quarta-feira, 17 de julho de 2019

REFLEXÃO MATINAL XLIII: DAS COISAS INTERIORES E EXTERIORES.

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(IMAGEM: Pinterest)

Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa. (EPICTETUS. Encheiridion. 1.1)

Mais uma manhã. A depender do ponto de vista: menos um dia! Considerar o que seja importante: tarefa do dia!

Então, almejando coisas de tamanha importância, lembra que é preciso que não te empenhes de modo comedido, mas que abandones completamente algumas coisas e, por ora, deixes outras para depois. Mas se quiseres aquelas coisas e também ter cargos e ser rico, talvez não obtenhas estas duas últimas, por também buscar as primeiras, e absolutamente não atingirás aquelas coisas por meio das quais unicamente resultam a liberdade e a felicidade (EPICTETUS. Encheiridion. 1.4).”

Prossegue-se aqui, com a leitura das poucas obras escolhidas para orientar-me os passos na caminhada. A obra dos estoicos, tenho dito, firmou-se há algum tempo nesse conjunto com um único objetivo: alcançar a imperturbável paz de espírito (ataraxia). Por serenidade se esforça por aqui!

Esforço e prática constantes na condução dos estudos para, cada vez mais internalizar a convicção que a nossa real felicidade depende de uma escolha nossa, jamais de coisas externas. Dos acontecimentos externos, quase nada está sob nosso controle, portanto, nas adversidades, devido à não disciplina em termos de prosoché. Afastamo-nos da lei natural e adotamos julgamentos bastante equivocados sobre os eventos à nossa volta.

Treino e esforço, doravante, é necessário, na retomada da direção, de retorno à Lei. Só assim volveremos às bases mais sólidas para reformulação do nosso comportamento e,  como consequência, qualificaremos nossos hábitos. Sempre atentos e vigilantes, o Prokopton sabe o que quer fazer a cada instante e, compreende o que está sob seu controle e o que não está. Viverá, assim, sua vida: tranquilamente. Neste caminho, tenhamos em mãos, palavras como as de Marco Aurélio:

“Os médicos têm sempre à mão os instrumentos e ferros para os casos imprevistos; assim tenhas tu perto os preceitos com que possas conhecer as coisas divinas e humanas e proceder em tudo, mesmo nos mínimos atos, como quem não esquece os liames mútuos destas ou daquelas” (Marco Aurélio, Meditações, III, 13)

Dado, portanto, que o prokopton, veja na filosofia, a dos estoicos neste caso aqui, uma arte de viver bem, para afastar-se dos "males", da desordem, da influência das paixões, dos desejos desequilibrados, e dos medos exagerados e injustificáveis.

A quem se pretenda dedicar a esse roteiro, fácil será perceber desde que se decida, que o homem é infeliz à medida que se empenha tresloucadamente na conquista de bens exteriores, que não pode alcançar e por fugir cegamente de “males” que são naturalmente inevitáveis.

Aqui, segundo os estoicos e que refletimos essa manhã, é necessário uma mudança no modo de olhar o mundo e nas ações, uma conversão: metanoia. O caminho é reeducar-se cada ser humano na busca do Bem que está ao seu alcance para que, daí descubra que o que lhe sucede não é necessariamente um mal a paralisá-lo. Haverá o que lhe foge ao controle e por isso, o esforço no que está sob seu controle, o interior, é seu trabalho imediato.

­­­______.
DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1)

PRITCHARD, M. “Philosophy for Children”. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2002. Acessado em 19 de agosto de 2016; Fonte: http://plato.stanford.edu/entries/children/ .

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

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