Essa foi a primeira atividade do dia: refletir sobre “Chemins qui ne mènent nulle part”. ("caminhos que não levam a lugar nenhum"), depois, uma palestra e, em seguida, retorno às leituras... Assim...
Continuando a leitura desse livro do Galeno; seguindo com releituras da temática, nas obras dos estoicos e na TCC. E, fugindo dos caminhos que não levam a lugar nenhum:
Se queremos, portanto, mudar nossos hábitos, “curar as paixões, devemos criar uma nova atmosfera interior.
O primeiro passo é não começar, jamais, tentando mudar o mundo ou as
demais pessoas. Em seguida, nossa prioridade deve ser encontrarmos um espaço de
tranquilidade interior,
aprendermos mais sobre nós mesmos.
Isso inclui tentar
reconhecer e compreender limites e imperfeições.
Mas, principalmente, a “aplicação dos princípios”
“Jamais,
a respeito de coisa alguma, digas que “a perdi”, mas que “a restitui”. Teu
filho morreu: foi restituído. Tua mulher morreu: foi restituída. “A propriedade
me foi retirada”: pois bem, também ela foi restituída. “Mas é sórdido quem me
retirou a propriedade”. O que te importa por meio de quem Aquele que te
ofereceu a pediu de volta? Na medida em que te são dados, usa os objetos do
mesmo modo que alguém que ocupa algo que pertence a outro, como os viajantes
numa hospedaria.” (EPICTETUS, Encheirídion, XI).
E, acrescento mais um pequeno
texto aqui, seguindo em bom tom "estoico", com mais
essa “reflexão matinal”. Pois, como tem ocorrido
após afastar-me de certas temáticas que não levaram a lugar nenhum desde que
com elas havia me ocupado. Não tenho dúvidas, foi um desvio oportuno. Ter
reconfigurado as reflexões em outro patamar tem sido “existencialmente” fundamental e altamente benéfico.
A vida, como em
certa medida, tenho praticado, um pouco contemplativa, deve
conduzir-se sob alguns pilares previamente pensados e, em silêncio reflexivo. São
momentos em que a luta por aperfeiçoamento ganha contornos de
avaliação, de exame constante da condição humana, que só pode ser buscada na
temporalidade do pensamento próprio. Pensar o inefável, apontado por Sêneca e outros estoicos em geral; a vida
examinada como na recomendação de Sócrates; seus fundamentos, podem
ser alcançados e apreendidos em partes, nos limites de cada um e de forma
sempre fragmentada; no entanto, estes pequenos encontros dão-nos oportunidade de
busca de nós mesmos, do reencontro com nosso lugar, nosso “local of control”, tarefa de cada um
no universo.
Portanto,
segue-se, uma reflexão sobre a "aplicação
dos princípios", como "primeiro
e mais necessário tópico em Filosofia":
“[52.1] Ὁ πρῶτος καὶ
ἀναγκαιότατος τόπος ἐστὶν ἐν φιλοσοφίᾳ ὁ τῆς χρήσεως τῶν δογμάτων, οἷον τὸ μὴ
ψεύδεσθαι· ὁ δεύτερος ὁ τῶν ἀποδείξεων, οἷον πόθεν ὅτι οὐ δεῖ ψεύδεσθαι· τρίτος
ὁ αὐτῶν τούτων βεβαιωτικὸς καὶ διαρθρωτικός, οἷον πόθεν ὅτι τοῦτο ἀπόδειξις; τί
γάρ ἐστιν ἀπόδειξις, τί ἀκολουθία, τί μάχη, τί ἀληθές, τί ψεῦδος; [52.2] οὐκοῦν
ὁ μὲν τρίτος τόπος ἀναγκαῖος διὰ τὸν δεύτερον, ὁ δὲ δεύτερος διὰ τὸν πρῶτον· ὁ
δὲ ἀναγκαιότατος καὶ ὅπου ἀναπαύεσθαι δεῖ, ὁ πρῶτος. ἡμεῖς δὲ ἔμπαλιν ποιοῦμεν·
ἐν γὰρ τῷ τρίτῳ τόπῳ διατρίβομεν καὶ περὶ ἐκεῖνόν ἐστιν ἡμῖν ἡ πᾶσα σπουδή· τοῦ
δὲ πρώτου παντελῶς ἀμελοῦμεν. τοιγαροῦν ψευδόμεθα μέν, πῶς δὲ ἀποδείκνυται ὅτι
οὐ δεῖ ψεύδεσθαι, πρόχειρον ἔχομεν.”
Tradução:
“[52.1] O primeiro e
mais necessário tópico da filosofia é o da aplicação dos princípios, por
exemplo: “Não sustentar falsidades”. O segundo é o das demonstrações, por
exemplo: “Por que é preciso não sustentar falsidades?” O terceiro é o que é
próprio para confirmar e articular os anteriores, por exemplo: “Por que isso é
uma demonstração? O que é uma demonstração? O que é uma consequência? O que é
uma contradição? O que é o verdadeiro? O que é o falso?” [52.2] Portanto, o
terceiro tópico é necessário em razão do segundo; e o segundo, em razão do
primeiro – mas o primeiro é o mais necessário e onde é preciso se demorar.
Porém, fazemos o contrário: pois no terceiro despendemos nosso tempo, e todo o
nosso esforço é em relação a ele, mas do primeiro descuidamos por completo. Eis
aí porque, por um lado, sustentamos falsidades e, por outro, temos à mão como
se demonstra que não é apropriado sustentar falsidades.”
São estes os caminhos na
luta pela aquisição das virtudes, para os quais
o caminho escolhido aqui, pelo autor dessa página, é o da Filosofia.
Uma boa reflexão acerca da
nossa condição humana nos mostra que coisas
que consideramos nossas, na verdade, são “empréstimos” da vida. Existencialmente,
essa constatação não pode nos perturbar, nos tirar do nosso “local of control” ao “perdermos”
coisas ou pessoas. Recomenda Epicteto e outras tradições filosoficas aqui indicadas que, na verdade, nós as estamos restituindo.
Não possuímos nada; como disse acima, tudo nos foi emprestado pela Vida.
______.
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