quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XXV: APONTAMENTOS DIVERSOS

Seja bem vindo outono.
(IMAGEM: "Pinterest")


“[...] perdeu-se o significado profundo de autenticidade. Assim, muita gente acha quase impossível, em nosso tempo, compreender que Sócrates, no preceito ‘conhece-te a ti mesmo’, insistia no mais difícil de todos os desafios. E julga também quase impossível compreender a que Kierkegaard se referia ao proclamar: ‘Aventurar-se, no sentido mais elevado, é precisamente tomar consciência de si mesmo...’ ”  (MAY, Rollo, 1990. p. 47)

Sócrates, filósofo grego, considerado um dos maiores, na filosofia ocidental e universal. Embora ele não tenha deixado nenhum trabalho escrito e poucas idéias possam ser atribuídas com segurança, Sócrates é uma figura capital do pensamento antigo, a ponto de dividir a história da filosofia antiga; chamando aos que o antecederam: os pré-socráticos. Suas reflexões se concentraram no ser humano e particularmente, na ética, e suas idéias nos chegaram por meio de seu aluno Platão, que era seu discípulo direto, e Aristóteles, aluno Platão.

A maior parte do que se sabe sobre Sócrates vem de três contemporâneos: o historiador Xenofonte, o comediante Aristófanes e o filósofo Platão.

  • Xenofonte retratava Sócrates como um sábio absorvido pela ideia de identificar conhecimento e virtude, mas com uma personalidade na qual não faltavam algumas características um tanto vulgares.
  • Aristófanes fez disso o objeto de suas sátiras em uma comédia "As nuvens", obra em que traça um “caricatura” de Sócrates, mostrando-o como um artista de fala enganosa e parece o identificar como os “Sofistas”, em plena ascensão da “democracia” no século de Péricles.
  • Esses dois testemunhos, portanto, se acrescem à imagem de Sócrates apresentada Platão em seus Diálogos, na qual ele aparece como figura principal, uma imagem que não deixa de ser excessivamente idealizada às vezes, mesmo que seja considerada a mais justa.
Durante boa parte de sua vida, Sócrates teria se dedicado a andar pelas praças, mercados e academias de Atenas, levando aos jovens aristocratas ou pessoas comuns (comerciantes, camponeses ou artesãos) com que conversava um novo método, em forma de interrogatórios e reflexão, bases de sua proposta filosófica: a “maiêutica”.

O próprio Sócrates comparou esse método com o trabalho de parteira exercido por sua mãe: era necessário um interlocutor para iluminar a verdade, descobrir por si mesmo como já alojado em sua alma, através de um diálogo no qual o filósofo em que apresentava uma série de perguntas e contrapunha suas objeções às respostas que recebia. Ao final, o objetivo demonstrar que as “opiniões” do interlocutor, no início da conversa, escondiam uma aparência enganosa ou revelava algo de novo, mais próximo a um conhecimento verdadeiro.

A maior parte das conversas filosóficas atribuídas a Sócrates, foram reunidas nos “Diálogos” de Platão. Sócrates apresenta e segue uma linha diretriz que molda o que conhecemos hoje como o ”método socrático”.

O início de suas conversas geralmente era um elogio à sabedoria de seu interlocutor e, posicionando-se sempre como quem “nada sabe”, conduzia a “ironia” e orientava seu diálogo. No início sempre uma pergunta: (por exemplo: o que é virtude?). Traça, incialmente, um elogio à resposta recebida e com um sequência de novas questões e exemplos prossegue com seu método. O objetivo é sempre o “pensar por si mesmo”.

Entre os autores que fazem referência a Sócrates, está Epicteto. Seguindo a filosofia de Sócrates mostra que a filosofia deve ser entendida como a busca da sabedoria pela razão. É a sabedoria que nos capacita bem viver ou viver de modo pleno e feliz e de acordo com o que, porventura, teorizamos. Para Sócrates, como uma vida não examinada não merece ser vivida, a filosofia se configura como um caminho na construção moral do homem que se dispõe a pensar, a pensar bem; e, isto deve estar em consonância com a prática.  Assim, como Sócrates, Epicteto mostra essa mesma concepção de filosofia no seu Encheirídion.

E, para encerrar, e estabelecer mais dois autores, para reflexões pessoais, tenho  acrescentado, e um dos autores que tenho lido bastante e que, como dito acima, remete a Sócrates e carrega muito de socrático em seu livro: "O conceito de ironia". Refiro-me a S. A. Kierkegaard. O segundo é Rollo May, que também estudou todo esse mote apontado acima e o próprio Kierkegaard. Diversas frentes, mas a temática preserva-se sempre nas obras

______.
DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001. 

KIEKEGAARD, S. A. O conceito de ironia: Constantemente referido a Sócrates - Edição de Bolso. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. São Paulo: Ed. Círculo do livro, 1992.

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

XENOFONTE. Apologia de Sócrates. 5. ed. Trad. Líbero Rangel de Andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (p. 164-165). (Col. Os Pensadores)

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