(AN
JUNG-HWAN – “No cocho” - Óleo sobre
tela - 116,7 x 91 - 2009)
...
Uma
brevíssima reflexão sobre exercícios
estoicos. É certo que, a pensar-se estoicamente exige-se ter firme
compreensão de que:
“Das coisas existentes, algumas são
encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo,
a repulsa ― em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o
corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos ― em suma: tudo quanto não
seja ação nossa. Por natureza, as coisas que são encargos nossos são livres,
desobstruídas, sem entraves. As que não são encargos nossos são débeis,
escravas, obstruídas, de outrem. (Manual, 1: 1-2; trad. Aldo Dinucci
e Alfredo Julien)”.
A
característica mais notória na filosofia antiga, no caso do estoicismo mais
evidente, é a ênfase na prática. A criação dos exercícios para essa prática
é bem discutida no livro:“Exercícios
espirituais”, escrito por Pierre Hadot, de onde retiro algumas citações
e anoto aqui. Um exercício, por exemplo, proposto por Marco Aurélio, entre
tantos outros:
“Você pode eliminar muitas das
coisas supérfluas que o incomodam, as quais residem unicamente em seu
julgamento. E imediatamente abrirá para si um espaço grande e vasto, abarcando
com o pensamento o universo inteiro, contemplando a eternidade do tempo e
refletindo sobre a mudança rápida das coisas enquanto partes: quão breve o
lapso do nascimento à dissolução, quão vasto o abismo do tempo antes do seu
nascimento, quão igualmente infinito é o que há depois da sua dissolução. (Meditações, IX, 32)”.
Por
fim, tendo iniciado com a leitura e releitura de Hadot, focado nos textos que
ele reúne apresentando os “exercícios espirituais”, encerro essa breve reflexão
com uma “Diatribe” de
Musônius Rufus:
“Pois a filosofia será
proveitosa para alguém somente assim: se ele, ao ensinamento sensato,
acrescentar uma conduta que com este esteja em harmonia. [Diatribes,
I]”.
Como, de minha parte, desde que li um outro livro que Pierre Hadot
escreveu: “The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius”
(2001), um dos melhores sobre a temática estoica, a ponto de acrescentá-lo às
leituras cotidianas. Em cada ponto da leitura; cada instante na leitura; tenho
aprendido mais e mais e me dedico a seguir com esses estudos, juntando a esses
autores, além da obra de Hadot, outros que estão dedicados à reflexão estoica nos
dias atuais. Já apontei aqui, este tema, intimamente relacionado, aos estudos
que geralmente insiro nessa página, com objetivo de registrar as leituras,
releituras; aproveitando tais registros para eventuais escritos futuros. Aqui,
portanto, fiz esse destaque após releitura específica do capítulo: “The inner citadel or discipline of assent” (2001,
p. 101-127), tratando da “disciplina do desejo”.
______.
BIBLIOGRAFIA SEMPRE CONSULTADA
DINUCCI, A.; JULIEN,
A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra:
Imprensa de Coimbra, 2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph
Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book I. Trad.
Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de Epicteto. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by
Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations
of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.
LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion
and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a
Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.