Recentemente, acrescentei, uma obra de Alvin Plantinga que até recentemente não conhecia: “Ciência, religião e naturalismo: onde está o conflito? (2018)”.
Leituras como esta sempre me interessaram bastante e cresceu meu interesse após ter lido a obra de Numbers "Galileo goes to jail". e, muito mais por ter me aprofunda nas obras de Immanuel Kant sobre ética, metafísica e religião.
Hoje, estou revisitando e prosseguindo com estudos sobre o tema “ciência e religião”, durante as costumeiras pausas na oficina.
Como desde há muito tempo tem sido apresentado em termos de conflito entre as duas áreas e, como, de alguns anos para cá, tenho acompanhado as discussões em torno do assunto e já é bastante perceptível uma renovada ampliação do debate, com amplos avanços e esclarecimentos, sigo com as leituras e faço aqui as anotações após as leituras.
Aproveiteie reli outro do mesmo autor: “Conselhos aos filósofos cristãos” e comecei a ler, também do mesmo autor (livro que comecei a ler numa viagem recente a Juiz de Fora). Trata-se do livro “Crença cristã avalizada” em que chamou minha atenção a exposição que Plantinga faz logo no início sobre Kant; na primeira parte da obra (pp. 29-56) que discute: "A questão existe?"
“Em Crença cristã avalizada, Alvin Plantinga trata a noção de aval, que ele define como “aquilo que distingue o conhecimento da crença verdadeira”. Nesta obra, o autor expande seu foco sobre o tema partindo de questões estritamente epistemológicas para examinar se a crença teísta, especificamente a cristã, pode desfrutar de um aval.
A crença cristã é intelectualmente aceitável? É aceitável para pessoas inteligentes nos dias de hoje, no início do terceiro milênio? Plantinga aborda essas questões examinando se é racional, razoável, justificável e, em última análise, avalizado aceitar a crença cristã. Afirma que as crenças cristãs são avalizadas por serem formadas por faculdades cognitivas que funcionam apropriadamente. Desse modo, se forem verdadeiras, elas constituem o conhecimento.
Plantinga argumenta que é plausível crer que os seres humanos não têm apenas faculdades cognitivas naturais, como percepção, memória e raciocínio, as quais nos permitem conhecer os fatos sobre o objeto, mas também detemos uma faculdade cognitiva natural que nos permite formar crenças básicas sobre Deus. Para levar os crentes a produzir crenças cristãs avalizadas, o autor mostra como essa faculdade pode ser embotada e danificada pelo pecado, mas também reparada pela fé. Ele passa depois a explorar uma proposta, comum a Tomás de Aquino e a Calvino, de que a crença cristã se origina de uma fonte não natural, que Aquino chamou de “instigação interna do Espírito Santo” e Calvino classifica como “testemunho interno do Espírito Santo”.
Crença cristã avalizada, obra de um academicismo impecável e produzida por um dos principais epistemólogos da atualidade, desafiará e envolverá filósofos, bem como acadêmicos da área dos estudos religiosos.
Sempre que leio obras assim, sigo considerando as especificidades das suas crenças cristãs dos autores lidos e as diferenças com as crenças cristãs às quais sempre me filiei. É é uma excelente reflexão para os tempos atuais.
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