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"Tudo o que é belo, de qualquer
maneira que o seja, é belo por si e completa-se a si mesmo, porque os
louvores não fazem parte de sua constituição. Um objeto não se torna, pois,
melhor ou pior pelo fato de ser elogiado. E isto refere-se até às concepções
vulgares da beleza — por exemplo, os objetos materiais, as obras de
arte. Que necessidade de louvores tem uma coisa realmente
bela? Nenhuma. Tanta como a lei, a verdade,
a bondade ou o pudor. Qual destas coisas é boa pelo fato de ser
elogiada, qual deixa de existir por ser censurada? Perde a esmeralda
o seu valor se a não encarecem? E o ouro? E o marfim? E a púrpura? E a lira? E
a espada? E a flor? E a árvore?" (MARCO AURÉLIO, Meditações)
A
mim, textos como esse, tem sido importantes nas tentativas de esculpir-me, desbastar
as arestas, eliminar as más paixões, os vícios.
São
textos que já os citei por aqui, outras vezes e somam-se em projeto de cunho
existencial, em andamento, há anos!
Aqui, portanto, mantido o foco, ainda “medito andando” e reflito (e tenho anotado aqui, para melhor
elaboração futura), sobre o que disseram Musonius Rufus, Epicteto, Sêneca,
Marco Aurélio e acrescento aqui, como já o fiz em outra reflexão
matinal, o grande Plotino, interessado no que convém dar prioridade:
"beleza interna", "belo e completo em si mesmo" e;
evitar a "gloríola".
A
recomendação mais repetida entre eles é a persistência na busca de si, por
si! Façamos boas escolhas pelo caminho e, otimizemos as buscas!
Enfim,
só vou dando continuidade, registrando aqui pequenas reflexões pessoais em que
procuro aliar teoria e prática, num claro sentido estoico e sempre em oposição
aos que julgam a filosofia como inútil. À meditação de hoje, lembro o que dizia
Epicteto, do ponto de vista prático, no (cap. V do Encheirídion):
“(V a)- As coisas não inquietam os homens,
mas as opiniões sobre as coisas. Por exemplo: a morte nada tem de terrível, ou
também a Sócrates teria se afigurado assim, mas é a opinião a respeito da
morte — de que ela é terrível — que é terrível! Então, quando se nos
apresentarem entraves, ou nos inquietarmos, ou nos afligirmos, jamais
consideraremos outra coisa a causa senão nós mesmos — isto é: as nossas
próprias opiniões.
(b) É ação de quem não se educou
acusar os outros pelas coisas que ele próprio faz erroneamente. De quem começou
a se educar, acusar a si próprio. De quem já se educou, não acusar os outros
nem a si próprio.”.
Assim,
pela vontade podemos domar as nossas opiniões. Como li, recentemente, atribuída
a Michelangelo:
“Concentra-te e faze como o escultor faz à
obra que quer aformosear. Tira o supérfluo, aclara o obscuro, difunde a luz por
tudo e não largues o cinzel”
Essa
mesma ideia já encontrei em Plotino:
"Volta o teu olhar para ti mesmo e
olha. Se ainda não tiveres a beleza em ti, faz como o escultor de uma estátua
que tem de ser tornada bela. Ele talha aqui, lixa ali, lustra acolá, torna um
traço mais fino, outro mais definido, até dar à sua estátua uma bela face. Como
ele, tira o excesso, remodela o que é o oblíquo, clareia o que é sombrio e não
pára de trabalhar a tua própria estátua até que o esplendor divino da virtude
se manifeste em ti, até que vejas a disciplina moral estabelecida num trono
santo". (PLOTINO. In: Tratado das Enéadas.)
Encerro com essa frase de (HORÁCIO. In: Epistularum liber primus. Livro 1, Carta 2), que li, recentemente, enquanto preparava uma aula:
"Dimidum facti qui coepti habet: Sapere Aude!"
"Dimidum facti qui coepti habet: Sapere Aude!"
"Aquele que já começou, tem metade do trabalho já realizado: Ousa Saber!" (tradução modificada).
______.
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MARCO
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e Almeida)
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