Sócrates.
Apareceu
nas "lembranças" aqui; de uma "reflexão matinal" que fiz em
2015.
À época,
revendo certas “convicções” pensava nesta: a de que O amor existe... a
felicidade é possível e, como dizia o Platão, no Górgias (473b):
"A
Verdade jamais é refutada".
Acrescentei
ainda, às reflexões, o fato de que a Vida tem um Sentido
(Frankl); e, não me restam dúvidas.
Ademais, num
mundo tão focado em proposições “presentistas”, focado em coisas “materiais”,
ampliei minhas reflexões, para mim, por mim... Daí que me deparei novamente com
o que me é comum e pretendo seguir ainda mais um pouquinho:
"É
realmente curioso ver o materialismo falar incessantemente da necessidade de
elevar a dignidade do homem, quando se esforça para reduzi-lo a um pedaço de
carne que apodrece e desaparece sem deixar qualquer vestígio; de reivindicar
para si a liberdade como um direito natural, quando o transforma num mecanismo,
marchando como um boneco, sem responsabilidade por seus atos.(Revue. março de 1869)"
E, nisso,
considero muito pertinente algumas proposições dos antigos filósofos, e os
tenho estudado com frequência. O dito abaixo, em certa medida justifica isso,
para mim, claro:
"Os
filósofos gregos antigos, como Epicuro, Zenão, Sócrates, etc, permaneceram mais
fiéis à verdadeira ideia de filosofia do que muitos nos tempos modernos.
‘Quando é que tu vais, por fim, começar a viver virtuosamente?’, dizia Platão a
um ancião que lhe contava que assistia a lições sobre a virtude. Não se trata
de incessantemente especular, é preciso também, de uma vez por todas, pensar na
aplicação. Mas hoje considera-se um sonhador aquele que vive em conformidade
com o que ensina”[1]
Portanto, dessa
abordagem que estou fazendo aqui, como ponto de patida para pensar sobre a
busca incessante das Virtude; da “cura das paixões”, aproveitando a manhã
para estas anotações reforçando o projeto.
Nada
conseguimos, nesta difícil tarefa de enfrentarmo-nos sem esforços
“hercúleos”. Benjamin Franklin, por exemplo, reconheceu isso ao
dizer que:
“Tho' I never
arrived at the perfection I had been so ambitious of obtaining, but fell far
short of it, yet I was, by the endeavour, a better and a happier man than I
otherwise should have been if I had not attempted it.”
“Eu nunca
cheguei à perfeição a que eu tinha sido tão ambicioso de obter; fiquei muito
aquém disso, mesmo assim eu fui, pelo esforço, um homem melhor e mais feliz do
que eu deveria ter sido se não tivesse tentado"
Outro neste
sentido, bastante citado quando o “conhecimento de si mesmo” é estudado é Sócrates. Destacou-se,
sempre, nos diálogos platônicos a importância da Alma, da Verdade, da Virtude,
etc.
E, é
bastante conhecido que Sócrates caminhou pelas ruas de Atenas
tentando persuadir outros cidadãos e até mesmo estrangeiros de que o fundamental
é sempre o esforço em se melhorarem as almas. Pois, para ele, a alma é a parte
mais preciosa (ηηκηώηεξνλ) – (Críton, 48a); tinha como principal
objetivo defender a importância da alma e que esta, vale mais do que o corpo.
Fica evidente que a busca da virtude, para Sócrates, está amplamente
relacionada com a felicidade. Alcançar virtude é ser feliz.
No Fédon,
Sócrates expõe a Símias porque se deve estar atento e priorizar,
nesta vida, a virtude (ἀξεηῆο) e a prudência (θξνλήζεσο):
diz ele que a recompensa é bela (θαιὸλ γὰξ ηὸ ἆζινλ), e
é grande a esperança (ἡ ἐιπὶο κεγάιε)! (Fédon, 114c).
Pois, se é
assim que queremos pensar, necessário reconhecermos que ...
“Os homens que
de alguma forma, cuidam de sua alma (κέιεη ηῆο ἑαπηῶλ ςπρῆο) e
não vivem com o pensamento fito no corpo (ζώκαηη πιάηηνληεο δῶζη),
quando dizem adeus a todo este tipo de prazeres (εἰδόζηλ) é
para seguir um trilho bem diverso daqueles que não sabem aonde vão dar: pois,
convictos como estão de que nada devem fazer, que seja contrário à filosofia (ζνθίᾳ
πξάηηεηλ) e à libertação purificadora (ηῇ θηινἐθείλεο ιύζεη) que
neles opera, é na sua direção que se voltam, seguindo espontaneamente na via
por onde ela os conduz (ὑθεγεῖηαη) – (Fédon, 82d).”
Encerro esta
pequena “reflexão matinal” com dois poemas. Um sobre “razão e sentimento” que
de certa forma sempre foi um tema recorrente aqui no blog. Sempre retorno a
este assunto:
"TENHO
TANTO SENTIMENTO
Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."
(18-9-1933)[2]
Este segundo
que cito, é por uma reflexão sobre o “presenteísmo”, sobre o que para nós
realmente tem importância, nosso foco principal. Tema bem pertinente para um
momento de “fuga mundi”; e “tempus fugit”.
Pra
termos esperança!!!
“O FUTURO FOI
ASSIM
Pairava no tempo
um perigo de sonho.
Mas os homens não tiveram medo
e se vestiram da coragem do existir.
Então, novas eras, como plumas
pousaram na fronte dos velhos,
no ombro dos moços
e no coração das crianças.
E foi assim
que nenhuma esperança se perdeu.
E a partir desse instante
a alma do mundo
nunca mais se rendeu
(Nara Rúbia Ribeiro)
Renovadas as esperanças, sigamos em luta.
Portanto, passaram-se os tempos tolos quando pensei que a “revolução” era lá fora. Que nada: é interna, pessoal e intransferível.
______.
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