O Facebook fez-me lembrar
esta publicação de 2016. Acrescentei uma citação da Metafísica de Aristóteles e outra, do prof. O. Porchat.
Em tempos
"paradoxais", de infindo falatório, vale brincar de Lógico aqui. Tomem como exemplo o
enunciado abaixo:
______.
"[...] ESTA AFIRMAÇÃO É FALSA.” (*)
______.
"[...] ESTA AFIRMAÇÃO É FALSA.” (*)
A sentença do mentiroso
nos leva a uma contradição quando tentamos determinar se ela é verdadeira ou não.
Vejamos:
1.
Se assumimos a sentença como verdadeira,
então o que ela afirma deve ser o caso e, portanto, ela deve ser falsa!
2.
Por outro lado, se a assumimos como falsa
então ela de fato expressa aquilo que é o caso, sendo portanto verdadeira!
Em qualquer uma das duas
possíveis situações, somos conduzidos a uma contradição, ou seja, se a sentença
é verdadeira então ela é falsa, e vice-versa. Este paradoxo é chamado de
Paradoxo do mentiroso, e faz parte de uma classe chamada de paradoxos
auto-referentes [...]".
______.
*(TESTA, R. - Doutor e pesquisador associado do Centro de Lógica, Epistemologia e
História da Ciência (CLE-Unicamp), ligado ao grupo de Lógica Teórica e Aplicada
(GTAL).
E, como dizia Aristóteles, ampliando ainda a reflexão para o contexto de uma sociedade como a nossa, que fala sobre tudo, fala e fala:
“Os que pretendem
discutir devem entender-se sobre algum ponto. Se isso não ocorresse, como
poderia haver discussão entre eles? Portanto, é preciso que cada um dos termos
que eles usam seja-lhes compreensível e signifique algo e não muitas coisas,
mas uma só (...) Se não é possível afirmar nada de verdadeiro, então também
esta afirmação será falsa, isto é, será falso dizer que não existe nenhuma
afirmação verdadeira.”
______.
(ARISTÓTELES.
Metafísica. Livro 11, 1062a, 10 e
1062b, 10.)
Ademais, para pensar em outra frente, considere-se também que:
"Em suma, no que respeita a esse
tópico, o que eu sempre quis significar a meus estudantes poderia resumir-se
numas poucas palavras, tais como: "Se vocês querem realmente fazer
filosofia, não acreditem em nada do que lhes digo, seja ao expor idéias
filosóficas minhas, seja ao propor alguma interpretação da doutrina de algum
filósofo. Mas também não acreditem em ninguém mais. Utilizem seus professores e
seus livros como instrumentos eventualmente úteis para ajudá-los no trabalho de
conhecer a filosofia e de filosofar. Porque aquele que acreditar no que eu
disser, ou no que disser algum outro professor de filosofia, estará apenas
mostrando que está longe, muito longe de saber o que é filosofia". No limite,
o professor deveria dizer muito seriamente a seus alunos - e isso no princípio
de cada aula: "Não se pode acreditar em nada do que eu digo". Bem sei
que algum esperto filósofo analítico poderia querer ver aqui uma variante do
paradoxo do mentiroso. Mas deixemos isso para lá. São divertimentos de filósofo
analítico".
______.
(Cf. PORCHAT, O. "Discurso proferido quando do recebimento do título de professor emérito da FFLCH-USP". In: SMITH, P. J.; WRIGLEY, M. B. O filósofo e sua história: uma homenagem a Oswaldo Porchat. Campinas-SP, UNICAMP, 2003, p. 32).
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