Andei meditando,
novamente:
"Quando o homem se
acha, de certo modo, mergulhado na atmosfera do vício, o mal não se lhe torna
um arrastamento quase irresistível?
“Arrastamento, sim; irresistível, não; porquanto,
mesmo dentro da atmosfera do vício, com grandes virtudes às vezes deparas. São
Espíritos que tiveram a força de resistir e que, ao mesmo tempo, receberam a
missão de exercer boa influência sobre os seus semelhantes. (L. E. 2013. Q. 361; 645; 845)”
É sabido que vivemos em
meio a muita confusão. Momentos de profunda tristeza, donde sempre nos
recuperamos e nos colocamos a pensar no hábito a que tantos se deixam seduzir
(eu mesmo me deixei levar noutro tempo):
- do pessimismo, por um lado e do extremo esforço em
- do extremo esforço em "mudar o mundo", por outro lado.
Assim, de algum tempo
para cá, nos que me imponho em "mudança
de hábitos", passou a ser fundamental, para mim, exercitar a superação
de concepções pessimistas e abraçar com mais afinco o que mero desejo
de mudar o que nos é externo; que está fora do nosso alcance.
Como tenho postado aqui,
na medida em que vou estudando e tentando a pratica, "medito andando".
Dessa decisão, parti para
busca de aprofundamento sistemático para a intensa busca por "eustatheia" (tranquilidade)
e "euthymia" (crença em si), como já disse, é projeto em
andamento “há séculos” e que, às vezes, por descuido, foi interrompido.
No entanto, retomando
sigo o conselho sugerido por alguns estoicos e outros grandes sábios, como os
que acrescento na Bibliografia no final do texto.
Por exemplo, sobre a
mudança de hábitos antigos por novos hábitos (mais saudáveis), trabalho
constantemente. E, é bastante caraterística a reflexão proposta
por Epictetus em relação ao hábito e o habituar-se a determinadas
ações. Segundo ele, estreitamente ligadas aos aspectos mentais de cada
indivíduo.
A preocupação, portanto,
sempre notada nas leituras que se faço de sua obra, como acima, é
a distinção entre o que é interno (encargos nossos) e o que
é externo (que não são encargos nossos), conforme EPICTETUS, no Encheiridion, I.
Ou seja, disso resulta
que não é necessário o reconhecimento nas opiniões alheias, mas as próprias
opiniões. Importante aqui, os hábitos novos entre os quais se refere:
- o autodomínio (enkrateia).
- a perseverança (karteria).
- à paciência (anexikakia).
“Quanto
a cada uma das coisas que sucedem contigo, lembra, voltando a atenção para ti
mesmo, de buscar alguma capacidade que sirva para cada uma delas. Caso vires um
belo homem ou uma bela mulher, descobrirás para isso a capacidade do
autodomínio. Caso uma tarefa extenuante se apresente, descobrirás a
perseverança. Caso a injúria, a paciência. Habituando-te desse modo, as
representações não te arrebatarão.”
Assim, ao voltar-se para
si, é imperativo que cada um de nós que se proponha tal “exercício” esteja empenhado e adotar novos hábitos,
contrários ao mero vício. O que se obtém de tais conselhos é que, estando
cientes de que desejamos a mudança, de que o vício incomoda, devemos mudar
de direção. O estoico Epictetus chega a propor que quem não se opõe a
antigos hábitos; quem não os supera nem se torna filósofo.
Reforçando, portanto:
É mera reflexão pessoal.
Dado o interesse na proposta, "há
muitas auroras que brilharam ainda", ou seja, há muito a fazer! E,
"A
semente da plena consciência se encontra em cada um de nós, mas nos esquecemos
de regá-la. Acreditamos que só seremos felizes no futuro, quando conseguirmos
uma casa, um carro ou um doutorado. Mantemos uma luta em nossa mente e em nosso
corpo e não sentimos a paz e a alegria que temos ao nosso alcance neste preciso
instante: o céu azul, as folhas verdes e os olhos de nosso ser querido."
"[...]
Manter a calma interior mesmo nas situações mais caóticas e viver uma vida
satisfatória [...] não requer longas horas de meditação."
Bastam instantes de
"atenção plena"!
______.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição
Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos
e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de
Sergipe, 2012.
DINUCCI, A.; JULIEN,
A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra:
Imprensa de Coimbra, 2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV.
Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book I.
Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de Epicteto. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as
reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather.
Harvard: Loeb, 1928. https://www.loebclassics.com/
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations
of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.
HANH, Thich Nhat. Silêncio: o poder da quietude em um
mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.
______. Meditação andando: guia para a paz
interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
IRVINE, William B. A guide to the good life: the
ancient art of Stoic joy. New York: Oxford University Press, 2009.
KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris,
Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad.
Guillon Ribeiro, ______. O livro
dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília,
DF: Feb, 2013.
LONG, A.A. Epitetus: a stoic and Socratic guide to life. New York: Oxford University
Press, 2007.
______. (Org.) Primórdios da filosofia grega. São
Paulo: Ideias e Letras, 2008..
MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril
Cultural, 1973. (Livro II. 1)
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbekian, 2014.
SCHELLE, Karl
Gottlob. A arte de passear. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
THOUREAU, Henry David. Andar a pé: um ritual interior de sabedoria e liberdade. Loures: Editora Alma dos livros, 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário