quinta-feira, 5 de março de 2020

REFLEXÃO MATINAL LXXXI: DIGRESSÕES

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(IMAGEM: "Pinterest")
O “[...] ser humano pode exercer domínio sobre si mesmo se ele quiser?”
[...] Ora, o domínio sobre si mesmo depende da força do sentimento moral. Podemos muito bem nos autogovernar se enfraquecermos as forças opostas." (KANT, 2018[1])

Tenho estudado, nas pausas, a obra dos estóicos. E, para eles, é verdadeiramente importante e fundamental comprendermos que estudar a filosofia não é só esmerar-se no burilamento dos discursos inflamados no verbo, mas vazios de conteúdos. Importa mesmo que nossos esforços sejam sempre no sentido de apararmos as arestas na prática e aquisição de Virtudes; aperfeiçoarmos a nós mesmos. E, em meio aos estudos tenho observado um “princípio” a ser estudado com atenção, como segue abaixo:

Trata-se de Askesis[2]: "Do grego. Significa exercício. É o esforço para renunciar aos prazeres sensíveis tendo em vista o aperfeiçoamento moral ou espiritual, ou ainda a realização de uma obra que exija o domínio da vontade. Os estóicos submetiam-se a essa disciplina para escapar ao domínio dos sentidos e da afetividade; os ascetas cristãos aplicavam-na a fim de se desapegarem do mundo e aproximarem-se de ‘Deus’. P. Ext., chamamos de ascese o método perseverante, gerador de sacrifícios, que o pesquisador, erudito ou filósofo, se inflige (por exemplo, Descartes, quando duvida)."

Neste sentido, e sobre como aplica-lo à própria vida, em primeiro lugar, aproveito trechos da obra de Marco Aurélio, em suas Meditações, Livro X:

  • "Não fale mais sobre como o homem bom deve ser, mas seja um bom homem”(X,16).
  • “Habitue-se o mais possível a si mesmo, por ocasião de qualquer coisa que seja feita por qualquer pessoa a perguntar-se a si mesmo, para que fim está este homem fazendo isto? Mas começa por si mesmo, e se examine primeiro.” (X,38)

Assim, entre as frequentes leituras sobre estoicismo, aprendo alguns dos mais notórios princípios para prática dessa filosofia: um conjunto de “exercícios práticos” a que estes, lidos hoje, são somados. Os objetivos estoicos estão sempre ajustados de forma valorizar a ação, mais do que às palavras; difícil empreendimento, ainda.

Portanto, agir, para o indivíduo que se pretenda um verdadeiro prokopton, ou disso se aproximar, constitui-se cada vez mais em prioridade na autoeducação.

É a ação que mostra como uma pessoa realmente é. Daí a incessante busca, o difícil empreendimento, dito acima, por realizar tais exercícios práticos no cotidiano para alcançar a eustatheia (tranquilidade) e euthymia (crença em si), como já anotei aqui nessa página, tempos atrás.

Também a isso se acresce, a busca sempre renovada por imperturbável paz de espírito (ataraxia -  Ἀταραξία).

Enfim, só vou dando continuidade às repetidas tentativas de que, escrevendo, evite "falar", cada vez mais.

"Mantenha-se forte, mantenha -se Bem." (SÊNECA)


______.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

DINUCCI, Aldo; TAQUÍNIO, Antonio. Introdução ao manual de Epicteto. 2012.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.




[1] KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.
[2] DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Trad. Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.


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