domingo, 18 de agosto de 2019

ROLLO MAY E O DILEMA HUMANO: UMA OBRA PARA REFLEXÃO FILOSÓFICA




Releitura encerrada. 
Li em 2000. Valeu a nova releitura (para mim), tanto tempo depois...

Nessa obra, Rollo May “Debruça-se sobre o que seja o dilema humano, suas polaridades e paradoxos em meio às exigências do mundo contemporâneo. Trata das fontes história da ansiedadeda psicoterapia questionada pela abordagem existencial; da ampliação da liberdade responsável na terapia como essencial no confronto com os dilemas humanos. Destina-se a filósofos e psicólogos e a todos os que querem compreender o porquê do ser humano.

E, como se pode ler no artigo em que me apoio aqui (PONTE; SOUSA, 2011):

“Enquanto trabalhava no seu Doutorado (cujo resultado foi o seu 3º livro, O Significado da Ansiedade, publicado em 1950), que May contraiu tuberculose, passando 1 ano e meio internado em um hospital, posto que naquela época o desenvolvimento de antibióticos no combate à tuberculose ainda estavam em seus estágios iniciais e a cura (ou não) do paciente dependia somente de constantes cuidados médicos.
Ele nos conta que, enquanto se deparava com a possibilidade de morrer, tendo "um vasto tempo para ponderar sobre o significado da ansiedade - além de inúmeros dados em primeira mão colhidos de mim mesmo e de meus ansiosos companheiros pacientes" (May, 1988, p. 15), ocupava seu tempo com a leitura de dois livros: O Problema da Ansiedade de Freud (este livro, na verdade, é uma tradução norte-americana do texto Inibição, Sintoma e Angústia e O Conceito de Angústia de Kierkegaard. Embora percebesse as claras divergências entre as concepções de Freud e de Kierkegaard, (o primeiro, a partir de uma descrição mais técnica dos mecanismos psíquicos os quais manifestam a angústia; o segundoo significado, o sentido existencial e ontológico da angústia como um conflito entre ser e não-ser, entre o finito e o eterno, sem jamais encontrar uma síntese ou paz), May não desprezou nem um nem outro. De todo modo, pode-se imaginar os sentimentos de pavor que acometiam May ao ver outros pacientes ocasionalmente morrerem ao seu lado com relativa frequência. Isso deve tê-lo deixado mais sensível a esta "disposição fundamental" que é a angústia (May, 1980).
Os inícios da Psicologia Existencial de Rollo May, relacionam-se não só com a angústia enquanto problema conceitual, psicológico, mas como vivência e ciência irmanadas. Incluam-se aí leituras cada vez mais originais e ousadas da psicanálise freudiana. Como ele mesmo atesta,

(...) o enfoque existencial não tem o objetivo de rejeitar as descobertas técnicas de Freud ou daqueles de qualquer outro ramo da psicologia. Procura, no entanto, situar estas descobertas sobre novas bases, dando uma nova compreensão, redescobrindo a natureza e a imagem do ser humano (May, 1988, p. 17).

Mesmo com as ... diferenças entre estes autores (Freud e Kiekegaard), May, como se disse, não fez escolha entre eles. E diferente de outros psicólogos humanistas que tendiam a desprezar os achados psicanalíticos, May agrega os dois pontos de vista como necessários."

Interessante que a vivência torna Rollo May cada vez mais dedicado a uma concepção de psicologia existencial, e, ao longo da carreira aprofunda-se nesta perspectiva filosófica. Desse seu intereesse resultou um livro que publicou com Ernst Angel e Henri Ellenberger, em 1958: Existence: a new dimension in psychatry and psychology¹, obra em que desenvolveu suas ideias e pesquisas na direção da psicologia e psicopatologia de características existenciais e fenomenológicas.” 
Nesse sentido, dedicou-se a temáticas como:
  • o humano como constituidor de valores e como essa característica afeta a existência.
  • as relações amorosas e a questão da vontade.
  • a dinâmica da criatividade e da arte.
  • a discussão entre destino e liberdade.
  • sobre a arte e a beleza. 
Rollo May, também lecionou. Tendo trabalhado em Universidades como as de New York, de Harvard, de Yale e de Princeton.

Enfim, o que me trouxe de volta a essa obra é que tive contato com a obra de Rollo May, ainda muito jovem e à época não pude compreender o alcance da sua Psicologia Existencial. Hoje, tendo retomado as leituras de seus textos, cotejando com outras referências, percebo que à medida que mantenho esses estudos, compreendo a grandeza da sua proposta entre as psicologias de cunho “existenciais-humanistas”. Bastante interessante em seu caráter filosófico, de aspecto paradoxo até, será um dos materiais a que dedicarei um pouco de tempo nas releituras  para maior compreensão, doravante.

(no artigo (PONTE; SOUZA, 2011), grifos meus)


______.
1. Sobre esta obra, aqui sigo a indicação no artigo  (PONTE; SOUZA, 2011) que li para esse texto, a partir de uma edição em espanhol de (1977)
______.

KIEKEGAARD, S. A. O desespero humano: doença até a morte. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

______. O desespero humano: São Paulo: Ed. UNESP, 2010.

______. Do desespero silencioso ao elogio do amor desinteressado.(Org. Alvaro Valls). Escritos, 2004.

______. O conceito de angústia. 3. ed. Trad. Alvaro Valls. Petrópolis, RJ, Vozes, 2015.

MAY. Rollo. May, R., Angel, E., & Ellenberger, H. (Orgs.). Existencia: nueva dimension em psiquiatría y psicología. Madrid, Editorial Gredos, 1977.

May, R. (Org.). Psicologia existencial. Rio de Janeiro: Globo, 1980.

______. A descoberta do ser. São Paulo: Rocco, 1988.

______. O homem à procura de si mesmo. São Paulo: Ed. Círculo do livro, 1992.

______. Psicologia do dilema humano. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

PONTE, Carlos Roger Sales da; SOUSA, Hudsson Lima de. Reflexões críticas acerca da psicologia existencial de Rollo May. Rev. abordagem gestalt.,  Goiânia ,  v. 17, n. 1, p. 47-58, jun.  2011 .   Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672011000100008&lng=pt&nrm=iso>.acessos em  17  ago.  2019.


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