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MARQUINHOS
“Recolhe-te a estas
coisas mais tranquilas, mais seguras, melhores! [...] elevar-se às coisas
sagradas e sublimes para conhecer qual é a substância de deus, seu prazer, sua
condição, sua forma, que destino guarda a tua alma, que lugar a Natureza nos
destina após nos separarmos do corpo [...].” (SÊNECA. Sobre a brevidade da vida,
XIX, 1).
Tenho estudado bastante e
publicado aqui, alguns temas de teor filosófico diverso, nos quais me exercito.
São diversos entre si, mas preservam uma linha tênue de relação: “ética”,
“bioética”, “filosofia da religião”, o “problema mente-corpo” e o “estoicismo”.
Na verdade, publico-os aqui somente para manter salvos os textos e retomá-los
num futuro com fins de correção e sistematização.
Um dia desses, no
entanto, sem sair da temática apontada e que tem sido constante, publiquei aqui
uma frase, como tenho feito, exercitando como já disse, a redação. Ainda que
fosse só um exercício despretensioso na direção do aperfeiçoamento da escrita, a
frase, bem curta e sem muito "ineditismo" reforçava uma postura
contrária que mantenho e quem me conhece sabe do que digo. A frase, a que me
refiro e sustento serenamente, não com argumentos complexos, que aliás me
agradam, mas por mera posição pessoal foi essa: "A essência não só precede à
existência como ainda sobreviverá a ela." (MARQUINHOS, 2017)
A ela acrescento uma
frase de Epictetus e avanço numa breve reflexão:
"Proteja o bem que
existe em você em tudo o que você fizer, e no que diz respeito a todo o resto,
receba o que lhe for dado enquanto puder fazer uso sensato. Se não puder, não
terá sorte, estará propenso a falhar, perturbado e limitado." (Epictetus)
Para a típica forma de
pensar e filosofar dos estoicos haveria, em nós, algo que se preserva em certa
medida na execução do pensamento lógico universal, e dessa forma estaria
garantida uma coerência e um equilíbrio que auxiliariam na tarefa de cada ser
humano no exercício prático e constante de tornar-se a cada dia uma pessoa
melhor; uma boa pessoa que segundo o que diz Epictetus, por haver uma essência esta deve ser preservada em nós como uma centelha interior que não pode se extinguir.
As nossas ações, no
entanto, devem ser pensadas e direcionadas de certa forma ao bem comum sob pena
de ela, para nós perder força e nos enfraquecer nos juízos que nos sejam
pedidos acerca de decisões e sobre uma ou outra necessidade de tomar como certo
ou verdadeiros atos do nosso cotidiano. Não havendo tal possibilidade de se
estabelecer limites, haveria sim se os que, ultrapassando essas barreiras
avançassem na ação que prejudicasse a outrem ou a si mesmos. Enfim, Epictetus,
recomenda que não percamos essa nossa essência; que façamos o que é certo, o nosso
dever.
E, também o imperador e
filósofo Marco Aurélio teria escrito em suas Meditações: “Se não é certo, não faça.
Se não é verdade, não diga”.
Interessa ressaltar aqui
que mesmo sendo um imperador ele fazia esse tipo de ponderação; preservando-se
distante dos comuns dos homens de seu tempo e assegurando a proteção da sua essência,
similar ao pensamento de Epictetus, ressalte-se; nunca agindo sem estar certo
nem faltando com a verdade.
É certo que ao ler este
brevíssimo texto, alguém irá esbravejar sobre a questão da liberdade e da
possibilidade de podermos fazer o que quisermos das nossas ações e vivermos
cada um a sua própria vida do jeito e forma que achar melhor. O problema é
atingirmos ou prejudicarmos alguém. Também alertando para o fato de que ao
preservarmos aquela essência estaremos mantendo a nossa própria
individualidade de forma que não se apague. Reafirma Marco Aurélio: "Meu
único medo é fazer algo contrário à natureza humana ; a coisa errada, do jeito
errado, ou no momento errado." (Meditações. 7.20)
Uma reflexão que, com
certeza, vou retomar, corrigir e aprofundar.
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Entre as que tenho usado
para melhor refletir e tentar fundamentar minhas leituras.
1. AQUINO, Tomas. O ente
e a essência. Petrópolis- RJ: Editora Vozes, 2013.
“Marco entre as várias
obras do autor, o livro adota posições que decidem, em grande parte, o destino
do pensamento ao qual dá forma - o ente, o ser, a substância em suas divisões e
em sua individuação, o acidente e as relações de tudo isto com as intenções
lógicas. Uma obra de juventude, decisiva na medida em que torna transparente as
diretrizes gerais da metafísica.”
2. GILSON, Étienne. O ser e a essência. São Paulo: Editora
Paulus, 2016.
“Foi com a publicação de
O ser e a essência (1948) que Gilson verdadeiramente irrompeu no debate
filosófico contemporâneo, constrangendo muitos [...] a admitir que esta
pequena palavra, ser , que certa tradição idealista havia tentado inutilmente
banir do vocabulário filosófico, abrigava, talvez, se não o destino do
Ocidente , ao menos o lugar de uma de suas mais antigas e constantes querelas.
Muitos se convenceram, ao ler Gilson, de que São Tomás teria ocupado nesse
debate um lugar no mínimo original e importante, o qual não poderia mais ser
ignorado, ainda mais – e sobretudo – ao se querer tomar partido na polêmica que
então o existencialismo conduzia contra o suposto essencialismo de toda a
tradição. Em suma, independentemente de suas virtudes próprias, este livro,
desta vez reconhecido imediatamente como um livro de um filósofo, ainda que
também seja um livro de historiador, teve, ao mesmo tempo, o mérito e a sorte
de vir em boa hora, de responder à expectativa difusa de um público filosófico
que acabava de descobrir, [...] a importância e – poder-se-ia dizer – a
atualidade persistente da questão- o que é o ser?”
3. HADOT, Pierre. A
filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I.
Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.
“Em uma série de entrevistas
com Arnold I. Davidson e Jeannie Carlier, Pierre Hadot revela as chaves de seu
itinerário de vida e de seu pensamento filosófico. Com base em suas reflexões
sobre a filosofia antiga, Hadot descobre uma maneira de filosofar segundo a
qual fazer filosofia não consiste em resolver problemas abstratos, mas em
melhorar nossa forma de viver. O gênero da entrevista permite ao leitor
penetrar de forma amena no pensamento de Hadot."
4. ______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flavio Fontenelle Loque e Loraine
Oliveira. Prefácio de Davidson, Arnold. São Paulo: É Realizações, 2014.
“Nos ensaios reunidos
neste volume, o filósofo e historiador da filosofia Pierre Hadot traça o
panorama histórico da noção de “exercício espiritual” e traz novamente à cena
filosófica o debate acerca do estatuto da filosofia e da figura do filósofo.
Com ele, voltamos a pensar o quanto a filosofia deixou de ser uma “atividade”,
uma prática, para se tornar, cada vez mais, um “discurso”. Hadot propõe, ao
contrário, um resgate da filosofia como “maneira de viver”.
5. RICOUER, Paul. Ser, essência e substância em Platão e Aristóteles. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
“Este Curso interpreta
com rigor o sentido das três palavras do título - 'ser', 'essência' e
'substância' - os conceitos fundamentais da metafísica ocidental. Como Platão e
depois Aristóteles pensam tais conceitos? Que sentido lhes dão? Juntamente com
o interesse intrínseco do comentário, muito profundo e muito apoiado nos
textos, destacam-se as conexões e inversões que Ricceur estabelece dentro das
duas filosofias e entre elas. Ele também põe em relevo evoluções surpreendentes
- um segundo Platão criticou um primeiro Platão (o das Ideias) e um segundo
Aristóteles criticou Platão, simplificando-o e mesmo caricaturando-o.”
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