domingo, 9 de maio de 2021

REFLEXÃO MATINAL LXXXVII: MUDANÇA DE HÁBITOS


Andei meditando, novamente:

"Quando o homem se acha, de certo modo, mergulhado na atmosfera do vício, o mal não se lhe torna um arrastamento quase irresistível?

Arrastamento, sim; irresistível, não; porquanto, mesmo dentro da atmosfera do vício, com grandes virtudes às vezes deparas. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que, ao mesmo tempo, receberam a missão de exercer boa influência sobre os seus semelhantes. (L. E. 2013. Q. 361; 645; 845)

É sabido que vivemos em meio a muita confusão. Momentos de profunda tristeza, donde sempre nos recuperamos e nos colocamos a pensar no hábito a que tantos se deixam seduzir (eu mesmo me deixei levar noutro tempo):

  • do pessimismo, por um lado e do extremo esforço em 
  • do extremo esforço em "mudar o mundo", por outro lado.

Assim, de algum tempo para cá, nos que me imponho em "mudança de hábitos", passou a ser fundamental, para mim, exercitar a superação de concepções pessimistas e abraçar com mais afinco o que mero desejo de mudar o que nos é externo; que está fora do nosso alcance.

Como tenho postado aqui, na medida em que vou estudando e tentando a pratica, "medito andando".

Dessa decisão, parti para busca de aprofundamento sistemático para a intensa busca por "eustatheia" (tranquilidade) e "euthymia" (crença em si), como já disse, é projeto em andamento “há séculos” e que, às vezes, por descuido, foi interrompido.

No entanto, retomando sigo o conselho sugerido por alguns estoicos e outros grandes sábios, como os que acrescento na Bibliografia no final do texto.

Por exemplo, sobre a mudança de hábitos antigos por novos hábitos (mais saudáveis), trabalho constantemente. E, é bastante caraterística a reflexão proposta por Epictetus em relação ao hábito e o habituar-se a determinadas ações. Segundo ele, estreitamente ligadas aos aspectos mentais de cada indivíduo.

A preocupação, portanto, sempre notada nas leituras que se faço de sua obra, como acima, é a distinção entre o que é interno (encargos nossos) e o que é externo (que não são encargos nossos), conforme EPICTETUS, no Encheiridion, I.

Ou seja, disso resulta que não é necessário o reconhecimento nas opiniões alheias, mas as próprias opiniões. Importante aqui, os hábitos novos entre os quais se refere:

  • o autodomínio (enkrateia).
  • a perseverança (karteria).
  • à paciência (anexikakia). 

 Também extraído do Encherídion, anoto:

“Quanto a cada uma das coisas que sucedem contigo, lembra, voltando a atenção para ti mesmo, de buscar alguma capacidade que sirva para cada uma delas. Caso vires um belo homem ou uma bela mulher, descobrirás para isso a capacidade do autodomínio. Caso uma tarefa extenuante se apresente, descobrirás a perseverança. Caso a injúria, a paciência. Habituando-te desse modo, as representações não te arrebatarão.”

Assim, ao voltar-se para si, é imperativo que cada um de nós que se proponha tal “exercício” esteja empenhado e adotar novos hábitos, contrários ao mero vício. O que se obtém de tais conselhos é que, estando cientes de que desejamos a mudança, de que o vício incomoda, devemos mudar de direção. O estoico Epictetus chega a propor que quem não se opõe a antigos hábitos; quem não os supera nem se torna filósofo.

Reforçando, portanto:

É mera reflexão pessoal. Dado o interesse na proposta, "há muitas auroras que brilharam ainda", ou seja, há muito a fazer! E,

"A semente da plena consciência se encontra em cada um de nós, mas nos esquecemos de regá-la. Acreditamos que só seremos felizes no futuro, quando conseguirmos uma casa, um carro ou um doutorado. Mantemos uma luta em nossa mente e em nosso corpo e não sentimos a paz e a alegria que temos ao nosso alcance neste preciso instante: o céu azul, as folhas verdes e os olhos de nosso ser querido."

"[...] Manter a calma interior mesmo nas situações mais caóticas e viver uma vida satisfatória [...] não requer longas horas de meditação."

Bastam instantes de "atenção plena"!

______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

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______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

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