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Como deve ser feito,
prossigo com as reflexões, estabelecidas, para mim, já há algum tempo, em nível
de aprendizagem constante, como projeto: a reforma de conduta pessoal, “curar as paixões”; domar o corcel
desgovernado, exercitar-se sem rudeza, em abandonar um hábito.
Ou seja, todos os esforços
para melhor compreensão do que seja desenvolver e aplicar a virtude, em
aprimorar as emoções, exatamente por pressupor que tais podem ser revertidas.
Ao contrário de concepções mirabolantes que dominam o "mercado", é possível e viável tal reversão, em força interior para resistir aos assaques e provocações
externas, na constituição da imperturbável tranquilidade da alma (ataraxía
- ἀταραξία).
Para isso, adotamos, manter
livre o princípio diretor:
"Apaga
a imaginação; acalma o impulso; extingue o desejo: domina a tua alma." (MARCO
AURÉLIO. Meditações. IX,7)
E, lemos também em René Descartes, na obra sobre “As paixões da alma”, ponto de partida
da reflexão da manhã:
"Ora,
visto que essas emoções interiores nos tocam mais de perto e têm, por
conseguinte, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com
elas, e das quais diferem, é certo que, contanto que a alma tenha sempre do que
se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que vêm de outras partes não
dispõem de poder algum para prejudicá-la. Servem, antes, para lhe aumentar a
alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por elas ofendido, conhecer com
isso a sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha assim do que estar
contente, precisa apenas seguir estritamente a virtude. Pois quem quer que haja
vivido de tal maneira que sua consciência não possa censurá-lo de alguma vez
ter deixado de fazer todas as coisas que julgou serem as melhores (que é o que
chamo aqui seguir a virtude), recebe daí uma satisfação tão poderosa para
torná-lo feliz que os mais violentos esforços da paixão nunca têm poder
suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma".
Portanto, na busca pela vida tranquila e feliz, a proposta da filosofia estoica era de que os fatores externos que comprometessem a perfeição moral e intelectual devem ser ignorados, superados, tratados com apátheia (ἀπάθεια). Mesmo nas dificuldades, a reação indicada ao ser humanos, era sempre agir com muita calma e tranquilidade, sem que fatores externos perturbem nossa capacidade de julgar ou reagir.
E, nesta caminhada, como
também já citado aqui, de Séneca
(2014):
"Sempre que queiras saber qual a atitude a evitar ou a assumir, regula-te pelo bem supremo, pelo objetivo de toda a tua vida. Todas as nossas ações devem conformar-se com o bem supremo: somente é capaz de determinar as ações individuais o homem que possui a noção do objetivo supremo da vida".
Quase tudo por ser realizado, primeiro passo já foi dado.
Prossigo!
____.
ARRIANO
FLÁVIO. O Encheirídion de
Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci;
Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão.
Universidade Federal de Sergipe, 2012).
DESCARTES, René. As paixões da alma. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
DINUCCI, A.; JULIEN,
A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra:
Imprensa de Coimbra, 2014.
EPICTETO. Entretiens. Livres I, II,
III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book I.
Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by
Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb,
1928.
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations
of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbekian. Livro VIII - "Carta 71", 2014.
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