesma autora, The sublime, que além de me ajudar nas reflexões sobre “virtudes” faz também aproximações com Sêneca, um dos autores entre os estóicos que tenho estudado frequentemente:
“Este livro considera o relato de Kant sobre o sublime no contexto de seus predecessores, tanto nas tradições racionalistas anglófonas quanto nas alemãs. Como Kant diz com evidente endosso que "chamamos sublime aquilo que é absolutamente grande" (KUK: Crítica da faculdade do juízo, 5:248) e nada na natureza pode de fato ser absolutamente grande (só pode figurar como tal, em certas apresentações), Kant conclui que, estritamente falando, o que é sublime só pode ser o chamado humano (Bestimmung) para aperfeiçoar nossa capacidade racional de acordo com o padrão de virtude que é pensado através da lei moral. O Elemento leva em conta a diferença entre respeito e admiração como as duas principais variedades de sentimento sublime, e conclui considerando o papel do estoicismo no relato de Kant sobre o sublime, particularmente através do canal de Sêneca.”
...
“This Element considers Kant's account of the sublime in the context of his predecessors both in the Anglophone and German rationalist traditions. Since Kant says with evident endorsement that 'we call sublime that which is absolutely great' (Critique of the Power of Judgment, 5:248) and nothing in nature can in fact be absolutely great (it can only figure as such, in certain presentations), Kant concludes that strictly speaking what is sublime can only be the human calling (Bestimmung) to perfect our rational capacity according to the standard of virtue that is thought through the moral law. The Element takes account of the difference between respect and admiration as the two main varieties of sublime feeling, and concludes by considering the role of Stoicism in Kant's account of the sublime, particularly through the channel of Seneca.”
...
Sobre a autora: "Melissa Merritt is Senior Lecturer in Philosophy at the University of New South Wales. She has published widely on Kant’s theoretical and practical philosophy in journals including Philosophical Quarterly, European Journal of Philosophy, Southern Journal of Philosophy, British Journal for the History of Philosophy and Kantian Review."
______.
BAUMGATEN, Alexander Gottlieb; KANT Immanuel. Baumgarten's elements of first practical philosophy: a critical translation with Kant's reflections on moral philosophy. Bloomsbury Academic; Reprint edição, 2021.
FUNKE, Gerhard (ed.) et al.; SALA, Giovanni B; MALTER, Rudolf. Kant und die Frage nach Gott: Gottesbeweise und Gottesbeweiskritik in den Schriften Kants. Berlim: Walter de Gruyrer, 2010.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.
______. Gesammelte Schriften. Vol. I-XXIX. Berlim: Reimer (De Gruyter) 1910-1983.
______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.
______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.
______. Kants Populäre Schriften. Edição de Paul Menzer (1911). Berlim: Walter de Grutter; Reprint, 2018.
Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.
______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992.
______. A religião nos limites da razão pura. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2024.
______.Vorlesung über die philosophische Encyclopädie. In: Kant gesalmmelte Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).
______. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Tradução e estudo de Vinicius de Figueiredo. São Paulo: Editora Clandestina, 2018.
______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. (Trad. Vinícius Figueiredo). Campinas, SP: Ed. Papirus, 1993.
______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa: Edições 70, 2012.
______. Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft. W. de Gruyter, 1968.
MERRITT, Melissa. Kant on reflection and virtue. Cambridge Universty Press, 2018.
______. The sublime. Cambridge Universty Press, 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário