[…] No fundo, não
creio que importa ser feliz no sentido em que as pessoas esperam ser felizes.
Mas consigo entender plenamente essa felicidade árdua que consiste em
despertarmos forças com um trabalho resoluto, as quais começam a trabalhar,
elas mesmas, em nós." (RILKE, 2007)
Num tão crucial momento
da vida damo-nos conta de que o que realmente agrada as multidões são discursos
absurdos. E, por não nos alinharmos optamos por razoabilidades; o primeiro
passo: o silêncio; o segundo: aplicar-se na busca de si mesmo, corrigir-se,
aperfeiçoar-se e seguir em frente; e bem à frente, onde está o ponto de
chegada, não circunscrito a limitadas fronteiras ou vagos pontos de vista.
Lendo um texto de Eça de
Queirós, que ele chamou de "Máximo de tédio no máximo de civilização” identifico
várias passagens com as quais concordo e ainda servem para os dias atuais:
"Na Terra tudo vive
- e só o homem sente a dor e a desilusão da vida. E tanto mais as sente, quanto
mais alarga e acumula a obra dessa inteligência que o torna homem, e que o
separa da restante Natureza, impensante e inerte. É no máximo de civilização
que ele experimenta o máximo de tédio. A sapiência, portanto, está em recuar
até esse honesto mínimo de civilização, que consiste em ter um tecto de colmo,
uma leira de terra e o grão para nela semear.
Em resumo, para reaver a
felicidade, é necessário regressar ao Paraíso - e ficar lá, quieto, na sua
folha de vinha, inteiramente desguarnecido de civilização, contemplando o anho
aos saltos entre o tomilho, e sem procurar, nem com o desejo, a árvore funesta
da Ciência! Dixit! " (In: "Civilização",
1902)
E, por outro lado, o
recurso do "regresso"... pensando para prosseguir, levou-me, como de costume, a Sócrates e a verdadeiros filósofos.
No Fédon, por exemplo, Sócrates
expõe a Símias porque se deve estar atento e priorizar, nesta vida, a virtude (ἀξεηῆο)
e a prudência (θξνλήζεσο): diz ele que a recompensa é bela (θαιὸλ γὰξ ηὸ ἆζινλ),
e é grande a esperança (ἡ ἐιπὶο κεγάιε)! (Fédon, 114c). Pois...
“Os homens que de alguma
forma, cuidam de sua alma (κέιεη ηῆο ἑαπηῶλ ςπρῆο) e não vivem com o
pensamento fito no corpo (ζώκαηη πιάηηνληεο δῶζη), quando dizem adeus a todo
este tipo de prazeres (εἰδόζηλ) é para seguir um trilho bem diverso daqueles
que não sabem aonde vão dar: pois, convictos como estão de que nada devem
fazer, que seja contrário à filosofia (θηινζνθίᾳ πξάηηεηλ) e à libertação
purificadora (ηῇ ἐθείλεο ιύζεη) que neles opera, é na sua direção que se
voltam, seguindo espontaneamente na via por onde ela os conduz (ὑθεγεῖηαη) –
(Fédon, 82d).”
Bastante conhecido que
Sócrates caminhou pelas ruas de Atenas tentando persuadir outros cidadãos e até
mesmo estrangeiros de que o fundamental é sempre o esforço em se melhorarem as
almas. Pois, para ele, a alma é a parte mais preciosa (ηηκηώηεξνλ) – (Críton,
48a); tinha como principal objetivo defender a importância da alma e que esta,
vale mais do que o corpo. Fica evidente que a busca da virtude, para Sócrates,
está amplamente relacionada com a felicidade. Alcançar virtude é ser feliz.
(grifos meus)
(grifos meus)
______.
PLATÂO. Fédon. “Diálogos
platônicos” 3. ed. Belém: EDUFPA, 2011. (edição bilíngue)
RILKE, Rainer Maria. “Cartas do Poeta sobre a vida". São Paulo: Martins Fontes - selo Martins, 2007.
RILKE, Rainer Maria. “Cartas do Poeta sobre a vida". São Paulo: Martins Fontes - selo Martins, 2007.
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