“Quando, em relação a algo, é
entravado ou impedido, recrimina a si mesmo.” (Epictetus)
Somos tentados a falar,
mesmo não estando entre os que gostam dessa atividade. Mas, mesmo de pouco
falar nos deparamos com nossos equívocos quando nos aventuramos. Quantas vezes
dissemos alguma coisa que não precisava ser dita! Assumirmos que cometemos
esses deslizes é um passo na direção da serenidade também. E, todos temos um deslize deste tipo,
guardado, que quando escapa pede de nós uma reflexão da qual devemos extrair
importantes lições. Agir com pressa ou falar demais não nos faz bem. Mas,
refletir é buscar a prudência.
- O que aprendo com os filósofos, em geral, sobre isso?
- O que aprendo como os estoicos sobre isso?
- A partir dessa questão, reflito sobre o silêncio interior (não é mero calar-se), mais uma vez.
- Como manter o silêncio interior e não agir tresloucadamente?
Um caminho seria controlar as emoções para que daí não resultassem ações equivocadas.
Alcançarmos aqueles quatro pilares
que por onde vamos o levamos, foi primeiro exercício de muitos que têm sido
postos em prática. A esses acrescentei, recentemente “Os votos do estoico”. Mas, como ainda não se alcançou a
excelência nas atitudes, sigo trabalhando.
E, ainda:
silenciar e caminhar... (medito andando).
Transformei estes dois momentos
especiais da existência atual como fundamentais para aprendizagem profunda.
E, à medida que avanço,
faz-se necessário aferir a aprendizagem. Na maioria das vezes, há pouco ou
nenhum avanço, mas o prokopton deve impor-se
mais esforços.
Fundamental atentarmos para o progresso pessoal.
E, são sinais de progresso, segundo Epictetus:
“[48.b1] Σημεῖα προκόπτοντος·
οὐδένα ψέγει, οὐδένα ἐπαινεῖ, οὐδένα μέμφεται, οὐδενὶ ἐγκαλεῖ, οὐδὲν περὶ ἑαυτοῦ
λέγει ὡς ὄντος τι ἢ εἰδότος τι. ὅταν ἐμποδισθῇ τι ἢ κωλυθῇ, ἑαυτῷ ἐγκαλεῖ. κἄν
τις αὐτὸν ἐπαινῇ, καταγελᾷ τοῦ ἐπαινοῦντος αὐτὸς παρ' ἑαυτῷ· κἂν ψέγῃ, οὐκ ἀπολογεῖται.
περίεισι δὲ καθάπερ οἱ ἄρρωστοι, εὐλαβούμενός τι κινῆσαι τῶν καθισταμένων, πρὶν
πῆξιν λαβεῖν.
[48.b1] Sinais de
quem progride: não recrimina ninguém, não elogia ninguém, não acusa ninguém,
não reclama de ninguém. Nada diz sobre si mesmo – como quem é ou o que sabe.
Quando, em relação a algo, é entravado ou impedido, recrimina a si mesmo. Se alguém
o elogia, se ri de quem o elogia. Se alguém o recrimina, não se defende. Vive
como os convalescentes, precavendo-se de mover algum membro que esteja se
restabelecendo, antes que se recupere.
[48.b2] ὄρεξιν ἅπασαν ἦρκεν
ἐξ ἑαυτοῦ· τὴν δ' ἔκκλισιν εἰς μόνα τὰ παρὰ φύσιν τῶν ἐφ' ἡμῖν μετατέθεικεν. ὁρμῇ
πρὸς ἅπαντα ἀνειμένῃ χρῆται. ἂν ἠλίθιος ἢ ἀμαθὴς δοκῇ, οὐ πεφρόντικεν. ἐνί τε λόγῳ,
ὡς ἐχθρὸν ἑαυτὸν παραφυλάσσει καὶ ἐπίβουλον.
[48.b2] Retira de si
todo o desejo e transfere a repulsa unicamente para as coisas que, entre as que
são encargos nossos, são contrárias à natureza. Para tudo, faz uso do impulso
amenizado. Se parecer insensato ou ignorante, não se importa. Em suma:
guarda-se atentamente como um inimigo traiçoeiro”.
Difícil! Mas terá de ser feito!
Portanto, mais uma vez, registrando
o que foi a “Reflexão matinal” de
hoje, faço anotações ainda na perspectiva de um "προκόπτον –prokopton”. De
quem aspira à Sabedoria.
Das minhas leituras,
atualmente tão frequentes sobre estoicismo,
sua proximidade com a TCC tenho analisado o mais notório princípio para
prática dessa filosofia: este conjunto de “exercícios práticos”.
Os
objetivos estoicos estão sempre ajustados de forma a dar mais valor
à ação do que às palavras. A maneira de agir de cada
indivíduo que pretenda ser sábio, priorizada devido ao fato de que
verdadeiramente a ação mostra
como uma pessoa realmente é. Daí a incessante busca, realizando tais “exercícios práticos” no cotidiano
para alcançar a eustatheia (tranquilidade)
e euthymia (crença em si), como já anotei aqui nessa página,
outras vezes. Não é tarefa fácil mas é caminho a ser trilhado até o
limite, com objetivo de buscar a serenidade!
Por exemplo, Sêneca, no "De tranquillitate
animi"; 14:2, escreve:
"Vtique
animus ab omnibus externis in se reuocandus est: sibi confidat, se gaudeat, sua
suspiciat, recedat quantum potest ab alienis et se sibi adplicet, damna non
sentiat, etiam aduersa benigne interpretetur".
"Seja
como for, a alma deve recolher‐se em si mesma, deixando todas as coisas
externas: que ela confie em si, se alegre consigo, estime o que é seu, se
aparte o quanto pode do que é alheio, e se dedique a si mesma; que ela não
sinta as perdas e interprete com benevolência até mesmo as coisas
adversas".
Enfim, só vou dando
continuidade, registrando aqui um blog, excelente página que, segundo um
professor especialista no assunto e participante do projeto está em pleno
desenvolvimento. Registro abaixo o link da
página e faço destaque para um “podcast” organizado por Donato
Ferrara para tais estudos e práticas.
_____.
1. Link: "Lendo e vivendo à sombra do Pórtico": https://devitastoica.com/
2. Texto: "Os votos do estoico": https://devitastoica.com/2017/06/09/os-votos-do-estoico-massimo-pigliucci/
3. Podcast "Viaticum" - by Donato Ferrara: https://devitastoica.com/2018/08/26/viaticum-o-podcast-de-de-vita-stoica/
______.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição
Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos
e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de
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BECK, Judith S. Terapia cognitiva: teoria e
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DINUCCI, A.; JULIEN,
A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra:
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______. Introdução ao Manual de Epicteto. 3.
ed. São Cristóvão: EdiUFS, 2012.
______. Epictetus Discourses. Trad.
Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
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Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
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______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas
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