"A filosofia não
visa a assegurar qualquer coisa externa ao homem. Isso seria admitir algo que
está além de seu próprio objeto. Pois assim como o material do carpinteiro é a
madeira, e o do estatuário é o bronze, a matéria-prima da arte de viver é a
própria vida de cada pessoa." (Epiteto. D. I, XV : 2)
Mais uma das brevíssimas
reflexões tendo como base o Hegemonikon.
Hegemonikon: para os
estoicos, o que dá unidade a toda vida psíquica humana, a fonte da vida da alma
e do conjunto psicofísico, da consciência e das faculdades cognitivas
superiores, como capacidade representativa, julgamento e razão.
E, partindo dessa
palavra: Hegemonicon - ἡγεμονικόν, que reflito na manhã de hoje sobre
o que pode ser tomado como “verdadeira liberdade”; tentando uma aproximação
como a noção de “cidadela interior” e tenho acrescentado reflexões
sobre as “leis naturais”.
E, mais, por estar
trabalhando nesse sentido, de reviravolta, de compreensão racional das “Leis
naturais”, Hegemonicon - ἡγεμονικόν passou a servir como uma referência fundamental
a um poder interior que se posiciona como quem domina e comanda as ações a
partir dessa “compreensão racional” das “leis naturais”; uma atividade embasada
na razão e especificamente humana.
Ora, foi um momento para
essa manhã; na vida, em que paramos e aplicamo-nos no esforço em fazer a coisa
certa, a escolha certa; a melhor tomada de decisão, desviando (clinâmen) das
absurdidades do presente "caótico" que se nos afigura "catastroficamente" (para alguns), mas que,
sem desânimo, tentamos fazer disso momentos de recomeços, de refazimento.
A tarefa se insere numa
meta mais ampla, portanto, fortalecermo-nos e nos sustentarmos na direção da
tão almejada “tranquilidade” (ἀπάθεια - apatheia), e a mais
"imperturbável paz de espírito” (Ἀταραξία - ataraxia)
É mais um momento de refletirmos estoicamente... ou, no
mínimo, sermos coerentes na caminhada. Serena e solitária
caminhada.
Ademais:
“Não comeces tu a fazer os teus males mais graves do que são e a afligires-te com queixumes. Toda dor é ligeira quando não a julgamos a partir da opinião comum. Se, pelo contrário, começares a exortar-te a ti mesmo e a dizer: “Isto não é nada, ou pelo menos não é nada de importância! O que é preciso é paciência [Duremus]! Isto passa já!” — pelo próprio fato de considerares ligeiras as tuas dores, já estás a torná-las de fato ligeiras. Todos os nossos juízos estão suspensos da opinião comum. Não são apenas a ambição, o luxo, a avareza que se regulam por ela: também sentimos as dores de acordo com a opinião [ad opinionem dolemus]. Cada um só é desgraçado na justa medida em que se considera tal. Em meu entender, há que pôr termo às lamentações por dores já passadas, e que evitar palavras como: “Nunca alguém esteve tão mal como eu! Que dores, que sofrimentos eu padeci! Ninguém imaginava que eu iria recuperar! Quantas vezes a família chegou a chorar-me e os médicos a abandonarem-me como morto! Os supliciados na mesa de tortura não sofrem tormentos iguais aos meus!”. Mesmo que tudo isto fosse verdade, pertence já ao passado. O que é que se ganha em re-sentir os sofrimentos passados, qual a vantagem de, por o ter sido uma vez, continuar a sentir-se desgraçado? E não é verdade que toda gente exagera consideravelmente os próprios males, mentindo, afinal, a si mesma?” (Sêneca, L. A. Cartas a Lucílio, LXXVIII, 13-14, 2014.)
“Não comeces tu a fazer os teus males mais graves do que são e a afligires-te com queixumes. Toda dor é ligeira quando não a julgamos a partir da opinião comum. Se, pelo contrário, começares a exortar-te a ti mesmo e a dizer: “Isto não é nada, ou pelo menos não é nada de importância! O que é preciso é paciência [Duremus]! Isto passa já!” — pelo próprio fato de considerares ligeiras as tuas dores, já estás a torná-las de fato ligeiras. Todos os nossos juízos estão suspensos da opinião comum. Não são apenas a ambição, o luxo, a avareza que se regulam por ela: também sentimos as dores de acordo com a opinião [ad opinionem dolemus]. Cada um só é desgraçado na justa medida em que se considera tal. Em meu entender, há que pôr termo às lamentações por dores já passadas, e que evitar palavras como: “Nunca alguém esteve tão mal como eu! Que dores, que sofrimentos eu padeci! Ninguém imaginava que eu iria recuperar! Quantas vezes a família chegou a chorar-me e os médicos a abandonarem-me como morto! Os supliciados na mesa de tortura não sofrem tormentos iguais aos meus!”. Mesmo que tudo isto fosse verdade, pertence já ao passado. O que é que se ganha em re-sentir os sofrimentos passados, qual a vantagem de, por o ter sido uma vez, continuar a sentir-se desgraçado? E não é verdade que toda gente exagera consideravelmente os próprios males, mentindo, afinal, a si mesma?” (Sêneca, L. A. Cartas a Lucílio, LXXVIII, 13-14, 2014.)
______.
AGOSTINHO de HIPONA (354 - 430). "Confissões". Livro
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