"Ocupa-te de pouco", diz ele, "para viveres satisfeito." Não será melhor, afinal, ocupar-se do necessário e de tudo que a razão do vivente sociável por natureza decide e como o decide? Isso traz não só a satisfação do dever cumprido mas também a de ocupar-se de pouco. Se eliminarmos a maior parte de nossas palavras e ações, não farão falta, e nos sobrarão mais lazeres e sossego. Deves, por isso, de cada vez, lembrar a ti mesmo: Não será isto uma das coisas dispensáveis? Aliás, devemos eliminar não só os atos mas também os pensamentos desnecessários, pois assim tampouco os seguirão os atos que acarretam.”
Uma das características
mais notórias herdadas da filosofia antiga, no caso do estoicismo mais
evidente, é a ênfase na “prática”.
A compreensão dessa prática dos “exercícios”
para essa prática é apresentada e bem discutida no livro: “Exercícios espirituais”, escrito por Pierre Hadot, de onde retiro
algumas citações e anoto aqui.
Por exemplo, um
exercício, proposto por Marco Aurélio, entre tantos outros:
“Você
pode eliminar muitas das coisas supérfluas que o incomodam, as quais residem
unicamente em seu julgamento. E imediatamente abrirá para si um espaço grande e
vasto, abarcando com o pensamento o universo inteiro, contemplando a eternidade
do tempo e refletindo sobre a mudança rápida das coisas enquanto partes: quão
breve o lapso do nascimento à dissolução, quão vasto o abismo do tempo antes do
seu nascimento, quão igualmente infinito é o que há depois da sua dissolução. (Meditações, IX, 32)”.
Enfim, tendo revisitado pela manhã, o texto de Hadot, reli alguns dos textos em
que ele reúne e apresenta o que chama de “exercícios
espirituais”, encerro essa breve
reflexão com uma “Diatribe” de
Musônius Rufus:
“Pois
a filosofia será proveitosa para alguém somente assim: se ele, ao ensinamento
sensato, acrescentar uma conduta que com este esteja em harmonia. [Diatribes, I]”.
Ademais, desde que li um
outro livro que Pierre Hadot escreveu: “The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius” (2001),
um dos melhores sobre a temática estoica, tanto que o acrescentei às leituras
cotidianas. Em cada ponto da leitura; cada instante na leitura; tenho aprendido
mais e mais e me dedico a seguir com esses estudos, juntando a esses autores,
além da obra de Hadot, outros que estão dedicados à
reflexão estoica nos dias atuais.
Como sempre reforço aqui,
este tema está, em certa medida, apesar de grandes distinções, intimamente
relacionado aos estudos que geralmente iniciei há muito tempo. O principal
objetivo de registrar as leituras, releituras aqui é o aproveitamento destes em eventuais escritos
futuros.
Portanto, só faço estes
destaque após releitura específica de um capítulo: “The inner citadel or discipline of assent” (2001, p. 101-127),
em que Hadot trata da “disciplina do
desejo”: típica reflexão nesse blog pessoal.
______.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução
do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo
Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).
EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV.
Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Trad.
Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de Epicteto. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
______. The Discourses of Epictetus as
reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather.
Harvard: Loeb, 1928. https://www.loebclassics.com/
GAZOLLA,
Rachel. O ofício do filósofo
estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo,
1999.
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations
of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.
HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz
interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris,
Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad.
Guillon Ribeiro, ______. O livro
dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília,
DF: Feb, 2013.
KING, C. Musonius Rufus: Lectures and
Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.
LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman
Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.
MARCO
AURÉLIO. Meditações. São
Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro IV; 24, 45, 46, 48, 49, 50.
ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural
Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive
Psychotherapy. Londres: Karnac Books, 2010.
______. Pense como um imperador. Trad.
Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.
______. How to think Like a roman emperor: the
stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.
RUSSEL, Bertrand. A conquista da felicidade. Rio de Jamneiro,
RJ: Nova Fornteira, 2015.
SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on
the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.
SCHLEIERMACHER, F. D. E. Introdução aos Diálogos de Platão. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário