Pausa na oficina!
Afirma Epicteto, sobre o pensador Diógenes Laércio:
"Se quiseres que eu
te mostre um homem que seja verdadeiramente livre, apresentar-te-ei Diógenes
Laércio. Como ele chegou a ser livre? Destruindo em si mesmo tudo quanto o
pudesse prender à escravidão; dessa forma, desligado de tudo e, completamente
isolado, nada possuindo. Doava tudo o que lhe pedissem, mas estava fortemente
unido aos 'deuses' e a ninguém era inferior em obediência, respeito e submissão
para com a tal soberania. Eis, nesse aspecto, a sua liberdade".
De minha parte, a partir
da referência a Diógenes, quero reforçar aqui: Homens... não desejeis
ser unicamente detentores de diplomas, de títulos, insígnias ou patentes que te
elevem nesse mundo, mas que desaparecem numa perspectiva mais ampla. Não lutes
por superar humilhando seu igual em espécie. Transformem-se em homens que
verdadeiramente justifiquem essa qualificação: de ser humano! Que se lute por
unificar pensamento e ação no caminho da Verdade, da infinita Sabedoria
e Bondade. Tudo isso para que possamos dar realidade a uma verdadeira
transformação pessoal, abandonando uma postura meramente abstrata e impregnada
de desejos vãos e baixeza moral, que só podem resultar em atitudes hipócritas e
descabidas. (MARQUINHOS, 2016)
"Deus introduziu o
ser humano como seu espectador [theatḗs, θεατής] de suas obras. E não só
como espectador, mas também como exegeta de suas obras. É, por isso, vergonhoso
para o ser humano começar e terminar como os irracionais: é preciso antes aí
começar e terminar lá onde a natureza, em nosso caso, determinou. E ela o
determinou para a contemplação [theōría, θεωρία], para a compreensão
[parakoloúthēsis, παρακολούθησις] e para um modo de vida em harmonia com
a natureza. Assim, cuidai para não virdes a morrer sem serdes espectadores
dessas coisas. (Epicteto. Diatribes, I, 6: 19-22;
trad. Aldo. Dinucci)”
A isso, acrescento uma
leve digressão:
“Quando um jovem está
próximo de perder a vida, ele censura os deuses porque está sendo levado fora
da hora. Quando um velho não finda a vida também censura os deuses porque, já
estando na hora de morrer, tem problemas. Entretanto, quando a morte se
aproxima, deseja viver e manda chamar o médico e lhe roga para não dispensar o
zelo e o cuidado. “Que homens espantosos”, dizia Epicteto,
“que não querem viver nem morrer”. (ESTOBEU. Florilegium.
IV. 53, 30. In: Viva Vox. Mnemosyne. Epicteto: testemunhos e
fragmentos).
Ademais, por quê postar as coisas que lemos e relemos?
Talvez, só por nos mantermos
firmes e convictos de que há coisas boas a se fazer ainda. Não é de todo ruim o
mundo (conquanto seja de "provas e expiações"). A considerarmos,
antes e acima de tudo um certo grau de "Praemeditatio Mallorum",
podemos sim almejar coisas verdadeiramente nobres. Isso nos imuniza, em grande
medida, de culpar os outros ou o Mundo por qualquer coisa que não fazemos
melhor.
"Memento Vivere"
Sempre lendo e relendo, portanto!
______.
PS: O cinismo (κυνισμός, em Latim, cinicus) foi uma corrente filosófica fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates. Era praticada pelos cínicos: Κυνικοί, em latim: Cynici). Para estes filósofos cínicos, o verdadeito objetivo da vida seria buscar sempre a Virtude, em associação com a natureza. Bem próximo, nesse sentido, como defendiam os estoicos.
Surgido no séc. V a.C. tem
como representante também, o filósofo Diógenes de Sinope. Entre seus princípios estão: a autarkeia, que pode ser entendida como: autossuficiência
e, como os estoicos, a apatheia, atitude tomada perante as vicissitudes da Vida.
______.
ÁRIO DÍDIMO. Epitome
of stoic ethics. Tradução de Arthur J. Pomeroy. Atlanta: Society of
Biblical Literature, 1999.
ARISTÓTELES. Ética
a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987 (col. Os Pensadores).
______. Ethica
Nicomachea - III 9 - IV 15: As virtudes morais. Trad. Marco
Zingano. São Paulo: Odysseus Editora, 2019.
COELHO, Humberto
Schubert. Genealogia do Espírito. Brasília, DF: 2012.
______. Filosofia
perene: o modo espiritualista de pensar. São Paulo: Ed. Didier,
2014.
DESCARTES, René. As
paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
EPICTÉTE. Entretiens. Livre
I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Trad.
Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de Epicteto. Trad.
Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).
______. Testemunhos
e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão:
EdiUFS, 2008.
______. The Discourses
of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad.
Oldfather. Harvard: Loeb, 1928. https://www.loebclassics.com/
ESTOBEU. Florilegium. v.
I e II. Ed. Augustus Meineke. Lipsiae: Taubner, 1855.
LONG, A. Arius
Didymus and the exposition of stoic ethics. In: FORTENBAUGH, W.
W. (Ed.). On stoic and Peripatetic ethics: the work of Arius Didymus. London: Transaction,
1983. p. 190-201.
MEINEKE, A. Zu
Stobaeus. Zeitschrift für Gymnasialwesen, v. 13, p. 363-365, 1859. MACINTYRE,
Alasdair. Depois da virtude: um estudo sobre teoria moral. Campinas,
SP: Vide Editorial, 2021.
MARCO AURÉLIO. Meditações. São
Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1).
MASSI, C. D. As leis
naturais e a verdadeira felicidade. Curitiba: Kardec Books, 2020.
______. Espírito
e matéria: diálogos filosóficos sobre as causas primeiras. Curitiba: Kardec
Books, 2020.
NUSSBAUM, Martha C. A
fragilidade da bondade: fortuna e ética na tragédia e na
filosofia grega. São Paulo, Martins Fontes, 2009.
PLATÃO. Laches. Protagoras. Meno.
Euthydemus. Tradução de W. R. M. Lamb. Harvard: https://www.loebclassics.com, 1924.
SÊNECA. Cartas a
Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.
CÍCERO. On ends (The Finibus). Tradução de H. Rackham. Harvard: https://www.loebclassics.com, 1914.