(IMAGEM: "Pinterest")
“[...]
perdeu-se o significado profundo de autenticidade. Assim, muita gente acha
quase impossível, em nosso tempo, compreender que Sócrates, no preceito ‘conhece-te
a ti mesmo’, insistia no mais difícil de todos os desafios. E julga também
quase impossível compreender a que Kierkegaard se referia ao proclamar:
‘Aventurar-se, no sentido mais elevado, é precisamente tomar consciência de si
mesmo...’ ” (MAY, Rollo, 1990. p. 47)
Sócrates, filósofo grego,
considerado um dos maiores, na filosofia ocidental e universal. Embora ele não
tenha deixado nenhum trabalho escrito e poucas idéias possam ser atribuídas com
segurança, Sócrates é uma figura capital do pensamento antigo, a ponto de dividir
a história da filosofia antiga; chamando aos que o antecederam: os
pré-socráticos. Suas reflexões se concentraram no ser humano e particularmente,
na ética, e suas idéias nos chegaram por meio de seu aluno Platão, que era seu
discípulo direto, e Aristóteles, aluno Platão.
A maior parte do que se
sabe sobre Sócrates vem de três contemporâneos: o historiador Xenofonte, o
comediante Aristófanes e o filósofo Platão.
- Xenofonte retratava Sócrates como um sábio absorvido pela ideia de identificar conhecimento e virtude, mas com uma personalidade na qual não faltavam algumas características um tanto vulgares.
- Aristófanes fez disso o objeto de suas sátiras em uma comédia "As nuvens", obra em que traça um “caricatura” de Sócrates, mostrando-o como um artista de fala enganosa e parece o identificar como os “Sofistas”, em plena ascensão da “democracia” no século de Péricles.
- Esses dois testemunhos, portanto, se acrescem à imagem de Sócrates apresentada Platão em seus Diálogos, na qual ele aparece como figura principal, uma imagem que não deixa de ser excessivamente idealizada às vezes, mesmo que seja considerada a mais justa.
Durante boa parte de sua
vida, Sócrates teria se dedicado a andar pelas praças, mercados e
academias de Atenas, levando aos jovens aristocratas ou pessoas comuns
(comerciantes, camponeses ou artesãos) com que conversava um novo método, em
forma de interrogatórios e reflexão, bases de sua proposta filosófica: a
“maiêutica”.
O próprio Sócrates
comparou esse método com o trabalho de parteira exercido por sua mãe: era necessário um interlocutor para iluminar a verdade, descobrir por si mesmo como
já alojado em sua alma, através de um diálogo no qual o filósofo em que
apresentava uma série de perguntas e contrapunha suas objeções às respostas que
recebia. Ao final, o objetivo demonstrar que as “opiniões” do interlocutor, no
início da conversa, escondiam uma aparência enganosa ou revelava algo de novo,
mais próximo a um conhecimento verdadeiro.
A maior parte das conversas
filosóficas atribuídas a Sócrates, foram reunidas nos “Diálogos” de Platão. Sócrates apresenta e segue uma linha diretriz que molda o que conhecemos hoje
como o ”método socrático”.
O início de suas conversas
geralmente era um elogio à sabedoria de seu interlocutor e, posicionando-se
sempre como quem “nada sabe”, conduzia a “ironia” e orientava seu diálogo. No
início sempre uma pergunta: (por exemplo: o que é virtude?). Traça,
incialmente, um elogio à resposta recebida e com um sequência de novas questões
e exemplos prossegue com seu método. O objetivo é sempre o “pensar por si
mesmo”.
Entre os autores que
fazem referência a Sócrates, está Epicteto. Seguindo a filosofia de Sócrates
mostra que a filosofia deve ser entendida como a busca da sabedoria pela razão.
É a sabedoria que nos capacita bem viver ou viver de modo pleno e feliz e de
acordo com o que, porventura, teorizamos. Para Sócrates, como uma vida não
examinada não merece ser vivida, a filosofia se configura como um caminho na
construção moral do homem que se dispõe a pensar, a pensar bem; e, isto deve
estar em consonância com a prática. Assim, como Sócrates, Epicteto mostra
essa mesma concepção de filosofia no seu Encheirídion.
E, para encerrar, e
estabelecer mais dois autores, para reflexões pessoais, tenho acrescentado, e um
dos autores que tenho lido bastante e que, como dito acima, remete a Sócrates e
carrega muito de socrático em seu livro: "O conceito de ironia". Refiro-me a S. A. Kierkegaard. O segundo é Rollo May,
que também estudou todo esse mote apontado acima e o próprio Kierkegaard.
Diversas frentes, mas a temática preserva-se sempre nas obras
______.
DINUCCI, A.; JULIEN, A. O
Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre I.
Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book
I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de
Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012.
(Edição Bilíngue)
______. Testemunhos e
Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS,
2008.
EPICTETUS. The Discourses of
Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather.
Harvard: Loeb, 1928.
HADOT, Pierre. The inner
citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University
Press, 2001.
KIEKEGAARD, S.
A. O conceito de ironia: Constantemente referido a Sócrates - Edição de Bolso. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
LONG, Georg. Discourses of Epictetus,
with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.
MAY, Rollo. O homem à procura de si
mesmo. São Paulo: Ed. Círculo do livro, 1992.
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a
Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.
XENOFONTE. Apologia de Sócrates. 5.
ed. Trad. Líbero Rangel de Andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (p. 164-165).
(Col. Os Pensadores)
Nenhum comentário:
Postar um comentário