domingo, 19 de novembro de 2017

REFLEXÃO MATINAL (III)

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Exercícios estoicos.

"A essência da filosofia é o espírito de simplicidade. Quer encaremos o espírito filosófico nele mesmo ou em suas obras, quer comparemos a filosofia à ciência ou uma filosofia às demais filosofias, sempre verificamos que a complicação é superficial, a construção um acessório, a síntese uma aparência: filosofar é um ato simples" (BERGSON, 1911)

Tem sido bastante produtivo, em termos existenciais, refletir sobre o que é possível identificar nos textos estoicos como "sabedoria prática". Há anos sigo com essas atividades...  Aqui somei a citação de Henri Bergson que para mim, em certa medida, aproxima-se da reflexão pretendida. Ali, onde no texto Epictetus trata de temas específicos de seu tempo, basta que substituamos por atividades hodiernas "similares" e que da mesma forma, nas conversas, devem ser evitados. Conversas frívolas são sempre dispensáveis.

Ἐπικτήτου Ἐγχειρίδιον

“[33.1] Τάξον τινὰἤδη χαρακτῆρα σαυτῷκαὶτύπον, ὃν φυλάξεις ἐπίτε σεαυτοῦὢν καὶἀνθρώποις ἐντυγχάνων. [33.2] σιωπὴτὸπολὺἔστω ἢλαλείσθω τὰἀναγκαῖα καὶδι' ὀλίγων. σπανίως δέποτε καιροῦπαρακαλοῦντος ἐπὶτὸλέγειν τι ἥξομεν, ἀλλὰπερὶοὐδενὸς τῶν τυχόντων·μὴπερὶμονομαχιῶν, μὴπερὶἱπποδρομιῶν, μὴπερὶἀθλητῶν, μὴπερὶβρωμάτων ἢπομάτων, τῶν ἑκασταχοῦλεγομένων, μάλιστα δὲμὴπερὶἀνθρώπων ψέγονταἢἐπαινοῦνταἢσυγκρίνοντα. [33.3] ἂν μὲν οὖν οἷός τε ᾖς, μετάγαγε τοῦς σοῦς λόγους καὶτοὺς τῶν συνόντων ἐπὶτὸπροσῆκον. εἰδὲἐν ἀλλοφύλοις ἀποληφθεὶς τύχοις, σιώπα. [33.4] γέλως μὴπολὺς ἔστω μηδὲἐπὶπολλοῖς μηδὲἀνειμένος.”

“[33.1] Fixa, a partir de agora, um caráter e um padrão para ti próprio, que guardarás quando estiveres sozinho, ou quando te encontrares com outros. [33.2] Na maior parte do tempo, fica em silêncio, ou, com poucas palavras, fala o que é necessário. Raramente, quando a ocasião pedir, fala algo, mas não sobre coisa ordinária: nada sobre lutas de gladiadores, corridas de cavalos, nem sobre atletas, nem sobre comidas ou bebidas –assuntos falados por toda parte. Sobretudo não fales sobre os homens, recriminando-os, ou elogiando-os, ou comparando-os. [33.3] Então, se fores capaz, conduz a tua conversa e a dos que estão contigo para o que é conveniente. Porém, se te encontrares isolado em meio a estranhos, guarda silêncio. [33.4] Não rias muito, nem sobre muitas coisas, nem de modo descontrolado.”
_____.
(Ἐπικτήτου Ἐγχειρίδιον. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notasi; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012. 96p.)

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O EXISTENCIALISMO DE KIERKEGAARD

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Fazendo aqui algumas leituras e anotações sobre a obra de Kierkegaard; dadas as minhas limitações, sempre na mesma linha do que frequentemente leio e estudo. Já li outras obras dele, essas só recentemente. Trazem um desafio "existencial" em cada uma de suas linhas.
  
1. É preciso duvidar de tudo.

“Filósofo religioso e crítico do racionalismo, é considerado o fundador do existencialismo, que se assumiu como uma das mais profundas e renovadoras correntes filosóficas do século XX. Dinamarquês, nasceu em Copenhague em 1813 e morreu nesta cidade em 1855. Segundo Kierkegaard, o homem tem que renunciar a si mesmo para superar as limitações que a realidade lhe impõe e assim aceder ao transcendente, a Deus e à verdadeira individualidade. Neste sentido, realçou o existir concreto de um homem que anseia pela transcendência focando, consequentemente, os sentimentos de angústia e desespero inerentes a tal condição.”

A obra é dividida em quatro partes, com a introdução. Abra com uma citação de Espinosa no seu “Tratado sobre a reforma do intelecto” sobre a “dúvida real” e uma recomendação de que ninguém deve desperdiçar sua juventude dão a tonalidade da obra; uma tensa reflexão sobre a dúvida existencial e a história de um jovem filósofo Johannes Clímacus com suas frustrações. Aproxima essas duas imagens para apontar os equívocos da tentativa da filosofia moderna em superar a Filosofia Antiga sem mesmo entender-se a si mesmo. A dúvida como elemento moderno não se caracterizaria como existencial e por isso tende a tornar-se um “dogma”. A única saída dessa dificuldade segundo a obra é tentar pensar por si mesmo, com todas as dores daí advindas. Aventurar-se nessa perspectiva causa ansiedade. Um grande desafio.

Outra sugestão, obra do mesmo autor:

2. Ou – ou: um fragmento de vida


“Uma obra ímpar dentro da literatura e da filosofia ocidentais, a todos os níveis e vista de todos os ângulos; não fosse a circunstância de, na Europa de então, como na actual, a língua dinamarquesa ficar submersa por outros idiomas dominantes, e certamente que teria sido reconhecida universalmente como um clássico da literatura e da filosofia.” (Da Introdução).

domingo, 12 de novembro de 2017

SINCERIDADE MASCARADA

"[...] Sinceridade mascarada...
"Saber enganar delicadamente passou a compor certa 'science du temps', uma adequada 'sabedoria à la mode', cujo agente principal se especializa em ser prudente (Nequitia disciplina) e dono de uma malícia instruída e disciplinada; em outras palavras, o hipócrita:
'Eles [os hipócritas] agem como veneno quando entorpecem os sentimentos pelas doçuras, enquanto sua maldade vai secretamente às entranhas e busca as partes mais nobres. Eles nos fazem mal com suas palavras; eles nos servem cicuta numa taça de rubis e esmeraldas; eles nos sufocam sob rosas e pedras preciosas; eles nos matam com espadas douradas; 'sic inventum est aliquando quomodo aurum non ametur'. Eis como o desregramento dos nossos costumes corrompe o uso de todas as coisas'
Conclusão: Desconfiemos, portanto, do exterior."
______.
KANT, Immanuel. Começo conjectural da história humana. São Paulo: Unesp, 2010. (p.80-81).
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terça-feira, 7 de novembro de 2017

UMA DISCUSSÃO SOBRE VALORES



(neste caso, devido ao interesse e relevância dos temas éticos)... E, para pensar em outros domínios, sem abandonar minha limitação filosófica...
"Sobre questões que levantam implicações éticas". Com excelente prefácio/posfácio.
"[...] um guia de fácil leitura e aplicação, em que o autor Joseph Telushkin aborda temas amplos para a vida cotidiana com base nos princípios judaicos de piedade, bondade e bom relacionamento com o próximo.[...]".

sábado, 4 de novembro de 2017

ESPERANÇA E RESPONSABILIDADE: HANS JONAS


    


“É apenas em função da pressão de hábitos reais da ação – e geralmente do fato de que sempre a ação já aconteceu, sem que isto tenha sido ordenado antes de tudo – que a ética, enquanto regulação desse agir tendo em vista o critério do bem ou do permitido, entra em cena. Tal pressão emana dos novos poderes tecnológicos do homem, cujo exercício é dado com sua existência. Se eles real­mente são tão novos como aqui defendido, e se pelos tipos de suas consequências potenciais eles realmente aboliram a neutralidade moral que o comércio técnico com a matéria até agora possuía – então sua pressão exige que se procure por novas prescrições éticas que sejam competentes para assumir sua orientação mas que, antes de tudo, possam sustentar-se teoricamente [...]” (JONAS, 2017, p. 49)

Inicio aqui apontamentos para uma reflexão a ser revista e corrigida, mantido seu fio condutor sobre o que configura o progresso tecnológico em suas implicações éticas presente ou futuras. Considerados os pensadores de minhas leituras mais frequentes, tomo aqui por base o livro de Hans Jonas, traduzido recentemente.
Mesmo reconhecendo que desde Francis Bacon, que pensava a partir de uma luta entre o homem e a natureza, que o levou a fazer sua reflexão sobre o domínio da natureza que a ciência proporcionaria; é mesmo desde o século XIX, que o otimismo em relação à técnica, ganha seu status e seu auge se dará no século XX.
O célere avanço da civilização Ocidental produziu essa crença generalizada nos poderes que o homem ganha, mas que para alguns, acentuará um progressismo e cientificismo de proporções catastróficas. Desde a minha leitura do médico e filósofo alemão Hans Jonas, do seu livro: "O princípio responsabilidade" escrito em 1979, (que li e reli atentamente em 2006, um ano tão bom para mim) venho acompanhando seus escritos e o que se tem discutido a partir de suas ideias que aparecem como uma denúncia contra qualquer utopia exagerada progressista, independentemente do viés político-ideológico que esteja por trás de seus enunciados.
Da obra partimos para destaque de argumentos de Jonas que antecedendo qualquer ideia de progresso está a ideia assumida e defendida por ele com veemência de que o Ser existe, a própria VIDA “um não enfático ao não-ser”.
Essa maneira de pensar leva Jonas a trabalhar num sentido filosófico interessante e o filósofo Leibniz é lembrado no sentido que sua grande questão sobre “Por que existe alguma coisa ao invés do nada?”, que segundo ele pode ser retomado no Gênesis ou no Timeu de Platão onde se afirma o “existir em preferência ao “não-existir”. Ainda que se reconheça em Jonas sua visão, em certa medida religiosa, o seu grande argumento é a ética da responsabilidade, que tem como um de seus pilares a releitura do imperativo categórico de Kant, que Jonas dirá ser perceptível em Kant e em outras teorias éticas desde os filósofos da Antiguidade, o enfoque apenas nos atos de um indivíduo. Assim propõe o seguinte enunciado dentro de sua ética da responsabilidade:

“Age de maneira que tuas ações não comprometam a existência de uma autêntica vida humana sobre a Terra”.

Está, com isso considerando as ações humanas numa nova civilização tecnológica, Tais ações passariam a ser pensadas como possíveis de comprometer o futuro da humanidade, mesmo dos que ainda nem nasceram. O que extraímos das leituras da obra até aqui e que ainda seguiremos é uma questão existencial, ora, sem a esperança num futuro o princípio de responsabilidade de Jonas estaria inviabilizados.
Portanto, tendo iniciado a leitura de Jonas com aquele livro indicado acima, avançamos depois para “Técnica, medicina e ética: sobre a prática do princípio de responsabilidade.” E, recentemente, iniciei a leitura do livro “Ensaio filosóficos: da crença antiga ao homem tecnológico”[1] que acrescentarei aqui após atenta leitura.
...

Vídeo 1, sobre a obra: 
https://www.youtube.com/watch?v=SOgtozcgwzQ

Vídeo 2, ...................: 


[1] JONAS, Hans.  Ensaio filosóficos: da crença antiga ao homem tecnológico”. (trad. Wendell Evangelista Soares Lopes. São Paulo: ed. Paulus, 2017.

______.  Ensaio filosóficosda crença antiga ao homem tecnológico”. (trad. Marijane Lisboa, Luiz Barros Montez. São Paulo: Ed. Contraponto/Ed. PUC-Rio, 2006.




“KANT ON PERSONS AND AGENCY"

Era leitura programada para 2018; iniciei em 2019 e encerrei agora... Mais um inserido nas pesquisas!

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“Kant on Persons and Agency”
Editor: Eric WatkinsUniversity of California, San Diego -View all contributors - Publication planned for: February 2018

"Today we consider ourselves to be free and equal persons, capable of acting rationally and autonomously in both practical (moral) and theoretical (scientific) contexts. The essays in this volume show how this conception was first articulated in a fully systematic fashion by Immanuel Kant in the eighteenth century. Twelve leading scholars shed new light on Kant's philosophy, with each devoting particular attention to at least one of three aspects of this conception: autonomy, freedom, and personhood. Some focus on clarifying the philosophical content of Kant's position, while others consider how his views on these issues cohere with his other distinctive doctrines, and yet others focus on the historical impact that these doctrines had on his immediate successors and on our present thought. Their essays offer important new perspectives on some of the most fundamental issues that we continue to confront in modern society.

Explores Kant's views on autonomy, freedom, and personhood both as questions in their own right and in the context of his wider system of thought
Essays written by twelve leading international Kant scholars present fresh and up-to-date insights into his philosophy
Addresses the lasting influence of Kantian thinking in this area and the continuing importance of the issue of agency for our lives today"

Para saber mais: 
...
Table of Contents
Introduction
By Eric Watkins

Part I. Autonomy:

1. The unconditioned goodness of the good will Eric Watkins
2. Universal law Allen Wood
3. Understanding autonomy: form and content of practical knowledge Stephen Engstrom
4. The principle of autonomy in Kant's moral theory: its rise and fall Pauline Kleingeld

Part II. Freedom:

5. Evil and practical reason Lucy Allais
6. Freedom as a postulate Marcus Willaschek
7. Kant's struggle for freedom: freedom of will in Kant and Reinhold Paul Guyer
8. The practice of self-consciousness: Kant on nature, freedom, and morality Dieter Sturma

Part III. Persons:

9. Kant's multiple concepts of person Béatrice Longuenesse
10. We are not alone: a place for animals in Kant's ethics Barbara Herman
11. The dynamism of reason in Kant and Hegel Robert Pippin

Part IV. Conclusion:

12. Once again: the end of all things Karl Ameriks.





sexta-feira, 3 de novembro de 2017

UMA RÁPIDA REFLEXÃO...: E A PRÁTICA?

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(REMBRANDT - "O filósofo em meditação", 1632)

Grandes sistemas morais não necessariamente devem estar atrelados a uma religião. É bem possível conceber princípios ou critérios em que a própria racionalidade humana seja a responsável pelas ações. Isso pensado em termos de autolegislação, ou seja, que nós mesmos nos impomos. Bastante pertinente notar que, em tempos em que o termo "ética" é tão propalado também seja possível perceber o quanto sua ausência, na prática, é suplantada por falatórios. Tem sido constante esse recurso ignominioso. 
Adoto, como cito abaixo, mais uma reflexão do grande estoico Epictetus. Interessante destacar a forma característica desse jeito de filosofar: o constante exercício prático. Sigo estudando e aprendendo.

“[48.a] Ἰδιώτου στάσις καὶχαρακτήρ· οὐδέποτε ἐξ ἑαυτοῦπροσδοκᾷὠφέλειαν ἢβλάβην, ἀλλ' ἀπὸτῶν ἔξω. φιλοσόφου στάσις καὶχαρακτήρ· πᾶσαν ὠφέλειαν καὶβλάβην ἐξ ἑαυτοῦπροσδοκᾷ.”

“[48.a] Postura e caráter do homem comum: jamais espera benefício ou dano de si mesmo, mas das coisas exteriores. Postura e caráter do filósofo: espera todo benefício e todo dano de si mesmo.”
(Grifos meus)

(Ἐπικτήτου - Ἐγχειρίδιον. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien)

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...