quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

REFLEXÃO MATINAL CXII: SOBRE A "CONQUISTA DA FELICIDADE" (II)

(IMAGEM: "Pinterest")

 

"Se você acredita que o objetivo da vida humana é maximizar a felicidade, então você já é um aristotélico iniciante" (Edith Hall)

Rejeitar a influência de sentimentos externos, que os estoicos, consideravam como sentimentos nocivos ao pleno exercício racional, por exemplo: paixão, luxúria, etc. Tidos como vícios causadores de males que dificultam o homem na tomada de decisões de forma lógica e racional.

“Em A conquista da felicidade, o filósofo Bertrand Russell buscou diagnosticar as inúmeras causas da infelicidade na vida moderna, traçando um caminho para escapar do mal-estar aparentemente inevitável que predomina mesmo em sociedades prósperas. Que o leitor não espere, como o autor adverte no prefácio, erudições profundas: o que move esta obra é a convicção de que, com um pouco de esforço bem-orientado, é possível chegar à felicidade. Escrito originalmente em 1930, este pequeno livro permanece atual — e muito necessário.” (RUSSEL, A conquista da felicidade, 2015)

Portanto, na reflexão matinal andei pensando novamente sobre o tema “felicidade”. Reli esse livro, ontem, escrito por Bertrand Russel e, acrescentando que diz Sêneca, em seu livro A vida feliz em que se opõe à “Carta sobre a felicidade”, de Epicuro, em que este defende o prazer como a fonte da felicidade.

Você se dedica aos prazeres, eu os controlo; você se entrega ao prazer, eu o uso; você pensa que é o bem maior, eu nem penso que seja bom: por prazer não faço nada, você faz tudo.”  (X, 3 ).

Retornei ao tema, mas ressalto, como estou acrescentando ideias destes filósofos que, ‘Feliz’ na discussão entre estoicos e epicuristas, é o equivalente da palavra grega eudaimonia (εὐδαιμονία), que pode ser traduzida como “vida digna de ser vivida”, “vida boa”, “plenitude do ser”. Ou como alguns traduzem, por “felicidade”.

Assim, os estoicos defendem que a única vida que vale a pena ser vivida é aquela de retidão moral, o tipo de existência à qual olhamos no final e podemos dizer honestamente que não nos envergonhamos; uma vida virtuosa.

Diz Sêneca que não devemos ter a felicidade como objetivo: “não é fácil alcançar a felicidade já que quanto mais avidamente um homem se esforça para alcançá-la mais ele se afasta”.(I,1) a conclusão é que, para ele, a solução é ter como objetivo a virtude, a felicidade será consequência.

Ademais:

“Quem, por outro lado, forma uma aliança, entre a virtude e o prazer, obstrui qualquer força que uma possa possuir pela fraqueza da outra, e envia liberdade sob o jugo, pois a liberdade só pode permanece inconquistável enquanto não sabe nada mais valioso do que ela mesma: pois começa a precisar da ajuda da Fortuna, o que é a mais completa escravidão: sua vida torna-se ansiosa, cheia de suspeitas, tímida, temerosa de acidentes, esperando em agonia por momentos críticos. Você não oferece à virtude uma base sólida e imóvel se você a colocar sobre o que é instável: e o que pode ser tão instável quanto a dependência do mero acaso e as vicissitudes do corpo e daquelas coisas que agem sobre o corpo?”. (XV, 3)

Fica claro, portanto que:

Primeiro, pensar no tema me leva sempre a ler e reler grandes autores que escreveram e refletiram sobre a questão, desde a Antiguidade.

Depois, sobre o tema e a diversidade de abordagens, acrescentei alguns destes autores destes escritos, como sempre faço aqui, para aprofundamentos e “exercícios”.  

De tudo fica sempre a recomendação: a de que não devemos associar a virtude ao prazer, pois se assim o fizermos acabaremos adentrando territórios não virtuosos, seduzidos pelo prazer "desregrado".

 

(Grifos e destaques meus)

______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

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______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). São Paulo: Ed. Unesp, 2002.

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