domingo, 24 de maio de 2020

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XXXIV: SABEDORIA PRÁTICA E PROGRESSO

Bottega Pagani

(IMAGEM: "Pinterest")

Como já anotei aqui, não faz muito tempo que tenho estudado mais detidamente a filosofia estoica, com objetivos exclusivamente pessoais (um pouco até por aproximação a Kant, sugerido pelo professor Valério Rohden, num de seus artigos). Nesse sentido, tenho lido atentamente o Encheirídion, traduzido pelo prof. Aldo Dinucci, de quem recebi um exemplar que está sempre à mão, por aqui, além do volume I, das Diatribes, que ele mesmo traduziu, recentemente. O Encheirídion, uma espécie de “Manual de bolso” que teria sido elaborado pelo aluno de Epictetus, Flávio Arriano, a partir das Diatribes, aulas que teria assistido, portanto, e que resultaram no Encheirídion. A Filosofia estoica, como tenho anotado aqui, nesse blog, tem notória relação com as ideias de Sócrates, também.

Aqui, mais uma vez, destaco ainda que é perceptível também, na obra de Epictetus, em 51.1 e 52.2, uma divisão da Filosofia em três partes:

a) a primeira parte: amplamente relacionada à aplicação dos princípios estoicos;

b) na segunda a recomendação de que tais princípios sejam demonstrados;

c) e, por último, trata detidamente das demonstrações.

Para Epictetus, a primeira divisão é a mais fundamental, porém, alerta para o fato de que geralmente damos mais valor à última divisão.

A Sabedoria prática buscada com a leitura dos estoicos sugere que agir agora mesmo é absolutamente necessário, pois, se ficarmos apenas nos projetos de vida, não progrediremos.

E, com isso, e só assim os sinais de progresso são como os que vão anotados abaixo, extraídos do Encheirídion, de Epictetus; tema que, aliás desenvolvi em uma palestra que fiz, há algum tempo, e estou desenvolvendo para um possível artigo ou capítulo de livro, conforme às possibilidades e organização do tempo.

Sinais de progresso

“[48.b1] Sinais de quem progride: não recrimina ninguém, não elogia ninguém, não acusa ninguém, não reclama de ninguém. Nada diz sobre si mesmo – como quem é ou o que sabe. Quando, em relação a algo, é entravado ou impedido, recrimina a si mesmo. Se alguém o elogia, se ri de quem o elogia. Se alguém o recrimina, não se defende. Vive como os convalescentes, precavendo-se de mover algum membro que esteja se restabelecendo, antes que se recupere.

[48.b2] Retira de si todo o desejo e transfere a repulsa unicamente para as coisas que, entre as que são encargos nossos, são contrárias à natureza. Para tudo, faz uso do impulso amenizado. Se parecer insensato ou ignorante, não se importa. Em suma: guarda-se atentamente como um inimigo traiçoeiro”.

Ou seja, o que fica evidente e precisamos cuidar deste detalhe é que progredir, nesse caso, é atentarmos para as nossas falhas, os nossos defeitos pessoais e corrigirmos. Nisso consiste até onde consigo compreender o Estoicismo!

...

"Mantenha-se forte, mantenha-se bem" (Sêneca)

______

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

LONG, A. A. How to be free. Princeton, New Jersey:  Princeton University Press, 2018.

______. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...