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Assim como outros
estoicos, Musônio Rufo valorizava a "moderação", ou sōphrosúnē (σωφροσύνη - em
grego antigo). A sōphrosúnē consiste em abrandar suas emoções; não
comer demais, ser frugal e comportar-se com certo equilíbrio e gravitas. A
moderação está profundamente relacionada com estabelecimento de médias nas
atividades práticas pessoais. E, no que se refere especificamente às
emoções, Musônio Rufo afirma, por exemplo, que:
“Palavras de
aconselhamento e admoestação oferecidas quando as emoções de uma pessoa estão
em seu ponto mais alto e transbordante pouco ou nada adiantam. [Fragmento
nº 36]”
Não é novidade, nem
constitui estranhamento o fato de que a verdade é sempre desagradável. Dada de
supetão, não esclarece, vislumbra, até cega. Isso sem se levar em conta as
“escolas” que se empenham em demonstrar sua impossibilidade. Tem sido comum
esse tipo de “educação filosófica”. Em geral, a filosofia é vista como um
exercício inútil, reservado a desocupados que vivem isolados em suas torres de
marfim.
A considerar-se que a
filosofia tem mesmo uma característica bastante voltada à reflexão teórica,
abre-se imenso campo para que a vejam como inaplicável, portanto, dispensável.
O filósofo estoico Caio
Musônio Rufo, chamado por alguns de “Sócrates romano”, tornou-se à sua época
conhecido não só por sua coerência interna, ou seja, pela aproximação entre o
que ensinava e o que vivenciava mas por ter ensinado outro grande estoico:
Epicteto; sobre quem temos dedicado alguns breves textos aqui.
Como sempre destaco; das
minhas leituras cada vez mais frequentes sobre estoicismo, o mais
notório princípio para prática dessa filosofia é o conjunto de "exercícios práticos". Visto que os objetivos estoicos estão sempre ajustados de
forma a dar mais valor à ação do que às palavras. A maneira de agir
de cada indivíduo que pretenda ser um estoico é priorizada devido ao
fato de que verdadeiramente a ação mostra como uma pessoa realmente
é. Daí a incessante busca, realizando tais "exercícios
práticos" no cotidiano para alcançar o sempre almejado princípio da eustatheia (tranquilidade)
e desenvolver a euthymia (crença em si). E, como já anotei aqui nessa página, um dia desses, nunca é demais reforçar e refazer o caminho.
Enfim, só vou dando
continuidade, registrando aqui pequenas reflexões pessoais em que procuro aliar
teoria e prática, num claro sentido estoico e em oposição aos que julgam a
filosofia como inútil. À meditação de hoje:
1.“(a) As coisas
não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas. Por exemplo: a morte
nada tem de terrível, ou também a Sócrates teria se afigurado assim, mas é a
opinião a respeito da morte — de que ela é terrível — que é terrível!
Então, quando se nos apresentarem entraves, ou nos inquietarmos, ou nos
afligirmos, jamais consideraremos outra coisa a causa senão nós mesmos — isto
é: as nossas próprias opiniões.
(b) É ação de quem não se educou acusar os outros pelas coisas que ele próprio faz erroneamente. De quem começou a se educar, acusar a si próprio. De quem já se educou, não acusar os outros nem a si próprio.”
Acrescento a isso uma
breve narrativa de Xenofonte sobre Sócrates, mostrando a serenidade mesmo
diante das acusações que recebeu:
(b) É ação de quem não se educou acusar os outros pelas coisas que ele próprio faz erroneamente. De quem começou a se educar, acusar a si próprio. De quem já se educou, não acusar os outros nem a si próprio.”
2. “Acompanhava-o certo
Apolodoro, alma simples e extremamente afeiçoada a Sócrates, que lhe disse:
— Não posso suportar,
Sócrates, ver-te morrer injustamente.
Então se diz que, passando-lhe de leve a mão pela cabeça, Sócrates respondeu:
— Como! Meu caro Apolodoro, então preferias ver-me morrer justamente?
E ao mesmo tempo sorria.
Das muitas "meditações matinais" que levamos a cabo, surgiu também a lembrança de que os estoicos propunham também “reflexões noturnas”, como disse acima e segue a indicação abaixo.
“O método a que Musônio
Rufo se refere pode ser a prática estoica da meditação retrospectiva noturna, a
qual envolve a reflexão sobre o que você fez de bom ou de ruim em cada dia e a
imaginação sobre o modo de melhorar sua conduta dali por diante.
À mesa do jantar ou à hora de dormir, converse com seu filho sobre como foi o dia para vocês dois, discutindo o que deu certo e o que deu errado. Vocês perderam alguma oportunidade de fazer algo positivo pelo seu crescimento enquanto pessoas? Útil tanto para os filhos como para os pais é refletir sobre sua própria conduta, fazer comentários sobre suas falhas pessoais e revirar o cérebro em busca de soluções que visem ao aprimoramento de si. Sabedoria não é algo que se adquira do dia para a noite: estamos sempre nos empenhando na direção dela.”
À mesa do jantar ou à hora de dormir, converse com seu filho sobre como foi o dia para vocês dois, discutindo o que deu certo e o que deu errado. Vocês perderam alguma oportunidade de fazer algo positivo pelo seu crescimento enquanto pessoas? Útil tanto para os filhos como para os pais é refletir sobre sua própria conduta, fazer comentários sobre suas falhas pessoais e revirar o cérebro em busca de soluções que visem ao aprimoramento de si. Sabedoria não é algo que se adquira do dia para a noite: estamos sempre nos empenhando na direção dela.”
A considerar só essa
reflexão, extraída dos estoicos, já é bem possível notar que a filosofia tem
sim fundamentalmente uma profunda relevância prática. Nas mais variadas
ocasiões, no cotidiano, situações como as descritas acima, ao se apresentarem,
sempre nos oferecerão oportunidades para a prática da moderação, da
serenidade diante da opiniões ante os acontecimentos mesmo diante da
"morte", da autoeducação diante dos intempéries da
vida, como o próprio Sócrates acima, e os estoicos. O método de
Musônio Rufo apresentado acima como "meditação retrospectiva
noturna", bem parecida com uma proposta de Agostinho de Hipona quando
propunha uma reflexão sobre o que fizemos de bom ou ruim ao longo de cada dia e
o estabelecimento de "metas" a serem vencidas para a melhora da
conduta a partir de cada novo dia que tem início.
E, acima de tudo, nunca
esquecer, num plano mais geral, que a incessante busca, a realização
destes exercícios práticos tem como ponto básico alcançarmos o tão
desejado estado em nós, da eustatheia (tranquilidade) e da euthymia (crença
em si)
Portanto, ainda uma vez registrando o que foi a mais recente "meditação retrospectiva noturna", durante estas "reflexões matinais", sigo estudando na perspectiva de um "προκόπτον –prokopton”. De quem aspira à Sabedoria.
E, nunca é demais reforçar e prosseguirmos.
E, nunca é demais reforçar e prosseguirmos.
.’.
______.
BIBLIOGRAFIA SEMPRE
CONSULTADA
______.
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