"Se
você acredita que o objetivo da vida humana é maximizar a felicidade, então
você já é um aristotélico iniciante" (Edith Hall)
Rejeitar a influência de sentimentos
externos, que os estoicos, consideravam como sentimentos nocivos ao pleno exercício
racional, por exemplo: paixão, luxúria, etc. Tidos como vícios
causadores de males que dificultam o homem na tomada de decisões de forma lógica
e racional.
“Em A conquista da
felicidade, o filósofo Bertrand Russell buscou diagnosticar as inúmeras
causas da infelicidade na vida moderna, traçando um caminho para escapar do
mal-estar aparentemente inevitável que predomina mesmo em sociedades prósperas.
Que o leitor não espere, como o autor adverte no prefácio, erudições profundas:
o que move esta obra é a convicção de que, com um pouco de esforço
bem-orientado, é possível chegar à felicidade. Escrito originalmente em 1930,
este pequeno livro permanece atual — e muito necessário.”
(RUSSEL, A conquista da felicidade, 2015)
Portanto, na reflexão
matinal andei pensando novamente sobre o tema “felicidade”. Reli esse
livro, ontem, escrito por Bertrand Russel e, acrescentando que
diz Sêneca, em seu livro A vida feliz em que se opõe à “Carta
sobre a felicidade”, de Epicuro, em que este defende o prazer como a
fonte da felicidade.
“Você se dedica aos
prazeres, eu os controlo; você se entrega ao prazer, eu o uso; você pensa que é
o bem maior, eu nem penso que seja bom: por prazer não faço nada, você faz
tudo.” (X, 3 ).
Retornei ao tema, mas
ressalto, como estou acrescentando ideias destes filósofos que, ‘Feliz’
na discussão entre estoicos e epicuristas, é o equivalente da
palavra grega eudaimonia (εὐδαιμονία), que pode
ser traduzida como “vida digna de ser vivida”, “vida boa”, “plenitude do
ser”. Ou como alguns traduzem, por “felicidade”.
Assim, os estoicos
defendem que a única vida que vale a pena ser vivida é aquela de retidão
moral, o tipo de existência à qual olhamos no final e podemos dizer
honestamente que não nos envergonhamos; uma vida virtuosa.
Diz Sêneca que não
devemos ter a felicidade como objetivo: “não é fácil alcançar a
felicidade já que quanto mais avidamente um homem se esforça para alcançá-la
mais ele se afasta”.(I,1) a conclusão é que, para ele, a
solução é ter como objetivo a virtude, a felicidade será
consequência.
Ademais:
“Quem, por outro lado, forma uma aliança, entre a virtude e o prazer,
obstrui qualquer força que uma possa possuir pela fraqueza da outra, e envia
liberdade sob o jugo, pois a liberdade só pode permanece inconquistável
enquanto não sabe nada mais valioso do que ela mesma: pois começa a precisar da
ajuda da Fortuna, o que é a mais completa escravidão: sua vida torna-se
ansiosa, cheia de suspeitas, tímida, temerosa de acidentes, esperando em agonia
por momentos críticos. Você não oferece à virtude uma base sólida e imóvel se
você a colocar sobre o que é instável: e o que pode ser tão instável quanto a
dependência do mero acaso e as vicissitudes do corpo e daquelas coisas que agem
sobre o corpo?”. (XV, 3)
Fica claro, portanto que:
Primeiro, pensar no tema me leva sempre a ler e reler grandes autores que escreveram e refletiram sobre a questão, desde a Antiguidade.
Depois, sobre
o tema e a diversidade de abordagens, acrescentei alguns destes autores destes
escritos, como sempre faço aqui, para aprofundamentos e “exercícios”.
De tudo fica sempre a
recomendação: a de que não devemos associar a virtude ao prazer,
pois se assim o fizermos acabaremos adentrando territórios não virtuosos,
seduzidos pelo prazer "desregrado".
(Grifos e destaques
meus)
______.
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