domingo, 15 de setembro de 2019

REFLEXÃO MATINAL L: BOAS ESCOLHAS E AFERIÇÃO DAS OPINIÕES


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(IMAGEM: "Pinterest")

Encerrada, a meditação andando da manhã, anotei o que andei pensando. Na boa tradição estoica (cf. HADOT, 2016): os "exercícios"!

"Tudo o que é belo, de qualquer maneira que o seja, é belo por si e completa-se a si mesmo, porque os louvores não fazem parte de sua constituição. Um objeto não se torna, pois, melhor ou pior pelo fato de ser elogiado. E isto refere-se até às concepções vulgares da beleza — por exemplo, os objetos materiais, as obras de arte. Que necessidade de louvores tem uma coisa realmente bela? Nenhuma. Tanta como a lei, a verdade, a bondade ou o pudor. Qual destas coisas é boa pelo fato de ser elogiada, qual deixa de existir por ser censurada? Perde a esmeralda o seu valor se a não encarecem? E o ouro? E o marfim? E a púrpura? E a lira? E a espada? E a flor? E a árvore?" (MARCO AURÉLIO, Meditações)

A mim, textos como esse, tem sido importantes nas tentativas de esculpir-me, desbastar as arestas, eliminar as más paixões, os vícios. 
São textos que já os citei por aqui, outras vezes e somam-se em projeto de cunho existencial, em andamento, há anos! 
Aqui, portanto, mantido o foco, ainda “medito andando” e reflito (e tenho anotado aqui, para melhor elaboração futura), sobre o que disseram Musonius Rufus, Epicteto, Sêneca, Marco Aurélio e acrescento aqui, como já o fiz em outra reflexão matinal, o grande Plotino, interessado no que convém dar prioridade: "beleza interna", "belo e completo em si mesmo" e; evitar a "gloríola".
A recomendação mais repetida entre eles é a persistência na busca de si, por si! Façamos boas escolhas pelo caminho e, otimizemos as buscas!
Enfim, só vou dando continuidade, registrando aqui pequenas reflexões pessoais em que procuro aliar teoria e prática, num claro sentido estoico e sempre em oposição aos que julgam a filosofia como inútil. À meditação de hoje, lembro o que dizia Epicteto, do ponto de vista prático, no (cap. V do Encheirídion):

“(V a)- As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas. Por exemplo: a morte nada tem de terrível, ou também a Sócrates teria se afigurado assim, mas é a opinião a respeito da morte — de que ela é terrível — que é terrível! Então, quando se nos apresentarem entraves, ou nos inquietarmos, ou nos afligirmos, jamais consideraremos outra coisa a causa senão nós mesmos — isto é: as nossas próprias opiniões.

(b) É ação de quem não se educou acusar os outros pelas coisas que ele próprio faz erroneamente. De quem começou a se educar, acusar a si próprio. De quem já se educou, não acusar os outros nem a si próprio.”.

Assim, pela vontade podemos domar as nossas opiniões. Como li, recentemente, atribuída a Michelangelo:

Concentra-te e faze como o escultor faz à obra que quer aformosear. Tira o supérfluo, aclara o obscuro, difunde a luz por tudo e não largues o cinzel”

Essa mesma ideia já encontrei em Plotino:

"Volta o teu olhar para ti mesmo e olha. Se ainda não tiveres a beleza em ti, faz como o escultor de uma estátua que tem de ser tornada bela. Ele talha aqui, lixa ali, lustra acolá, torna um traço mais fino, outro mais definido, até dar à sua estátua uma bela face. Como ele, tira o excesso, remodela o que é o oblíquo, clareia o que é sombrio e não pára de trabalhar a tua própria estátua até que o esplendor divino da virtude se manifeste em ti, até que vejas a disciplina moral estabelecida num trono santo". (PLOTINO. InTratado das Enéadas.)

Encerro com essa frase de (HORÁCIO. In: Epistularum liber primus. Livro 1, Carta 2),  que li, recentemente, enquanto preparava uma aula:

"Dimidum facti qui coepti habet: Sapere Aude!"

"Aquele que já começou, tem metade do trabalho já realizado: Ousa Saber!" (tradução modificada).

______.
AGOSTINHO de HIPONA (354 - 430). "Confissões". Livro X.

CÍCERO. Sobre o Destino. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2001.

DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. 15. ed. Brasília, DF: FEB, (1908), 1989.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II. III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______.A Filosofia como Maneira de Viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. São Paulo: É Realizaçõea, 2016.

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

______. How to be free. Princeton, New Jersey:  Princeton University Press, 2018.

______. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007.

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

PRITCHARD, M. “Philosophy for Children”. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2002. Acessado em 19 de agosto de 2016; fonte: http://plato.stanford.edu/entries/children/ .

MARCO AURÉLIO. Meditações. (tradução de Virgínia de Castro e Almeida)

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

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