sexta-feira, 30 de abril de 2021

REFLEXÃO MATINAL LXXXIV: AINDA SOBRE A NÃO APLICAÇÃO DOS NOSSOS JUÍZOS

(IMAGEM: "Pinterest")

Relendo hoje, o cap. VIII do “Entretiens”, de Epicteto. "En quoi consiste la realité du bien" (pp. 29-32)

Destacando, no capítulo: 

  • "O bem é essencialmente de ordem espiritual ..."
  • "Deus em nós"
  • "Apreensão de Epicteto acerca dos que abandonam a escola"

Em seguida, numa pausa na oficina, retornando aos clássicos aqui, reli o cap, XIII do “Entretiens”, também de Epicteto. Deste capítulo, extraí que:

"L'anxiété provient d'un désir impossíble à realiser" 

(A ansiedade provém de um desejo que não se pode realizar)

. ' .

E, relendo o capítulo XVI desse mesmo livro, “Entretiens”, de Epicteto, também anotei:

"Que nous ne nous exerçons a faire l'appication de nos jugements concernant les biens et les maux." (p. 62-68).

Portanto, destacando o que tenho aprendido nesse capítulo, prossigamos (aplicado a mim, primeiramente) no esforço em:

  • "Procurar as nossas falhas ..."
  • "Buscar em nós os remédios para as nossas inquietudes"
  • "Retificar nossos juízos"

 ______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

EPICTÈTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Paris: Les Belles Lettres, 2002.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. As Diatribes de Epicteto. Livro I. Tradução, introdução e comentário Aldo Dinucci. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2020.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

FILME: "THE FATHER"


Uma excelente oportunidade (apesar de um filme, junto às referências na área) para reflexão sobre questões que estudo e tenho anotado aqui, no blog.

Uma reflexão existencial:

"Anthony tem 81 anos de idade. Ele mora sozinho em seu apartamento em Londres, e recusa todos os cuidadores que sua filha, Anne, tenta impor a ele. Mas isso se torna uma necessidade maior quando ela resolve se mudar para Paris com um homem que conheceu há pouco, e não poderá estar com pai todo dia. Fatos estanhos começam a acontecer: um desconhecido diz que este é o seu apartamento. Anne se contradiz, e nada mais faz sentido na cabeça de Anthony. Estaria ele enlouquecendo, ou seria um plano de sua filha para o tirar de casa?"


Sobre TEA (DSM V) e o ator Anthony Hopkins:

 

REFLEXÃO MATINAL LXXXIII: O HOMEM DILIGENTE

(IMAGEM: "Pinterest")

O homem diligente deve lutar para evitar as oscilações das paixões.

Portanto, a reflexão matinal é mais um retorno a um tema crucial; ainda a "cura das paixões":

Comecei a ler, recentemente, aproveitando o tempo de recuperação, um livro de Galeno... e aqui,

Escrevo a partir dos textos de Pierre Hadot mas, acrescento Epictetus, que nas Diatribes I.I.4 e no Encheiridion, recomenda os “exercícios” para o bom uso das representações, que se examine sempre e as teste antes de qualquer assentimento ou rejeição.

Assim, como já há algum tempo estou reconfigurando abordagens teóricas, repensando na "aplicação de princípios"; vivendo e aprendendo, sempre que escrevo tenho como objetivo me orienta no enfrentamento das recomendações de grandes sábios. Sempre é tentativa ampliar o enfoque existencial num constante “treino” e esforços na reorientação e reformulação de velhos hábitos (ethos); aqui, mais uma vez: a “cura das paixões”! E, prossigo.

Nesse sentido incluo, mais uma vez, tais “treinos” e esforços; pressupostos os exercícios, retirando de cada releitura dos livros, não muitos, como um dos livros Pierre Hadot que hoje, como já fiz aqui nessa página várias vezes, estou relendo alguns trechos de capítulos.

Novamente, portanto, registro a divisão dos “exercícios”: que ele atribuía à maneira de filosofar estoica, em dois grupos:

No primeiro grupo, aqueles que desenvolvem a consciência de si direcionados a uma visão exata do mundo, da natureza e, 

No segundo grupo, aqueles que são orientados para a paz e tranquilidade interior (Inner Citadel).

E, agora, acrescento ainda, a estes "exercícios", a leitura deste texto de Galeno: “On the passions and errors of the soul.”

Não conhecia este texto de Galeno e, como tenho estudado o tema e já anotei aqui não faz muito tempo, tenho focado mais detidamente a filosofia estoica, com objetivos exclusivamente pessoais (um pouco até por aproximação a Kant, sugerido pelo professor Valério Rohden que, num de seus artigos, faz referência a Cícero e fez interessar-me em verificar o quanto este foi estoico); mas aqui sigo com este texto do Galeno para reforçar a aprendizagem sobre o tema.

Sabedoria prática buscada com a leitura dos estoicos sugere que agir agora mesmo é absolutamente necessário, pois, se ficarmos apenas nos projetos de vida, não progrediremos. Dizem eles que, na prática se reconhecesse o que uma pessoa realmente Um bom motivo para os “exercíciso” e mudança de “hábitos” ou, mais especificamente; “a cura das paixões” que para Galeno aparecem como “erros da alma”.

Com estas leituras e só assim os sinais de progresso, se surgirem, deverão ser como anotados abaixo, extraídos do Encheirídion, de Epictetus.

Mais de uma vez retornei, recentemente, a este tema em “lives” e, estou desenvolvendo as reflexões, para um possível artigo ou capítulo de livro, conforme às possibilidades e organização do tempo.

Enfim serão “sinais de progresso”:

“[48.b1] Sinais de quem progride: não recrimina ninguém, não elogia ninguém, não acusa ninguém, não reclama de ninguém. Nada diz sobre si mesmo – como quem é ou o que sabe. Quando, em relação a algo, é entravado ou impedido, recrimina a si mesmo. Se alguém o elogia, se ri de quem o elogia. Se alguém o recrimina, não se defende. Vive como os convalescentes, precavendo-se de mover algum membro que esteja se restabelecendo, antes que se recupere.

[48.b2] Retira de si todo o desejo e transfere a repulsa unicamente para as coisas que, entre as que são encargos nossos, são contrárias à natureza. Para tudo, faz uso do impulso amenizado. Se parecer insensato ou ignorante, não se importa. Em suma: guarda-se atentamente como um inimigo traiçoeiro”.

Desnecessário dizer que fica evidente que o caminho é progredir. Para isso, estejamos atentos às nossas inúmeras falhas aos “erros da alma”, para os  corrigir. Nisso consiste até onde consigo compreender o Estoicismo e, principalmente a Filosofia!

...

"Mantenha-se forte, mantenha-se bem" (Sêneca)

 

______.

SUGESTÕE DE LEITURA

 

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013.

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LONG, A. A. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007.

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  : Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

RUSSEL, Bertrand. A conquista da felicidade. Rio de Jamneiro, RJ: Nova Fornteira, 2015.

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

SCHLEIERMACHER, F. D. E. Introdução aos Diálogos de Platão. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2018. 



EPIDEMIA E LITERATURA: AINDA A "PESTE" (II)

Reli, recentemente, o livro do Albert Camus: "A peste", nesse contexto de "pandemia"e, num trecho do seu livro "A peste", o escritor Albert Camus anota a constatação advinda de uma situação de crise, a de que nestas condições, emergem das pessoas o que elas tem melhor e pior. Hoje, acabei de ler um livro que eu não conhecia, escrito por Daniel Defoe. Nos dois textos acho interessante, o quanto as duas obras avaliam as questões e nos possibilita refletir o momento atual.

"Um diário do ano da peste, livro que tem sido modelo, há quase trezentos anos, de um extraordinário rigor descritivo, é uma inquietante e informada reportagem sobre a epidemia de peste bubônica que dizimou 70.000 vidas em Londres, no ano de 1665."

Sinopse: “Eu tinha duas missões importantes: cuidar de meus negócios e da minha loja, de um porte considerável, na qual eu investira todo o capital que eu tinha nesse mundo. A outra era a de preservar minha vida enquanto se abatia em toda a cidade uma calamidade aparentemente tão sombria, mas que o meu medo e o medo dos outros tornavam ainda mais sombria.”

“Quando Daniel Defoe publicou “Diário do ano da peste”, em 1722, tinha como motivação alertar seus conterrâneos. Atuando com intenso espírito jornalístico, Defoe orienta a como lidar com a calamidade, bem como as melhores medidas a serem adotadas para enfrentá-la. O escritor era apenas um menino quando a Grande Peste de 1665 atingiu Londres e matou aproximadamente 97 mil pessoas; no entanto, isso não foi empecilho para o autor da obra-prima “Robinson Crusoé” relatar, com capacidade espantosa e de modo vívido e minucioso, o importante momento histórico. E é de surpreender – quando nos deparamos com o trecho acima, por exemplo – o quanto aquele período se assemelha à nossa realidade, quase trezentos anos depois. Com tradução que busca equilibrar o novo e o arcaico, esta obra nos transporta a uma perspectiva única daquela época, constituindo-se também como um guia para ajudar a compreender o nosso tempo e, sobretudo, para que não cometamos os mesmos erros.”

______.

CAMUS, Albert. A peste. Rio de janeiro, RJ, 2017.

DEFOE, Daniel. Um diário do ano da peste. São Paulo: Novo Século, 2021.

______. A journal of the plague year. Penguim Books, 2003.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

REFLEXÃO MATINAL LXXXII: SOBRE "BENS INTERIORES" E A "CONQUISTA DA FELICIDADE"

(IMAGEM: "Pinterest")

Uma brevíssima reflexão sobre "buscas interiores”; para os dias que seguem.

"Que queres? Continuar a viver? Isto é, sentir, desejar, desenvolver-te e depois degenerar, falar, pensar? De tudo isto que te parece mais digno da tua aspiração? E, se tudo é desprezível, dirige-te ao fim supremo: obedecer à razão e a Deus. Porém, há contradição em desprezarmos tudo isto e nos afligirmos quando a morte no-lo arrebata." (MARCO AURÉLIO. Meditações. XII : 31)

Sobre o "fim supremo: obedecer à razão..." e sobre conquista da felicidade...

“Em A conquista da felicidade, o filósofo Bertrand Russell buscou diagnosticar as inúmeras causas da infelicidade na vida moderna, traçando um caminho para escapar do mal-estar aparentemente inevitável que predomina mesmo em sociedades prósperas. Que o leitor não espere, como o autor adverte no prefácio, erudições profundas: o que move esta obra é a convicção de que, com um pouco de esforço bem-orientado, é possível chegar à felicidade. Escrito originalmente em 1930, este pequeno livro permanece atual — e muito necessário.” (RUSSEL, A conquista da felicidade, 2015)

Rejeitar a influência de sentimentos externos, que os estoicos, consideravam como sentimentos nocivos ao pleno exercício racional, por exemplo: paixão, luxúria, etc. Tidos como vícios causadores de males que dificultam o homem na tomada de decisões de forma lógica e racional.

Portanto,

 Como poderíamos nos tornar prudentes se tivéssemos chegado ao reconhecimento de quais coisas sejam verdadeiros bens e quais sejam males, mas se nunca tivéssemos praticado o desprezo às coisas que somente aparentam ser boas? Por conseguinte, logo após o aprendizado das lições apropriadas para toda e qualquer excelência, um treino prático deve seguir invariavelmente, se de fato esperamos tirar algum benefício das lições que acabamos de aprender. [EPICTETO. Diatribes, VI]”

Nesse ponto o de que se trata é um esforço em viver sempre de acordo com a natureza, sempre agindo como um ser dotado de plena autarquia; senhor de si mesmo. Pois, o homem, como ser racional que é, deve fazer de suas próprias virtudes a conquista do objetivo maior que é a plena felicidade

_____.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013.

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  :Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

RUSSEL, Bertrand. A conquista da felicidade. Rio de Jamneiro, RJ: Nova Fornteira, 2015.

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

SCHLEIERMACHER, F. D. E. Introdução aos Diálogos de Platão. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2018.

domingo, 18 de abril de 2021

OS ESCRITOS PRÉ-CRÍTICOS KANTIANOS (II)

 



Ao trabalho, sobre os escritos pré-críticos de Immanuel Kant; trabalho é o que não falta...

Cotejando com os originais: O "fim de todas as coisas" e “Investigação sobre a evidência dos princípios da teologia e da moral [1] Anúncio do Programa de Lições para o Semestre de Inverno de 1765-1766 ”.

Na verdade,  dando continuidade aos estudos...

  1. Textos seletos. “Recordar Kant é pensar, em tudo o que disse, o que o coração de sua filosofia quis dizer. É o exemplo do próprio Kant. No que outros pensadores disseram, só se interessava pelo que quiseram dizer. Immanuel Kant foi um dos mais importantes e influentes filósofos da modernidade. Para recordá-lo, a presente publicação reúne o prefácio da Crítica da razão pura e outros textos menos conhecidos.”
  2. Textos pré-críticos: “A coletânea apresentada neste livro reúne boa parte dos textos publicados por Kant entre 1762 e 1770, quando, já bastante conhecido no meio filosófico alemão, ocupou o cargo de Magister na Universidade de Königsberg. Essa reunião não é arbitrária. Ela dispõe de um critério que subordina sua referência cronológica principal - a década de 1760 - a uma unidade de natureza intelectual, e marca uma etapa decisiva da trajetória de Kant, iluminando sua filosofia madura, a qual inicia com a Crítica da razão pura, de 1781.”
  3.   Destacando aqui: "Investigação sobre a evidência dos princípios da teologia e da moral": Obra que "[...] foi escrita por Kant em 1763, com a finalidade de responder à pergunta, posta a concurso pela Academia das Ciências da Prússia, sobre a natureza das verdades metafísicas e a sua relação com as verdades matemáticas. Nesta obra, Kant evidencia encontrar-se já na posse de um dos princípios básicos da sua futura filosofia crítica, a saber: a insuficiência dos princípios lógicos para fornecer conhecimentos concretos sobre a natureza dos fenómenos físicos e metafísicos. Nestes últimos, os conceitos dados das coisas constituem o ponto de partida da análise, de modo que as suas determinações intrínsecas se encontram no final, e não no início, do trabalho filosófico.”

_______.

ANTOGNAZZA, Maria Rosa. The Oxford Handbook of Leibniz. Oxford University Press, 2018.

BUTLER, J; CLARKE, S; HUTCHESON, F; MANDEVILLE, B; SHAFTESBURY, L; WOLLASTON, W. Filosofia moral britânica: Textos do Século XVIII. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em sua relação com a teodiceia. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

LEIBNIZ. G. W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições Colibri, 1993.

______. Ensaios de teodicéia. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.

______; WOLFF, C; EULER, L.P; BUFFON, G.-L; LAMBERT, J. H; KANT, I. Espaço e pensamento: textos escolhidos. Organização de Márcio Suzuki (Org.). Tradução de Márcio Suzuki e Outros. São Paulo: Editora Clandestina, 2019. 286.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2012. 

PHILONENKO, Alexis. L'Oeuvre de Kant: la philosophie critique. Tome I. J. Vrin, 1996. (col. Bibliothèque d'histoire de la philosophie)

RATEAU, Paul. Leibniz on the Problem of Evil, Oxford University Press, 2019.



[1] Aqui, utilizando a tradução do prof. Luciano Codato. In: Escritos pré-críticos: Immanuel Kant. São Paulo: Ed. Unesp, 2005.

REFLEXÃO MATINAL LXXXI: "PROGRESSÃO DO ESPÍRITO"

(IMAGEM: "Pinterest")

Um dia desses, andei pensando nesta questão, hoje retornei a ela como já fiz aqui, nas páginas deste blog. Assim, portanto, dediquei a manhã a re-pensar sobre a “progressão do Espírito" (cf. LE 100-127), acrescido de serenidade:

 

"Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; e se é verdade que nem toda coisa desejamos com vistas em outra (porque, então, o processo se repetiria ao infinito, e inútil e vão seria o nosso desejar), evidentemente tal fim será o Bem, ou antes, o Sumo Bem." (ARISTÓTELES. 1984).

...

O Sumo Bem como “fim” exige que nosso esforço seja no sentido de não desperdiçarmos o já alcançado. Que o já conquistado seja preservado num abraço resoluto na busca das virtudes

De olho no conjunto, faz-se necessário que se sustente em fundamentos sólidos, perenes, os avanços de si por si, para si.

É dever a impor-se; o tornar mais nobre o que há muito é desejado e buscado. Já existe, em certa medida; ainda fragmentado, disperso e necessita unidade. É melhor abandonar o que não somos nós, o que não é tarefa nossa.

E, neste sentido são sinais de progresso, segundo Epictetus:

[48.b1] Σημεῖα προκόπτοντος· οὐδένα ψέγει, οὐδένα ἐπαινεῖ, οὐδένα μέμφεται, οὐδενὶ ἐγκαλεῖ, οὐδὲν περὶ ἑαυτοῦ λέγει ὡς ὄντος τι ἢ εἰδότος τι. ὅταν ἐμποδισθῇ τι ἢ κωλυθῇ, ἑαυτῷ ἐγκαλεῖ. κἄν τις αὐτὸν ἐπαινῇ, καταγελᾷ τοῦ ἐπαινοῦντος αὐτὸς παρ' ἑαυτῷ· κἂν ψέγῃ, οὐκ ἀπολογεῖται. περίεισι δὲ καθάπερ οἱ ἄρρωστοι, εὐλαβούμενός τι κινῆσαι τῶν καθισταμένων, πρὶν πῆξιν λαβεῖν.

[48.b1] Sinais de quem progride: não recrimina ninguém, não elogia ninguém, não acusa ninguém, não reclama de ninguém. Nada diz sobre si mesmo – como quem é ou o que sabe. Quando, em relação a algo, é entravado ou impedido, recrimina a si mesmo. Se alguém o elogia, se ri de quem o elogia. Se alguém o recrimina, não se defende. Vive como os convalescentes, precavendo-se de mover algum membro que esteja se restabelecendo, antes que se recupere. 

[48.b2] ὄρεξιν ἅπασαν ἦρκεν ἐξ ἑαυτοῦ· τὴν δ' ἔκκλισιν εἰς μόνα τὰ παρὰ φύσιν τῶν ἐφ' ἡμῖν μετατέθεικεν. ὁρμῇ πρὸς ἅπαντα ἀνειμένῃ χρῆται. ἂν ἠλίθιος ἢ ἀμαθὴς δοκῇ, οὐ πεφρόντικεν. ἐνί τε λόγῳ, ὡς ἐχθρὸν ἑαυτὸν παραφυλάσσει καὶ ἐπίβουλον.

[48.b2] Retira de si todo o desejo e transfere a repulsa unicamente para as coisas que, entre as que são encargos nossos, são contrárias à natureza. Para tudo, faz uso do impulso amenizado. Se parecer insensato ou ignorante, não se importa. Em suma: guarda-se atentamente como um inimigo traiçoeiro”.

Tudo por realizar, ainda...

 

______.

ARISTÓTELES. Metafísica; Ética a Nicômaco; Poética. (Tradução Vincenzo Coceo, Leonel Vallandro e Gerd Bornheim e Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1984.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012)

BECK, Judith S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre, RS, 2997.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

______. Introdução ao Manual de Epicteto. 3. ed. São Cristóvão: EdiUFS, 2012.

GALENO. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

_____. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  :Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.


quarta-feira, 14 de abril de 2021

REFLEXÃO MATINAL LXXX: "PROAIRESIS" E "EUROIA"

 


(IMAGEM: "Pinterest")

ESCOLHAS E SERENIDADE

 "À medida que o espírito progride, sente cada vez mais a sua condicionalidade, sente que, ao ganhar, tem de perder.” (GOETHE, Johann Wolfgang. In: "Materielen sur Geschichte der Farbenlehre")

Impressionei-me, há algum tempo, quando li a obra de Martin Buber pelo fato de que, jamais se deixou iludir com a esperança de que sua maneira de compreender a "política", sua "visão de mundo", fossem atingir maioria significativa; no entanto, ele manteve-se fiel a seus ideais e sempre tentou relacionar a verdade moral do próprio ponto de vista a tudo o que fazia; jamais escondeu suas opiniões e crenças. Tal maneira "autêntica" de viver, assim como para ele, não rende "bons amigos" nem reconhecimento.

Ainda mais nesse mundinho em que predominam os pequeninos e arrogantes! A opção, como aqui vou refletir sobre “escolhas”, é "estar no mundo sem ser do mundo"

A isso acrescento aqui algumas questões, de Epicteto, anotados por Arriano: 

  • o que nos é “permitido desejar”?
  • o que “não nos é permitido desejar”?

Ora, "Aquele que progride é quem aprendeu dos filósofos que o desejo é pelas coisas boas e que a repulsa é pelas coisas más; é o que aprendeu também que a serenidade e a privação de sofrimento (tó euroyn kaí apathés) não advêm de outro modo ao homem senão assegurando o desejo e evitando o repulsa [...] Como, portanto, concordamos ser a virtude algo tal e buscamos e exibimos progresso em outras coisas? Qual a obra da virtude? A serenidade (euróia)." (Epicteto. D. I, IV.)

Um modo de levar em frente tal projeto é, em meio a tudo isso, acrescentar a leitura que Hadot fez dessa filosofia. O que ele denominou “exercícios espirituais” possibilita uma série de reflexões e uma “metodologia” para busca de uma verdadeira transformação de si mesmo que muitos estoicos e o próprio Epicteto viam como “conversão” por ser uma ética profundamente vinculada a proairesis (προαίρεσις): escolhas.: 

E, neste sentido, que prossigo esse estudo em meio ao restante:

  • aperfeiçoar a proairesis: aperfeiçoar a capacidade de escolha e como devemos bem viver.
  • para bem vivermos faz-se urgente, portanto, uma disciplina centrada na atenção de si e o cultivo da razão.

Portanto, a meta é, com essas máximas tomadas como maneira de caminhar em busca da aquisição das virtudes, alcançar a eudaimonia, chegar à euroia [εὐροίας]: serenidade, com a recomendação de Epicteto, alcançando por fim:

  • apátheia (ἀπάθεια): ausência de paixões e,
  • ataraxía (ἀταραξία): imperturbabilidade da alma.

E, como escrevi em 2016,

"Mais um dia se inicia... Cada vez que isso acontece fico mais convencido de que mudar o mundo é sempre o projeto mais fácil e de que o mais importante não é isso. Pelo contrário: conhecimento de si, paz interior e elevação moral é sim o essencial! De nada serve projetar-se no mundo, perder-se em meio a busca de acessórios, vãos, e desprezar o essencial. Praticar abnegação, enfrentar minhas batalhas interiores definem mesmo o meu projeto de vida e não há corrupção externa que me incomode a ponto de desviar-me do foco" (Marquinhos, 2016)

De tais recomendações, é necessário, seguindo Epicteto, reter:

  • disciplina e a adoção desses “exercícios” na busca de euroia,
  • a mudança dos hábitos a ponto de reformular a teoria em prática,
  • reconhecer que é processo lento e exige persistência (perseverança).

Por isso:

“Primeiro digira seus princípios, e então você terá certeza de não vomitá-los. [...] Mas depois que você tenha digerido estes princípios, mostre-nos alguma mudança em seu princípio governante [razão] que é devido a eles.” (D. III.XXII.3)

A proposta, portanto, é de alcançarmos o controle sobre nossos próprios julgamentos, nossas escolhas (προαίρεσις) e assentimentos. Esforço válido e imprescindível!

E, diz Epicteto:

"Você vê, então, que é necessário para você vir a ser um frequentador das escolas, se você realmente deseja fazer um exame das decisões de sua própria vontade. E que este não é um trabalho para uma simples hora ou dia você sabe tão bem quanto eu.”

Assim, enquanto “medito andando”, tenho postado aqui, para mero registro pessoal, que depois desenvolvo e, talvez, um dia publique.

______.

SUGESTÃO DE LEITURAS

APHRODISIAS, Alexander. On the Soul: Part I: Soul as form of the body, Parts of the Soul, Nourishment and perception. Bristol Classical Press, 16 agosto 2012.

______. Supplement to On the Soul. Bloomsbury Academic; Supplement edição, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001. 

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

IRVINE, William B. A guide to the good life: the ancient art of Stoic joy. New York: Oxford University Press, 2009.

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

LUTZ, C. Musonius Rufus, the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

BREVÍSSIMO EXCERTO: SOBRE AUTODOMÍNIO


Sobre a voz que, verdadeiramente, comanda...

Uma brevíssima reflexão sobre autodomínio para uma "imperturbável paz de espírito " 

(Ἀταραξία - ataraxia): Imperturbável Paz de Espírito.

.'.

“[...] ser humano pode exercer domínio sobre si mesmo se ele quiser?”

Immanuel Kant, nas "Lições de ética", responde que:

"De fato, parece acontecer dessa forma, porque isso parece depender do homem. [...] Ora, o domínio sobre si mesmo depende da força do sentimento moral. Podemos muito bem nos autogovernar se enfraquecermos as forças opostas."


______.

KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

 


EPIDEMIA E LITERATURA: A PESTE


Num trecho do seu livro "A peste", o escritor Albert Camus anota a constatação advinda de uma situação de crise, 

"[...] uma epidemia de peste que tomou conta de toda a cidade de Orão, na Argélia. Sujeita a quarentena, esta torna-se um território irrespirável e os seus habitantes são conduzidos até estados de sofrimento, de loucura, mas também de compaixão de proporções desmedidas".

Ou seja, nestas ocasiões: por um lado, há almas que revelam o seu lado bom, e, por outro, as que mostram o que tem de pior!

Não queria ter que concordar com ele! Mas...

______.

CAMUS, Albert. A peste. Rio de Janeiro: Record, 2017.

 


domingo, 11 de abril de 2021

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XLV: PROKOPTON E MODERAÇÃO

(IMAGEM: "Pinterest")


Resultando das muitas "meditações matinais" que tenho feito, surgiu a lembrança de que os estoicos propunham também “meditações noturnas”, como já escrevi aqui, outras vezes.

Não é novidade que, em geral, a filosofia é vista como um exercício inútil, reservado a desocupados que vivem isolados em suas torres de marfim. A considerar-se que a filosofia tem mesmo uma característica bastante voltada à reflexão teórica, abre-se imenso campo para que a vejam como inaplicável, portanto, dispensável.

Mas, como outros estoicos, o filósofo estoico Caio Musônio Rufo, chamado por alguns de “Sócrates romano”, tornou-se à sua época conhecido não só por sua coerência interna, ou seja, pela aproximação entre o que ensinava e o que vivenciava mas por ter ensinado outro grande estoico: Epicteto; sobre quem tenho dedicado alguns breves textos aqui, no Blog.

Aqui, mais uma vez, vou destacar que nas minhas leituras cada vez mais frequentes sobre estoicismo, que o mais notório princípio para prática dessa filosofia é o conjunto de "exercícios práticos". Ora, visto que os objetivos estoicos estão sempre ajustados de forma a dar mais valor à ação do que às palavras, a maneira de agir de cada indivíduo que pretenda ser um estoico é priorizada devido ao fato de que verdadeiramente a ação mostra como uma pessoa realmente é. Daí a incessante busca, realizando tais "exercícios práticos" no cotidiano para alcançar o sempre almejado princípio da eustatheia (tranquilidade) e desenvolver a euthymia (crença em si). E, como já anotei aqui nessa página, um dia desses, nunca é demais reforçar e refazer o caminho no sentido de dar continuidade às reflexões pessoais, procurando juntar teoria e prática, uma das maneiras estoicas de se posicionar em oposição àqueles que julgam a filosofia como inútil. A referência estoica é Sócrates.

Então, à meditação noturna de hoje, reflito e proponho:

“(a) As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas. Por exemplo: a morte nada tem de terrível, ou também a Sócrates teria se afigurado assim, mas é a opinião a respeito da morte — de que ela é terrível — que é terrível! Então, quando se nos apresentarem entraves, ou nos inquietarmos, ou nos afligirmos, jamais consideraremos outra coisa a causa senão nós mesmos — isto é: as nossas próprias opiniões.

(b) É ação de quem não se educou acusar os outros pelas coisas que ele próprio faz erroneamente. De quem começou a se educar, acusar a si próprio. De quem já se educou, não acusar os outros nem a si próprio.”

Acrescento (c): Outra recomendação de Musônio Rufo valorizava a "moderação", ou sōphrosúnē (σωφροσύνη - em grego antigo). A sōphrosúnē consiste em abrandar suas emoções; não comer demais, ser frugal e comportar-se com certo equilíbrio e gravitas. A moderação está profundamente relacionada com estabelecimento de médias nas atividades práticas pessoais. E, no que se refere especificamente às emoções, Musônio Rufo afirma, por exemplo, que:

“Palavras de aconselhamento e admoestação oferecidas quando as emoções de uma pessoa estão em seu ponto mais alto e transbordante pouco ou nada adiantam. [Fragmento nº 36]”

Portanto, como um método para exercício dessas recomendações, segue a indicação abaixo:

“O método a que Musônio Rufo se refere pode ser a prática estoica da meditação retrospectiva noturna, a qual envolve a reflexão sobre o que você fez de bom ou de ruim em cada dia e a imaginação sobre o modo de melhorar sua conduta dali por diante. 
À mesa do jantar ou à hora de dormir, converse com seu filho sobre como foi o dia para vocês dois, discutindo o que deu certo e o que deu errado. Vocês perderam alguma oportunidade de fazer algo positivo pelo seu crescimento enquanto pessoas? Útil tanto para os filhos como para os pais é refletir sobre sua própria conduta, fazer comentários sobre suas falhas pessoais e revirar o cérebro em busca de soluções que visem ao aprimoramento de si. Sabedoria não é algo que se adquira do dia para a noite: estamos sempre nos empenhando na direção dela.”

O método de Musônio Rufo apresentado acima como "meditação retrospectiva noturna", é bem parecida com uma proposta de Agostinho de Hipona quando propunha uma reflexão sobre o que fizemos de bom ou ruim ao longo de cada dia e o estabelecimento de "metas" a serem vencidas para a melhora da conduta a partir de cada novo dia que tem início.

Isso está nas atribuições necessárias ao "προκόπτον –prokopton”, tanto na "meditação retrospectiva noturna", quanto nas "reflexões matinais"

Ademais, como fiz aqui, nunca é dispensável reforçar e prosseguir  nos termos expostos em que colocaremos em uníssono o que dizemos e o que fazemos. Moderação e equilíbrio dos polos.

______.

SUGESTÃO DE LEITURAS

XENOFONTE. Apologia de Sócrates. 5. ed. Trad. Líbero Rangel de Andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (p. 164-165). (Col. Os Pensadores)

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001. 

IRVINE, William B. A guide to the good life: the ancient art of Stoic joy. New York: Oxford University Press, 2009.

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

LUTZ, C. Musonius Rufus, the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014. 

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...